22 de jan. de 2008

A falência da política

As aventuras de Lobão e Lobinho ilustram bem as fragilidades do sistema político brasileiro. Aliás, fragilidade é uma palavra fraca. O sistema político brasileiro faliu.
O presidente da República (qualquer um) é eterno refém de um modelo de relacionamento com a classe política, que funciona à base da negociação de varejo.
Pode ser com mensalão ou simplesmente a partir da tradicional “cesta básica” do clientelismo e do fisiologismo: nomeações, empregos, liberação de emendas.
O fato é que este modelo gera uma Presidência que oscila entre a extrema arrogância e auto-suficiência e a extrema submissão. E nenhuma accountability, isto é, nada de prestar contas ao distinto público (os eleitores).
O modelo gera também uma classe política viciada na pequena e na grande mordomia, na pequena e na grande corrupção. E nenhuma accountability, isto é, nada de prestar contas ao distinto público (os eleitores).
Atualmente, como o presidente escolheu José Sarney como seu "cupido", com o objetivo de pacificar suas relações com os senadores, lá se vai Edison Lobão para o ministério das Minas e Energia, sem conhecer rigorosamente nada do assunto.
Enquanto isso, as estatais distribuidoras de energia administradas pela Eletrobrás causaram R$ 3 bilhões de prejuízo ao país em 2007, muito em razão das dificuldades do presidente Lula para nomear logo as diretorias.
Várias estatais estão acéfalas desde a saída de Silas Rondeau do Ministério das Minas e Energia, isto é, desde maio de 2007.
Resultado: apagão gerencial, justo num setor que passa por um momento tão delicado.
No Senado, também brilham as fragilidades do sistema aparecem, na posse do suplente de Lobão, seja ele Lobinho ou o segundo suplente. Mais um senador sem voto vem se juntar a vários outros.
O suplente de senador sempre foi um problema, desde a promulgação da Constituição de 88, mas ficou particularmente agudo com o escândalo que envolveu Renan Calheiros.
Em geral, senadores escolhem para suplente o pai, outros escolhem o filho. Aí seria apenas compadrio, clientelismo.
A coisa fica mais séria quando alguns escolhem como suplente o "Espírito Santo": um empresário, que financia a campanha do titular. Depois o titular se licencia, e o suplente assume, para aprovar ou barrar projetos de seu interesse.
No caso de Lobinho (o talvez ex-futuro senador Edison Lobão Filho), há ainda outra aberração.
Bombardeado por denúncias de uso de laranjas em vários negócios (mais um, meu Deus!), Lobinho pode nem ir ao Conselho de Ética, beneficiado por um entendimento defendido por vários senadores, mas principalmente pelo senador petista Aloísio Mercadante.
Malfeitorias cometidas antes de assumir o mandato não são objeto de processo no Conselho de Ética.
Com isso, Eduardo Azeredo conseguiu escapar a duas representações, ambas se referindo a sua participação no valerioduto mineiro. Mais recentemente, Gim Argello também escapou, no caso das bezerras de ouro que levaram Joaquim Roriz a renunciar à sua cadeira no Senado.
Argello, suplente de Roriz, assumiu tranqüilamente o mandato.
Nada indica que no caso de Lobinho vá ser diferente.
Atualização das 17:51 - Lobão tomou posse há pouco do cargo de ministro das Minas e Energia. Não discursou. Lula falou qualquer coisa - nada de relevante. Foi aplaudido por Dilma Rousseff, ministra Chefe da Casa Civil, e mais seis senadores de um total de 19 senadores do PMDB.
O senador José Sarney (PMDB-AP), que indicou Lobão para o cargo, não compareceu. Está ocupado no Maranhão. Lobinho, o filho enrolado do novo ministro, foi aconselhado pela família a ficar longe da posse. Está nos Estados Unidos.
O PMDB ganhará mais um senador caso Lobinho, filiado ao DEM, não assuma a vaga do pai. É suplente dele. O segundo suplente é do PMDB.

Por Lucia Hippolito

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