12 de jan. de 2008

Por que Não Fica Calado


Além dos ministros o presidente também tem o horrível vício de dizer besteiras como mandaria o rei de Espanha: por que não ficas calado?
Deveria o presidente Lula criar no mais breve espaço de tempo possível o Ministério do Silêncio. No caso, uma estrutura encarregada de calar ministros e altos funcionários do governo, propondo até sanções para quantos descumprissem a obrigação de ficar quietos para não criar problemas.
Funcionando de parceria com o Ministério da Comunicação Social, porque todo governo sempre terá o que comunicar, ao Ministério do Silêncio caberia evitar bobagens e baixarias dos demais colegas, quando prestes a acontecer. Seria necessário um ministro esperto e ativo, capaz de prever situações onde outros estivessem prestes a fazer lambanças.
Ajudaria muito a instalação de parafernálias eletrônicas em condições de isolar a manifestação de autoridades antes que elas se perdessem através de declarações inusitadas. Quem sabe uma aparelhagem diabólica instalada nos diversos gabinetes do poder ou implantada na pele de ministros boquirrotos.
Acionadas, essas maravilhas tecnológicas interromperiam não apenas a palavra de ministros, mas congelariam câmeras, vídeos, gravadores e microfones na hora da colheita de bobagens inauditas.
Já se imaginou o quanto de benefícios esse Ministério do Silêncio traria para o presidente Lula? Caso Guido Mantega, Paulo Bernardo, José Múcio e tantos outros estivessem impedidos de manifestar-se logo depois da derrota da prorrogação da CPMF, deixaria o governo de viver o atual período de vexames que vive.
Com um pouco mais de esforço e de imaginação, a esfera de ação do novo ministério poderia estender-se às lideranças oficiais no Congresso. Um simples digitar de teclas e cruzar de fios paralisaria o festival de bobagens hoje encenado por boa parte das autoridades públicas. Não se trataria de censura, mas de profilaxia.
O diabo seria o sucesso subir à cabeça do todo-poderoso e imaginário ministro do Silêncio, se ele pretendesse instalar seu equipamento no Palácio do Planalto, mas essa é outra história...
A bomba nas mãos de Lula
Até agora o presidente Lula falou apenas de modo genérico, abordando a necessidade de contenção de gastos, cortes orçamentários e busca de novas fontes de receita para cobrir os 40 bilhões perdidos da CPMF. Precavido, não entrou na questão do adiamento ou da extinção pura e simples dos reajustes e aumentos prometidos até por escrito ao funcionalismo público civil e militar.
O problema é que seus ministros desdobram-se em ameaças e sentenças de fato consumados, acentuando que ninguém receberá nada. O resultado aí está: ebulição nas entidades de classe dos servidores públicos, estabelecendo indicativos de greve e, mesmo, conclamando à paralisação imediata.
O presidente viaja amanhã para a Guatemala e para Cuba, esticando por alguns dias a definição que já se torna inadiável. Apenas sua palavra impedirá a movimentação verificada inclusive nos quartéis. Não precisaria desmentir seus ministros de forma aberrante, até porque essa prática não deu certo quando jurou não cogitar do aumento de impostos.
Mas se anunciasse estar o governo procurando fórmulas para atender o funcionalismo, sem frustrá-lo como fazem seus auxiliares, talvez evitasse o pior. Porque no fundo, como em todo modelo neoliberal, dinheiro sempre há, se houver vontade política. O que não dá é para assistir à abertura do saco de maldades sem uma satisfação, sequer, às categorias por demais humilhadas.
Para os que se interessam pela História recente, sempre haverá o exemplo do czar Nicolau II, quando dias antes de abdicar ouviu do embaixador britânico o conselho para reconciliar-se com o seu povo. Do fundo de sua intransigência, retrucou: "O meu povo é que deve reconciliar-se comigo..." As coisas deram no que deram...
Pauta comum
Devem reunir-se nos próximos dias os presidentes da Câmara e do Senado, Arlindo Chinaglia e Garibaldi Alves. Vão tentar elaborar uma agenda comum para o início dos trabalhos legislativos, em fevereiro. Perceberam existir nas gavetas do Congresso mil e um projetos de amplo interesse nacional, daqueles capazes de determinar, com sua discussão, a mudança no eixo das tricas e futricas parlamentares.
Da regulamentação do direito de greve para funcionários públicos à adoção da nova Lei de Imprensa, da reforma tributária à reforma política, da extinção do princípio da reeleição ao aumento dos mandatos executivos de quatro para cinco anos, o Congresso teria condições de empolgar a opinião pública e a opinião publicada, melhorando não apenas sua imagem, mas recuperando as instituições quase postas em frangalhos.
Nem Arlindo nem Garibaldi carecem de espírito público e de preocupações com as casas que dirigem. Muito menos lhes faltaria o apoio das lideranças dos principais partidos e até do Palácio do Planalto. Como nas partidas de futebol, falta apenas o pontapé inicial.
Por Carlos Chagas

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