7 de jan. de 2008

Contra a Maré


Remar contra a maré geralmente não leva a lugar nenhum, nem à praia nem a alto-mar. De vez em quando essa prática nos carrega para as profundezas, mas trata-se de uma compulsão, da qual sempre emergimos sem mudar de opinião.
A maioria dos países celebrou o fim de 2007 como tendo sido, aquele ano, excepcional. Assim, disse o presidente Lula. As massas estão felizes com o bolsa família e penduricalhos. As elites exultam com os ganhos estratosféricos da outra bolsa, a de valores, dos bancos e da especulação financeira. A classe média, envolta pela propaganda pública e privada, prefere acreditar nas vendas a prazo e no sonho de uma ascensão tornada impossível pelos abomináveis e enrustidos juros que acompanham essas operações.
Mesmo assim, fica difícil sustentar, mas sustentamos, que não é nada disso. Um ano desses a sociedade acabará percebendo o quanto foi enganada por ela mesma, cada segmento sendo iludido pelos demais. As massas acabarão despertando para o horror de não lhes restar outra opção a não ser continuar morando em favelas e mocambos, eternizando-se nas filas de abomináveis hospitais públicos, recebendo miseráveis salários.
Para as elites, sempre de goela aberta, restará a frustração de perceber haver caminhado para um beco sem saída, desfazendo-se no ar as suas ambições.
Quanto à classe média, a mais iludida, concluirá não ser nem média nem classe, acabando nivelada por baixo. Será o momento em que nós também lamentaremos haver remado contra a maré.

Carlos Chagas

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