2 de nov. de 2007

Montou a cavalo num porco

Se há rivalidade entre moradores de estados vizinhos, imagine-se como deve ser esta quando se trata de uma fronteira internacional? Nos anos 1960, em Rondônia, tudo que não prestasse era atribuída aos bolivianos: o impotente, o marido enganado, o indivíduo de pouca inteligência.
O país de fato era muito atrasado com relação ao Brasil, cheguei a ver soldados de uniforme caqui, mas descalços. A riqueza do país vinha, como até hoje, da cocaína e na época da cassiterita (minério de estanho)mas os enormes lucros dessa segunda atividade ficavam nos cofres da família Patiños, donos das minas. Estas exauriram-se, hoje a Bolívia é um grande produtor de gás natural e o Brasil tornou-se dependente desse produto e por conseguinte ameaçado de tornar-se refém dessa necessidade, dependendo do humor do boliviano que esteja no poder. O general Ernesto Geisel, há 30 anos, quando não quis fazer investimentos na Bolívia, já previa essa situação, mas anos depois o Brasil resolveu correr o risco e atualmente sua produção de energia depende do cocalero Evo Morales, que faz e desfaz com a empresas brasileiras sediadas em seu país, como é o caso da Petrobrás. (G.S.)
Escreve sobre o assunto Carlos Chagas.
“Por que a Petrobras, imperialmente, sem prevenir ninguém, cortou em 17% o fornecimento de gás para o eixo Rio-São Paulo? A desculpa foi variada: empresas estavam gastando mais do que o estipulado nos contratos; a seca reduziu a produção de energia hidrelétrica; é preciso garantir a geração das usinas de energia movidas a gás; o sistema de distribuição está prejudicado; as indústrias cresceram muito...
Na verdade, tudo parece supérfluo. Trata-se, a economia de gás, de algo bem mais profundo, ligado à segurança nacional. A causa chama-se Bolívia, principal fornecedora do produto para o Brasil. O presidente Evo Morales vem ameaçando botar a Petrobras para fora de seu território. Dia sim, outro também, fala em aumentar o preço e em reduzir o volume de gás exportado para nós. Até já suprimiu a entrega para Mato Grosso. Pelo jeito, a decisão da Petrobras terá sido uma decisão de governo, acima e além da tecnocracia da empresa.
Em suma, a questão é grave. Não se justifica, por certo, a velha sina de que sempre sofrem os mais fracos. No caso, os motoristas de táxi que converteram seus carros de gasolina para gás, estimulados pelo preço mais baixo. Também não há explicação para a imprevidência da Petrobras, que até há pouco desenvolvia junto às indústrias campanha em favor do uso do gás. Por enquanto, não se fala em cortar nas residências particulares, mas um plano elaborado pelas distribuidoras prevê que escolas e hospitais não sofrerão redução.
Há duas semanas, o presidente Lula aceitou a sugestão de encontrar-se o mais breve possível com seu colega boliviano. Depois, adiou a perspectiva, por conta da crise política verificada do lado de lá, na região de Santa Cruz de La Sierra. Agora, estaria revendo a revisão, admitindo-se que no correr do mês possa viajar a La Paz. A idéia é polir arestas e resolver o contencioso energético.
Indaga-se da possibilidade de a redução agora promovida pela Petrobras determinar mudança nos planos presidenciais. As luzes no semáforo energético nacional mudaram do verde para o vermelho, sem passar pelo amarelo.

Um comentário:

ma gu disse...

Alô, Giulio.

Se começar a faltar gás residencial, talvez os próprios cidadãos brasileiros façam o que o governo (?) do sapo barbudo não faz. Hipoteticamente começar a reter o tráfego comercial boliviano dos portos brasileiros para o país 'hermano', como forma de pressionar o índio a cumprir os acordos internacionais anteriormente firmados, que justificaram a construção dos gasodutos. O fato de termos um presidente 'bundão' não significa que o resto da população o seja.