24 de nov. de 2007

É preciso chutar o pau da barraca

Por Adriana Vandoni

Pra tudo nessa vida existe um limite. O amor e o ódio não são infinitos, um dia o sentimento acaba ou ao menos esmaece. A tolerância com os fatos corriqueiros da vida também é assim. Um belo dia você acorda e pensa: porque ainda não reagi? Porque aceito o que me incomoda sem iniciar uma mudança? Daí você começa a se questionar se merece ou não viver essa situação. E pode estar certo: a culpa é nossa. Nós sempre somos os responsáveis por cada coisa que nos acontece.
O que é preciso fazer para mudar? Infelizmente nada muda por si só. O processo de mudança é inerte, não acontece sem que antes tenhamos chutado o pau da barraca. É preciso iniciar uma revolução, desconstruir para construir algo novo. Não, não uma revolução ao molde dos fascistas, que utilizam a ignorância como massa de manobra, nem tanto, mas uma revolução de conceitos, uma revolução no modo de ver e sentir as coisas, construindo a coragem de defender a verdade dos fatos, sem se intimidar por fascistas travestidos de democratas defensores dos pobres. Sem essa coragem de revolucionar os conceitos, tudo permanecerá como está, e o Brasil, ah, o Brasil, continuará na mão desses neo-burgueses, os burgueses do dinheiro público.
Como é possível calar quando esses fascistas têm a coragem de defender a ideologia que já matou mais de 100 milhões de pessoas pelo mundo afora?, batendo no peito como orgulhosos defensores de genocidas. Como é possível ficar quieto ouvindo suas asneiras como se fossem verdades, intimidados para não sermos taxados de “reacionários” por esses fascistas. Como é possível aceitar declarações do tipo “desviei sim tal recurso, mas não foi para enriquecimento próprio, foi por uma causa”, como se a causa legalizasse o crime. Esses antes “guardiões da ética” agora se lambuzam no dinheiro público pela “causa”. Farsantes!
Não consigo me acomodar com isso. Não tenho dom para viver nem na ignorância, nem na mentira. Por isso, com muito orgulho, reajo contra essas atitudes e me lixo a essas pessoas que me chamam de golpista – não foram poucas. Esses que me chamam assim, estão incutindo na população que reagir é um ato golpista, querendo lembrar a ditadura militar, mas agora são defensores da ditadura militar na Venezuela. Daí a importância de uma revolução de conceitos, só ela será capaz de romper com essa mentira exaustivamente contada.
Sou parte daquelas que, como escreveu Reinaldo Azevedo, faz parte da mídia do contragolpe. Aliás, em seu texto ele mostrou bem que os verdadeiros golpistas são esses cínicos que estão fazendo do roubo uma ideologia, que estão usando a democracia para solapar a democracia e que separam o joio do trigo, mas escolhem o joio. Por fim ele acrescenta que “golpista é defender tiranias e ditaduras”.
Felizmente ainda tenho as minhas palavras para gritar e combater esses atos vis. Mas, e daí?, as vezes me perguntam! Isso não leva a nada! Onde é que você vai chegar com isso tudo, com as denúncias e as batalhas que trava? Onde vou chegar, não sei, mas travo cada uma dessas minhas batalhas com as armas que possuo com o dom que Deus me deu. E faço de tudo para que a inquietação não deixe de me impulsionar a ação. Travo minhas batalhas pelo que acredito, contra o que julgo estar errado. Brigo por uma vida verdadeira e faço isso por acreditar que sempre podemos melhorar, sempre podemos nos superar, ou simplesmente, podemos perseguir uma vida mais plena, feliz e menos hipócrita.
Estou errada? Não acho. Errado é aquele que se acomoda. Aquele que corrompe sua própria vontade por conformismo. É perverso burlar nossas vontades de nós mesmos. Isso quem faz são apenas os covardes, os que se satisfazem com uma vida alicerçada na hipocrisia e no conformismo. Não, isso não é digno. Conformar-se com a ilicitude e com a mentira é o mesmo que acomodar-se na mediocridade.
Medíocres!, digo aos que se conformam. Dos que não vêem ou não querem ver que o bem estar seu e de sua família dependem do seu inconformismo! É, realmente estou de saco cheio. Estou mesmo de saco cheio dos medrosos, daqueles que se conformam com o discurso do “são todos iguais”, e usam isso para justificar sua inércia e sua própria mediocridade. Estou de saco cheio desses que aceitam a mentira por preguiça de mudar, por medo de lutar.
Como começar uma mudança? Só há uma forma: chutando o pau da barraca, e isso quer dizer revolucionar os conceitos e se inconformar.

3 comentários:

Abreu disse...

Obrigado por este belo texto, Adriana.

Ao lê-lo, dada a enorme precisão de suas palavras, terminei por transcrevê-lo no fórum dos ouvintes da Rádio Jovem Pan de São Paulo — onde (sem demérito para a credibilidade do veículo, que apesar de tudo — e exatamente "por isso", perde) a militontância petralha se ajunta e se espalha.

Quem sabe, como bálsamo, seu artigo os faça enxergar a luz!

Abs.,

Unknown disse...

Se vc está do lado do contra golpe a primeira coisa a fazer é sair deste partido de maricas borra botas chamados PSDB. Até hoje tenho ânsia de vômitos quando lembro do Geraldo com boné e jaqueta com logotipos de estatais.

Hj quem é liberal e preza pela ética simplesmente não tem partido que nos represente. DEM? Brincadeira de mau gosto. ACM's, Jaymes Campos e Jonas Pinheiros são tão burgueses do capital alheiro quanto os petralhas. Apenas estão fora do jogo. DEM x PT é briga de Comando Vermelho com Primeiro Comando.

Enquanto esse partido que nos represente não existe só nos resta o caminho da luta independente.

Anônimo disse...

Cara Adriana, esse texto seu é muito fundamental; cheguei a ele por meio do alertatotal.blogspot.com, de Jorge Serrão, do qual sou leitora diária e no qual eventualmente faço algum comentário, se é que se pode comentar um jornalista tão brilhante e lúcido.
Pois bem, em Caraguá, cidade de política corrupta e dominada politicamente pelo deputado estadual Antonio Carlos da Silva, do PSDB, apelidado de AC$ Cabeção, Dr. João Lúcio, criador da Ong Olho Vivo, traçou uma estratégia bem interessante: primeiramente, acionou o Ministério Público contra o nepotismo, o que, você sabe, está revolucionando deliciosamente a política do litoral norte de São Paulo. Em seguida, iniciou uma campanha de cooptação de candidatos a veradores: pessoas indignadas, como nós, que trabalharão, em seus mandatos, conjuntamente com a Ong e o Ministério Público. O partido que ele fundou em Caraguá, acho que PHS, é um nanico que ainda não tem adesão praticamente nem rejeição e por isso pode começar um novo conceito de política na localidade. Legal, né? Abraços.