"... a hipocrisia dominante, machista, funciona sempre contra asmulheres. Quando convém, mulher é um bom negócio para os políticos homens na hora de vender a própria candidatura ao eleitorado..."
O trecho é do artigo do jornalista Pedro Pinto sobre a hipocrisia de que há igualdade entre os sexos. Leia o texto abaixo.
Eles não gostam de mulher
Por Pedro Pinto no pnb
Machismo ou conveniência política? Ou ambos? Na política de Mato Grosso, os homens usam e abusam politicamente das mulheres de acordo com os interesses de momento. Vejamos alguns exemplos recentes:
Em 2002, Iraci França foi apresentada assim como candidata a vice-governadora junto com Blairo Maggi: mulher com um grande trabalho na área social, uma força eleitoral da Baixada Cuiabana, esposa do prefeito da Capital Roberto França e pronta para arrebanhar os votos femininos identificados com o prestígio conferido.
Em 2006, ele despejou dona Iraci França sumariamente. Ela virou ex-vice governadora. Blairo trocou-a pelo então deputado estadual Silval Barbosa, do PMDB, uma liderança do Nortão. A conveniência era outra. Não interessava mais o sexo do vice. Sem medo das mulheres, Blairo de uma tacada só fez uma composição que atendeu o deputado José Riva e engessou o PMDB de Carlos Bezerra. Aliás, Blairo, depois da soja, é o novo “Rei do Gesso”, como já afirmou o jornalista Mário Marques. Blairo adora engessar “aliados” e adversários.
Em 2004, Jacy Proença foi apresentada assim como candidata a vice-prefeita de Cuiabá: mulher, negra, de origem humilde, professora como o candidato a prefeito, Wilson Santos.
Em 2007, Jacy já foi. Para espaço. Não será mais candidata a vice-prefeita numa “eventual” candidatura à reeleição de Wilson Santos. O favorito é um nome do PMDB - olha aí o cacique Carlos Bezerra de novo nestas idas e vindas de homens e mulheres candidatas, mas agora sem “gesso” – o deputado estadual Guilherme Maluf. Como será apresentado? Homem, branco, de origem abastada, médico, pronto, ele sim, para ser prefeito se Wilson Santos, reeleito, decidir pela candidatura ao governo de Mato Grosso?
A questão às vezes é partidária e doméstica. Não podia faltar o exemplo do próprio deputado federal Carlos Bezerra. A sua esposa, Teté Bezerra foi deputada federal enquanto ele quis. Na necessidade da vaga na Câmara para Bezerra, Teté voltou para o lar.
Em 2002, muita gente boa do PSDB queria ver pelas costa a candidatura de Thelma de Oliveira à Câmara Federal. Porque era mulher e esposa do então governador Dante de Oliveira. Argumento curto e grosso. E machista. Thelma passou por cima e ganhou a parada.
Em 2002, a então deputada estadual Serys Marly foi apresentada assim: mulher coragem, denunciava tudo e todos que via pela frente, mãe, esposa e companheira das trabalhadoras mato-grossenses. Em 2007, o “fogo amigo” dos companheiros do PT atira contra a senadora Serys. Aloprados e companhia querem vê-la longe do controle do partido. A “morte anunciada” da sua candidatura à reeleição ao Senado já é conhecida por todas as estrelas do PT. Sai a mulher e entra um homem: Carlos Abicalil.
Em 2006, a economista e articulista Adriana Vandoni, na discussão dentro do PSDB, foi apresentada assim, pelos que defendiam sua candidatura ao governo ou a ou Senado: mulher, corajosa, preparada e um nome novo. A direção vetou a sua indicação, uma história já contada pela própria Adriana em um dos brilhantes artigos.
Pelo o que pude acompanhar neste episódio, alguns tucanos de “alta plumagem” não acreditaram que uma mulher pudesse ser mesmo tão corajosa. Mais um preconceito machista.
Na verdade, todos estes embates são políticos, sem sexo. Mas a hipocrisia dominante, machista, funciona sempre contra as mulheres. Quando convém, mulher é um bom negócio para os políticos homens na hora de vender a própria candidatura ao eleitorado. Quando a questão é colocada de forma irrelevante, nos bastidores da política, o fato de ser mulher não vale nada. Conta contra, sempre.

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