14 de set. de 2007

Os peixes da república

Por Ralph J. Hofmann

Proponho aqui que até novas considerações os membros do legislativo brasileiro sejam conhecidos por Lúcios.
Isto à primeira vista não faz nenhum sentido. Por que Lúcio?
Mas há bons motivos. Primeiro há as Catilinárias: “Até quando, Lúcio Catilina abusarás de nossa paciência?”.
Vejam abaixo como isto se passa em Roma, vejam o contexto da fala do Cônsul Cícero: “Andavam muito confusas as coisas em Roma, legalidade e ilegalidade, senadores e bandidos políticos, o saudável e o doente, a pátria e seus traidores, os bons e os malvados pareciam andar juntos, misturados. Era a hora de por um fim naquele caos e naquele conúbio entre a moralidade e a imoralidade, de por as coisas no seu devido lugar. O conspirador, se solto e fora da cidade, como um imã, atrairia para si os pérfidos e os malfeitores, os parricidas e os latrocidas, enquanto a República teria como seu escudo os cidadãos honestos e íntegros. Tudo então se acertaria: os bons contra os maus. A República estaria salva e o senado recomposto. O motor da conjura banido ou morto”.
Mas há mais um contexto pedindo tal apelido. O Lúcio é um voraz e agressivo peixe de água doce. Um “trairão”. Nossos filhos ao pressentirem um traidor nos seus folguedos o chamam de “traíra”. A traíra como a maioria dos peixes de água doce é escorregadia, difícil de pegar, difícil de fixar num lugar. Lisa. Além disto, todos os anos, na páscoa, no interior de Santa Catarina esvaziam os açudes, salvam as tilápias e abatem as traíras. Mas inevitavelmente o ano seguinte há novamente traíras no açude. Elas sempre voltam. São verdadeira infestação.
Há alguma dúvida sobre os Lúcios que infestam as águas de nosso legislativo? Como dizia Cícero, misturados “o saudável e o doente, a pátria e seus traidores”“A República estaria salva e o senado recomposto. O motor da conjura banido ou morto”.

2 comentários:

ma gu disse...

Alô, Hofmann

Inspirado pela musa Mnema (ligada à memória), achastes o símile perfeito para esta nossa época sombria. Até o nome é muito parecido, Luiz.

Ralph J. Hofmann disse...

Magu

Roma e a Grécia viram tudo que nós já vimos. A Grécia foi derrotada mas absorveu culturalmente seus invasores. Já Roma foi destruida pela queda justamente da moral e da ética.