19 de nov. de 2007

Condenação ou ostracismo?

Por Chico Bruno

O relatório do senador Jefferson Péres, aprovado no Conselho de Ética pedindo a cassação do alagoano, e a proximidade da votação desta decisão em plenário, trouxe de volta as páginas dos jornais o Caso Renan.
O Correio Braziliense aposta que a “renúncia à Presidência agora é moeda de troca”, ao fazer a ilação que “Renan usa negociações em torno da CPMF para tentar preservar o mandato”. O Correio vai direto ao ponto: “com ajuda do Planalto, [Renan] espera ser absolvido no plenário”.
Já o Estadão, em editorial, sugere que o Senado faça a sua parte, já que o relator Jefferson Péres afirma que fez a parte dele e espera que o Senado faça a sua.
O Estadão, ainda, levanta a suspeita que “Renan acerta com Planalto renúncia à presidência, com a participação ativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva”. O jornal informa que “o Palácio do Planalto fechou na quarta-feira um acordo para criar o que considera ser o clima político ideal para salvar o mandato do aliado e ex-presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) e, ao mesmo tempo, aprovar a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) até 2011. Pelo acordo, Renan considera “fato consumado” a renúncia à presidência do Senado, o PMDB dá o maior número possível de votos para salvar o mandato do ex-presidente do Senado e ajudar na prorrogação da CPMF, e a bancada do PT, com 12 senadores, aproveita que o voto é secreto para também descarregar a maioria dos votos a favor de Renan”.
A Folha de São Paulo persegue a mesma linha de raciocínio e informa que “o presidente licenciado do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), espera receber uma garantia do governo Lula de que os senadores petistas votarão em seu favor, na próxima quinta-feira, quando o plenário da Casa analisará o pedido de cassação do senador por quebra de decoro no caso de sociedade em rádios de Alagoas”.
A combativa Tribuna da Imprensa é irônica ao titular “E todos teriam feliz ano novo!”, batendo na mesma tecla ao escrever “Renan Calheiros pediria nova licença, não seria cassado e CPMF seria prorrogada”.
A Tribuna revela que “apesar de o governo e o PMDB terem articulado um acordo para que o presidente licenciado do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), não assuma mais o comando do Senado, a administração federal aconselhou os líderes da base aliada e o chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Walfrido dos Mares Guia, a procurar uma fórmula política que permita votar primeiro a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) e só depois deflagrar a escolha do nome peemedebista que ocupará o lugar do presidente interino da Casa, Tião Viana (PT-AC). Como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não quer que os dois processos corram em paralelo, é possível que Renan ainda renove o prazo de 45 dias da licença da Presidência, que expira no dia 26”.
O jornal O Globo também, aposta no acordo e dá a dica no título “Planalto orienta bancada do PT a ajudar Renan”. Na matéria diz que “a bancada do PT no Senado já está ciente da orientação do Palácio do Planalto para que os petistas ajudem o presidente licenciado do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a escapar da cassação, no novo julgamento a que ele será submetido no plenário, na próxima semana. O PT não fechará questão em favor de Renan, mas deve garantir a maior parte dos 12 votos da bancada”.
O Globo revela, ainda, uma confidência presidencial ao afirmar que “em recente conversa com o presidente em exercício do Senado, Tião Viana (PT-AC), o presidente Lula perguntou como estava à situação de Renan Calheiros e pediu que o petista tratasse bem o alagoano. Por fim, Lula sentenciou: — O Renan é nosso aliado!
Pelo exposto, a mídia não acredita na cassação de Renan. Ela joga todas as fichas na absolvição do senador. Sua “punição” seria apenas trocar a presidência do Senado pelo mandato. Seria absolvido e ficaria no ostracismo. Seria um novo Jader Barbalho, que renunciou ao mandato de senador, se elegeu deputado e, hoje, opera em prol do governo Lula nos bastidores do Congresso Nacional. Pelo visto, isso parece satisfazer a maioria dos senadores, tanto do governo como da oposição.
A mídia é unânime na informação que o Caso Renan se transformou em moeda de troca para a aprovação da CPMF. Mas vale lembrar, a preocupação de Lula e dos petistas com a falta de palavra de Renan, haja vista, que ele não cumpriu o acordo de renunciar à presidência do Senado logo após a primeira absolvição. Só depois de muita cobrança Renan concordou em se licenciar do cargo.
Esse antecedente deixa o presidente Lula inseguro e demonstra que Lula está nas mãos de Renan e vice-versa. A situação é similar ao pôquer, pois os dois podem estar blefando.
Enquanto isso, a oposição acompanha os movimentos de Renan e de Lula, sabendo de antemão que precisa de Renan para derrubar a CPMF e do PT para cassar Renan. Por isso, a oposição se sente em uma sinuca de bico, em que a única jogada possível é aproveitar que a sessão é aberta e constranger os governistas a expor seus votos.
Nessa queda de braço tudo é possível, por isso a sessão de quinta-feira (22) é imperdível.

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