19 de nov. de 2007

Barter

por Ralph J. Hofmann

O melhor negócio do mundo é comprar um argentino pelo que ele vale e revender pelo que ele pensa que vale. (Ditado popular gaúcho).

Nosso caro colega Francisco Marcos chama a minha atenção para a proposta de que as transações monetárias sejam descartadas e que passemos a usar “barter”. Cita uma proposta de Ernesto Sabato há anos atrás num congresso em Bogotá e cita Cristina Kirchner na semana passada.
O “barter”, escambo nunca acabou. Simplesmente é monetarizado para fins de referência. Há empresas especializadas em promover barter. O problema está em definir o que as coisas valem e o que podemos fazer com elas. Se eu produzir aspersores agrícolas e um produto de maçã argentino quiser comprar meus equipamentos proporá me entregar maçãs. A questão é que eu não tenho estrutura para vender maçãs. Meus clientes no Brasil produzem maçãs donde poderei entrar em choque com eles se criar uma divisão de vendas de maçãs. Ou então terei de aceitar maçãs de meus clientes nacionais. Estarei me desviando do meu negócio núcleo, terei de comparar câmaras frias para armazenar, terei toda uma estrutura diferenciada. Meu fornecedor de eixos ou máquinas de dobrar por sua vez, dificilmente aceitará maçãs como pagamento.
Naturalmente as negociações em bolsas de mercadorias e futuros eliminaram este problema. A pessoa vende estoques em silos, ou certificados de depósito (warrants) em armazéns e faz dinheiro. Qual a parte que faz isto é questão de negociação, mas é óbvio que aquele que planta maçãs tem mais habilidade em vende-las do que um fabricante de máquinas.
Quando uma empresa contrata um especialista em barter para aceitar as maçãs e as máquinas para transferir aos interessados evidentemente esta evidentemente não deixa de cobrar um ágio. Aparece na transação um custo que não havia antes.
É claro que o que Cristina Kirchner visualiza é um acordo de barter a nível de governo. E isto abre uma porta para a ineficácia do governo. Os interesses de um país em acomodar o vizinho podem acabar criar um concorrente para os produtores nacionais.
Portanto precisa-se entender que o que deve existir é algum dispositivo de preços de referência para acomodar o barter. Ou seja, devem ser eleitas cotações de bolsa, preços publicados e outras referências para o barter. As empresas devem tratar com outras empresas e criar meios para o viabilizar um objetivo dentro do barter.
O barter a nível de governo no Brasil já levou à infame compra de Cuba de US$ 100 milhões em vacinas ineficazes contra o tipo de meningite endêmico no Brasil.. O governo Sarney insistiu com os empresários que abrissem o mercado cubano. Os empresários descobriram a meio caminho que a única garantia era do Banco de Cuba devia para empresas da Espanha a Argentina e muitos outros países. Como as empresas brasileiras se recusaram a embarcar em canoa furada o governo acabou comprando as cambiais das indústrias e dois anos depois comprou placebos cubanos contra a meningite. As contas fecharam. Mas o Brasil deu US$ 100 milhões a Cuba.

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