"Tenho tido muitos acusadores, há longos anos que me atacam. A esses receios mais do que outros de agora. Pois começaram a caluniar-me quando ainda éreis crianças e implantaram em vossos espíritos suas invenções, falando de minha pessoa como um sábio que tinha a habilidade de provar a justiça nas causas injustas.
Eis os acusadores que temos: foram eles que insinuaram rumores e os que lhes dão ouvidos estão sempre prontos a imaginar que os estudiosos deste tipo não acreditam nos ideais. Muitos são eles, e suas denúncias contra mim vêm de longa data. Lançaram-nas no período mais impressionável de vossas vidas, talvez na mocidade, e a causa correu à revelia, pois não havia ninguém para responder. E o mais duro é que ignoro o nome de tais indivíduos, à exceção de um único - um certo poeta cômico. Aqui tendes a origem da acusação. (...)
"Estranha seria a minha conduta, ó homens, se eu que permaneci enfrentando a morte no posto que me deram, hoje, convicto de que Deus me impõe a missão e me ordena que investigue meu próprio íntimo e o dos outros homens, desertasse, premido pelo medo. Se me dissésseis: por esta vez dar-te-emos a liberdade, mas sob uma condição, a de abandonardes o teu sistema, eu responderia: homens, eu vos honro e vos amo, mas prefiro obedecer as ordens do ideal, e enquanto me restar vida e força, jamais deixarei de seguir e pregar, exortando ao meu modo todo aquele que cruzar o meu caminho. Ó, meu amigo, como é possível que sendo como és, cidadão, tanto te preocupes em acumular a maior soma de dinheiro, de honra e de reputação, e te mostres indiferente diante da sabedoria e da verdade?
E agora, ó homens, digo-vos que deveis fazer o que pedem: condenai-me ou absolvei-me, mas qualquer que seja a vossa sentença, lembrai-vos de que nada alterará minha conduta, nem mesmo que eu tenha que ser condenado muitas vezes. (...)
Leia a matéria de Carlos Chagas na Tribuna da Imprensa online
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