14 de jan. de 2008

Carnaval de Salvador: Governo investe R$ 60 milhões, mas a receita é pequena

Por Chico Bruno

O Carnaval de Salvador é uma festa eletrizante. Ele difere de todos outros carnavais e virou produto de exportação no decorrer dos 365 dias do ano.
Infelizmente o retorno do alto investimento feito pelo governo da Bahia e a prefeitura de Salvador para os cofres públicos dos seis dias de folia é muito pequeno.
Quem ganha dinheiro com o Carnaval de Salvador são as grandes empresas carnavalescas com seus blocos e camarotes, hotéis, cervejarias e a economia informal (os ambulantes).
A parte investida pela iniciativa privada é muito pequena, perto de R$ 6 milhões contra R$ 25 milhões da prefeitura e R$ 30 milhões do governo estadual.
Apesar de bancar pouco mais de 10% da festa, a iniciativa privada é quem ganha à maior visibilidade na festa, emporcalhando com “banners” os postes nas principais avenidas da cidade.
Esse ano os felizes patrocinadores são o Banco Itaú e o Grupo Schincariol que investiram cada um, com R$ 1,6 milhão, e a Vivo e Ponto Frio com R$ 1 milhão cada. A Petrobras, com a marca Carnaval Sustentável Biodiesel, assinou cota especial de R$ 800 mil.
O jornal A Tarde publicou reportagem sobre o Carnaval de Salvador revelando os números de estudo sobre a festa de 2007, que respondem as perguntas:
“Que volume de dinheiro circula em Salvador em função dos seis dias de festa? Quem ganha mais? A primeira tentativa de medir estas diferenças é a publicação “Carnaval 2007: uma festa de meio bilhão de reais”, resultado de uma parceria entre o governo do estado e prefeitura.”
O estudo revela a predominância da economia informal e ganhos financeiros concentrados em alguns segmentos. A grande revelação são os dados relativos ao ICMS e ao ISS. Eles mostram que o Carnaval gera um impacto mínimo sobre a receita tributária que foi de R$ 5,8 milhões contra um investimento público de R$ 49,1 milhões em 2007.
O estudo desmistificou também a quantidade de turistas que vão ao Carnaval de Salvador, estimado em um milhão de pessoas em anos anteriores. Em 2007, durante os seis dias de folia, a cidade recebeu 420 mil turistas, menos da metade do número divulgado nas festas anteriores.
Para chegar a este dado, ainda segundo A Tarde, “bem mais modesto e, ao que tudo indica mais realista, a Secretaria Estadual de Turismo fez uma pesquisa censitária nos 389 meios de hospedagens de Salvador, e aplicou a definição de turista aceita internacionalmente.”
“Para ser considerado turista, o viajante tem que vir de uma distância superior a 100 km, pernoitar e permanecer pelo menos 24 horas no destino. A partir desta definição, foi feita uma estimativa de ocupação média dos hotéis por três dias e acrescentado os 20%, índice utilizado para calcular o número de pessoas que se hospedam em residências.”
A iniciativa do governo Jaques Wagner, através do secretário de Turismo, Domingos Leonelli, é importante, pois desmistifica o discurso de que o Carnaval de Salvador é maior festa popular do planeta e é a luz para que se repense a festa, onde poucos ganham muito dinheiro, o poder público investe uma fortuna para garantir a infra-estrutura da festa para o povão e este acaba segregado atrás das cordas dos grandes blocos, a espera que uma atração independente entre na passarela para que eles possam se divertir.
Por mais que se negue, a verdade é que no Carnaval de Salvador existem os cidadãos de primeira classe, aqueles que estão protegidos pelas cordas dos blocos, e os de segunda classe, os conhecidos pipocas, que ficam espremidos entre as cordas dos blocos e as calçadas.
Infelizmente essa é a dura realidade da festa.

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