10 de set. de 2007

Carta testamento de Getulio Vargas

Por Francisco Marcos, cientista político
"Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam; e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo.
A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a Justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios.
Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás, mal começa esta a funcionar a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o povo seja independente.
Assumi o governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo e renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser o meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater a vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação.
Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com perdão. E aos que pensam que me derrotam respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo, de quem fui escravo, não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue terá o preço do seu resgate.
Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história."
Tenho um sentimento de revolta quando boquirrotos tentam traçar paralelos de sua própria atuação com a do idoso caudilho da fronteira. Estes déspotas não esclarecidos e incultos, sabujos de interesses inconfessáveis devem lavar muito bem a boca, com água, ao citarem Getúlio Vargas. Com ele podemos afirmar que existe o pré e o pós Vargas. Saindo de um país agrário para um país de oportunidade e com um projeto, não só de poder, mas de vida. A expressão "mar de lama" é do próprio Gegê, seu apelido no meio artístico. O coronel Adil é quem presenciou tal assertiva. “Tomando conhecimento da apreensão do arquivo particular de Gregório Fortunato “O Anjo Negro” e de seu conteúdo, o próprio coronel Adil relata:” À proporção que eu ia desfilando uma série de fatos que eu considerava muito graves, ia crescendo seu acabrunhamento... enquanto eu ia narrando o que sabia, ele me intercalava com eclamações, como: é de estarrecer; é de pasmar; é um verdadeiro mar de lama. A depressão aumentava à proporção que ia conhecendo maiores detalhes." Os petebistas atuais jamais se manifestam sobre Vargas, lembrado muito de leve quando das campanhas eleitorais. Estou à procura de algum descendente de Vargas que esteja milionário.
Enquanto isto, hoje temos garotos prodígios que freqüentam a lista de Forbes com 900 milhões de reais, em menos de cinco anos. Tudo mudou e mudou para pior, antes tínhamos pobres e hoje temos miseráveis, que tiram seu sustento e alimentação do lixo. Os com mais sorte estão na bolsa esmola, os portos-vivo que votam.
"Deixem Gegê em paz"

Um comentário:

Anônimo disse...

Bem, é a carta datilografada. Tem a manuscrita, exposta no RJ. Por razões de fidelidade à notícia, mantida pelo Blog, ainda que irreverente em alguns instantes (é o estilo de cada jornalista e recebe o melhor respeito), seria interessante divulgar em itálico, abaixo do tópico, a preciosidade que foi escrita de próprio punho.