14 de jan. de 2008

Já começou mal no senado

Dizem que os lobos enxergam coisas que escapam ao olhar dos seres humanos. O senador Edison Lobão, do PMDB do Maranhão, já tingiu os cabelos e comprou ternos novos para sua posse no Ministério de Minas e Energia. Edison Lobão Filho (foto), suplente do senador, também reforçou o guarda-roupa para assumir a cadeira do pai em Brasília.
Lobão pai está na política há trinta anos, nunca se envolveu em escândalos e escolheu sempre estar alinhado com os governos, sejam quais forem. Lobão Filho é um estreante. É experiente e astuto como o pai, mas suas habilidades mais conhecidas, por enquanto, concentram-se no mundo dos negócios. Nesse campo ele, sem dúvida, enxerga longe. Em 1999, antes de se candidatar à suplência do pai, Lobão Filho foi advertido de que não era recomendável migrar para o mundo político com dívidas milionárias em bancos públicos e impostos atrasados. Dono de uma distribuidora de bebidas, ele resolveu o problema transferindo suas cotas na empresa para outra pessoa – mais precisamente, para uma empregada doméstica, que só descobriu que tinha se transformado em empresária endividada e sonegadora de impostos quando a polícia e a Receita Federal bateram à sua porta. Para fugir das dívidas e limpar o nome, o futuro senador lobinho usou a doméstica como laranja.
Há dois anos, Maria Lúcia Martins, a doméstica, tomou um susto quando foi intimada a prestar esclarecimentos sobre sua vida empresarial. Só a bancos, a empresa dela devia 5,5 milhões de reais. Ela se viu confrontada com extratos de suas contas que revelavam uma intensa e milionária movimentação bancária. Tudo em seu nome. Suas declarações de renda também confirmavam que, embora endividada, ela era uma empresária atuante. "Fiquei muito assustada, moço", disse a VEJA Maria Lúcia, uma cearense de 40 anos, que trabalha em São Luís, no Maranhão. "Só depois é que fui entender que o negócio não era comigo." Não era mesmo. Maria Lúcia ganha 380 reais por mês, não tem conta bancária e nunca declarou imposto de renda. As investigações feitas pela Receita mostraram que ela foi usada para ocultar uma série de transações irregulares feitas pelos verdadeiros donos da empresa, entre eles o futuro senador Edison Lobão Filho – que desde então é investigado por sonegação fiscal, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e estelionato.
Procurado por VEJA, o futuro senador admitiu tranqüilamente o ardil. Mostrou-se até arrependido por ter usado a doméstica para se esconder da Receita e da Polícia Federal. "Se eu pudesse voltar atrás, diria para não botar minha participação por meio de laranjas", diz.

Leia a matéria no Congresso em Foco.

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