12 de jan. de 2008

O homem do pijama vermelho

Por Ralph J. Hofmann

Antes de qualquer coisa quero compartilhar com os leitores uma lembrança que vem à tona cada vez que vejo o Hugo Chavez vestindo seus uniformes com camisetas e camisas vermelhas.
Em 1923 meu pai tinha 12 para 13 anos e queria comprar uma bicicleta. Era na Alemanha em Offenburgo, Estado de Bad Wuertemberg. A região estava sob ocupação francesa, a polícia e outras instituições locais respondiam às autoridades ocupantes.
Não chegava a ser uma situação estressante, ao menos não na memória do meu pai, mas veio a causar alguns problemas.
Umas das formas de ganhar dinheiro para a compra da bicicleta encontrada por meu pai foi negociar selos que recebia de parentes que haviam emigrado para os Estados Unidos.
Trocando correspondência com o irmão dele, dez anos mais velho, que fora trabalhar em Berlim contou isto a ele. O meu tio, que viajava muito pelo seu trabalho, então passou a mandar-lhe cédulas de dinheiro para vender a colecionadores. Com a alta inflação muitos estados da Alemanha estavam imprimindo suas próprias notas, pois não havia maneira de distribuir as cédulas com rapidez suficiente. Cada estado tinha seu desenho próprio. O pai levava as cédulas à tabacaria local, que também vendia moedas e selos e as entregava em consignação ao dono da tabacaria. Quando as cédulas sumiam da vitrine meu pai ia buscar a sua parte do negócio.
Um dia, vendo que não havia mais cédulas entrou na tabacaria e comentou que devia haver dinheiro para ele, pois a vitrine estava vazia. Soube então que a polícia havia retirado as cédulas e levado, e esperava o meu pai para esclarecimentos.
Acompanhado de um adulto, meu pai foi à chefatura de polícia e ouviu poucas e boas. Acontece que certas cédulas mostravam oficiais franceses caricatos vestindo suas túnicas e quepes sobre pijamas vermelhos. Claro que a administração militar francesa não ficara nada satisfeita.
Assim me parece o Chavez. Um sujeito que veste a túnica sobre o pijama vermelho. C’est pas um président serieux. Não é um presidente sério. É um palhaço, um palhaço perigoso, mas um palhaço.
A mais recente palhaçada evidentemente foi a dos reféns. Uma tragicomédia. Cria um factóide da libertação dos reféns, em que a principal refém não foi nem mencionada ou resgatada. Glosa o fato de que a Venezuela tem servido de refúgio e ponto de apoio destes facínoras, e ignora o fato da desumanidade do longo cativeiro de pessoas que nada mais faziam do que exercer seus direitos de cidadania.
Um fato relevante seria o Chavez conseguir libertar todos os reféns. Um fato relevante seria o Chavez conseguir que as FARC renunciassem ao expediente de seqüestrar pessoas e escudar-se com elas.
Chavez não negociou a libertação de prisioneiros. Negociou um factóide que lhe permitisse intitular-se de generalíssimo magnânimo, no que, por ocasião da primeira tentativa de regate, foi quase torpedeado pelos seus companheiros facínoras a quem os gestos pomposos de Chavez também devem a esta altura estar irritando.
A Chavez eu lembro o velho ditado: “Quem se deita com cães pode acordar com pulgas”. Talvez ele deva procurar melhores companhias para seu sono restaurador.

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