Da nossa chegada no Brasil em 1948 até o fim da década de cinqüenta assisti um desfile trágico. De repente, ao anoitecer batiam à nossa porta naquela Caxias do Sul de 20-30.000 habitantes. Aparecia um homem, um homem e uma mulher, às vezes acompanhados de uma criança.
Às vezes até tinham algum dinheiro, outras vezes precisavam de alguma coisa, mas via-se que estavam à procura de um pedaço de seu passado.
Eram os sobreviventes. Por vezes sobreviventes do holocausto, outras vezes tinham escapado do holocausto para se verem perseguidos ou por ameaças ou não poderem mais se enquadrar em sociedades onde haviam crescido, estudado, casado, para um dia verem a vizinhança lhes virar as costas enquanto eram levados em vagões ferroviários, ou quando saiam a percorrer a Europa a pé, se escondendo de dia e caminhando à noite.
Era normal dizerem que haviam visto o logotipo da indústria que meu pai gerenciava, dois leões estilizados segurando uma chapa de madeira compensada e tinham sentido algo de conhecido naquele símbolo conhecido por toda a Europa como uma empresa de judeus alemães. Perguntavam na rua ou nos hotéis se havia alguém da família na cidade, e eram trazidos à nossa casa.
Ocasionalmente precisavam de uma passagem para ir adiante para algum lugar onde os esperava um emprego, mas nossa casa, com algumas relíquias das casas de seus pais que haviam levado em 1935 consigo para o exílio, com crianças falando vários idiomas, com uma série de nuanças familiares, apesar de meus pais de forma alguma serem arraigados a velhos costumes judeus, com uma conversa simples não altamente intelectualizada sobre aspectos culturais que teriam sido ouvidas antes de 1933 numa residência judia na Alemanha representava algo que eles haviam perdido.
Muitos desses andarilhos após anos se comunicavam conosco. Haviam conseguido construir seu espaço em algum lugar. Mas muitos jamais conseguiram para num lugar só.
Após os levantes na Hungria em 1956 e a Primavera de Praga houve um novo breve surto dessas pessoas. Os húngaros mais judiados que os tchecos pois em 1968 o mundo já estava mais preparado para receber estes imigrantes, afora o fato de que não tinham mergulhado até o fundo do poço dos campos de extermínio.
Neste momento em Darfur há populações inteiras fugindo das balas, correndo para os campos minados. E não há o que se fazer. Se uma potência invadir e desarmar os exércitos particulares fica sendo conhecida como abusiva. Se mandar alimentos estes são desviados para quem tiver mais força. Médecins sans Frontières, ONU, Cruz vermelhas todos viraram representantes dos cruzados na retórica de quem os prende ou sequestra.
E por que estou lembrando isto hoje?
Porque temos um vizinho ao norte se armando e bravateando. Para manter a dignidade de seu país diz ele. Para que os americanos não o invadam diz ele.
Cutuca a Guyana, cutuca o Suriname, une-se às FARC na Colômbia.
Breve, breve vamos ouvir a palavra “Lebensraum”. Hitler dizia que tinha de encontrar o “lebensraum”, espaço para viver dos alemães. Depois de armar seu país não havia como evitar a tentação de usar o exército que se preparava desde as últimas salvas de canhão de 1918.
O homem forte da Venezuela é um bufão. Mas Mussolini também era. Não atacou a Europa. Atacou ao Sul, a Etiópia. E ao sul da Venezuela estamos nós. E nosso governo não é confiável em relação à Bolívia e Venezuela.
E lembrem deste carnavalito que se canta há quase um século na Bolívia:
Ocasionalmente precisavam de uma passagem para ir adiante para algum lugar onde os esperava um emprego, mas nossa casa, com algumas relíquias das casas de seus pais que haviam levado em 1935 consigo para o exílio, com crianças falando vários idiomas, com uma série de nuanças familiares, apesar de meus pais de forma alguma serem arraigados a velhos costumes judeus, com uma conversa simples não altamente intelectualizada sobre aspectos culturais que teriam sido ouvidas antes de 1933 numa residência judia na Alemanha representava algo que eles haviam perdido.
Muitos desses andarilhos após anos se comunicavam conosco. Haviam conseguido construir seu espaço em algum lugar. Mas muitos jamais conseguiram para num lugar só.
Após os levantes na Hungria em 1956 e a Primavera de Praga houve um novo breve surto dessas pessoas. Os húngaros mais judiados que os tchecos pois em 1968 o mundo já estava mais preparado para receber estes imigrantes, afora o fato de que não tinham mergulhado até o fundo do poço dos campos de extermínio.
Neste momento em Darfur há populações inteiras fugindo das balas, correndo para os campos minados. E não há o que se fazer. Se uma potência invadir e desarmar os exércitos particulares fica sendo conhecida como abusiva. Se mandar alimentos estes são desviados para quem tiver mais força. Médecins sans Frontières, ONU, Cruz vermelhas todos viraram representantes dos cruzados na retórica de quem os prende ou sequestra.
E por que estou lembrando isto hoje?
Porque temos um vizinho ao norte se armando e bravateando. Para manter a dignidade de seu país diz ele. Para que os americanos não o invadam diz ele.
Cutuca a Guyana, cutuca o Suriname, une-se às FARC na Colômbia.
Breve, breve vamos ouvir a palavra “Lebensraum”. Hitler dizia que tinha de encontrar o “lebensraum”, espaço para viver dos alemães. Depois de armar seu país não havia como evitar a tentação de usar o exército que se preparava desde as últimas salvas de canhão de 1918.
O homem forte da Venezuela é um bufão. Mas Mussolini também era. Não atacou a Europa. Atacou ao Sul, a Etiópia. E ao sul da Venezuela estamos nós. E nosso governo não é confiável em relação à Bolívia e Venezuela.
E lembrem deste carnavalito que se canta há quase um século na Bolívia:
“Por la razón o la fuerza;
Bolivia tendrá su mar”
Ou seja, o Chile e o Peru que se cuidem se o Big Brother from Caracas decidir ajudar o Cacique.Bolivia tendrá su mar”
4 comentários:
Quase tudo a ver...
Na verdade... no fundo, no fundo hitler era um socialista!
Nazi era um encurtamento de DeutscheNazionalsocialistische Partei
Ou seja partido socialista alemão. Mas antes de tudo era um sujeito que queria vicer uma Saga Nórdica.
Não por nada Wagner era o compositor favorito.
Logo depois da Guerra os aliados levaram tempo para liberar a Paixão de Oberrammergau. Os psicólogos viram que os alemães queriam é viver numa saga. Ser Deuses.
Alô, Ralph.
Enquanto lia seu arrazoado, cheguei a pensar se você estava tendo um ataque de PES (percepção extra-sensorial), em relação ao nosso futuro, pelo que nosso governo vem mostrando.
Tal pensamento reforçou-se quando lí sua nova intervenção aqui nos comentários, ao me lembrar que o MST está absolutamente livre para fazer o que quiser, e procura seu 'lebensraum'.
Não é verdade que a História se repete?
Não é por saudosismo que estou citando fatos históricos.
É porque eu sou vacinado desde pequeno contra esta turma por causa da similaridade deles com os regimes fascistas e comunistas de que ouvi falar em casa.
Os parentes socialistas da minha mãe, um dos quais grande teórico respeitadíssimo, cuidadosamente evitaram viver em qualquer lugar da Europa Oriental.
A maioria dos que eram socialistas e permaneceram na Europa Oriental acabou no Gulag.
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