26 de jan. de 2008

Um jornalismo chapa branca de catchiguria

O negócio está tão na cara, tão vergonhoso, que é difícil imaginar que a Folha deixe passar esse negócio sem perceber.
Observem abaixo os dois artigos do jornalista Kennedy Alencar, aquele que tem “informações de dentro do palácio do Planalto”.
No artigo de 11/01/2008 o jornalista fala que Lula vê com simpatia a compra da Brasil Telecom pela Telemar-Oi, e mostra os argumentos “convincentes” para se legalizar a formação do oligopólio no Brasil. Aliás, como “dever” do “jornalismo isento”, complementa que essa “suposta” ligação da Telemar/Lulinha faz parte do “preço do poder”. Que catchiguria!
Agora, neste sábado, ele fala do temor do governo que ocorra com a Vale o mesmo que ocorreu com a Ambev, como escrevi em um artigo recente (leia aqui - 1/13/2008 02:05:00 AM), e complementa que “Integrantes do governo brasileiro afirmam que a operação Vale-Xstrata é diferente da fusão entre Brasil Telecom e a Oi (antiga Telemar) -este negócio conta com simpatia do governo e depende de aval político e econômico do Planalto.”
A estratégia é, antes que alguém de peso lembre o episódio Ambev, criticar a possibilidade de ocorrer o mesmo na Vale e diferenciar o episódio do caso Oi/Brasil Telecom.
Que catchiguria!


Governo teme "efeito AmBev" na Vale
Planalto receia que compra da Xstrata pela empresa brasileira possa transferir decisões da mineradora para o exterior
Governo faz restrições ao negócio avaliado em US$ 90 bi e pode usar BNDES e fundos de pensão de estatais para tentar barrá-lo
Por Kennedy Alencar (Folha de São Paulo)
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As restrições do governo à possibilidade de a Vale comprar a mineradora anglo-suíça Xstrata se devem ao temor da repetição do "efeito AmBev", segundo disse ontem à Folha um auxiliar direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Por "efeito AmBev", leia-se: o negócio Vale-Xstrata poderia ser o primeiro passo para que o centro de decisão da companhia se transfira do Brasil para o exterior, o que aconteceu com a cervejaria.
Criada em 1999, a AmBev foi resultado da fusão da Antarctica com a Brahma. Na época, a Kaiser e os defensores do negócio travaram dura disputa comercial. O governo brasileiro, comandado então pelo tucano Fernando Henrique Cardoso, viabilizou a operação por meio de autorização do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão do Ministério da Justiça.
Um dos argumentos favoráveis à fusão era o de criação de uma grande empresa nacional que pudesse atuar globalmente. Em 2004, a AmBev se fundiu com a Interbrew, um grupo belga. Na avaliação do governo atual, petista e adversário do tucano FHC, o resultado é hoje desfavorável ao consumidor. A AmBev tem 70% do mercado nacional de cerveja, não enfrenta forte concorrência e seu centro de decisão não é mais nacional.
O receio de que a eventual compra da Xstrata dê à Vale o mesmo destino é um dos principais motivos para Lula e a cúpula do governo resistirem ao negócio entre as grandes mineradoras. Lula tem se queixado publicamente de que a Vale, o maior grupo privado do país, investe pouco no país.
Um auxiliar do presidente disse que ele pode ser convencido de que o negócio traria benefícios. Anteontem, Lula jantou com o presidente da Vale, Roger Agnelli, no Rio.
A Vale já confirmou interesse na compra da Xstrata e o início de tratativas nesse sentido, sob o argumento de que seria melhor para sobrevivência global da empresa. O valor do negócio seria de US$ 90 bilhões -US$ 30 bilhões dos quais seriam quitados com a oferta de ações preferenciais da Vale. No mercado, estima-se o valor da companhia brasileira em US$ 120 bilhões.
Na opinião de integrantes da cúpula do governo, o negócio poderia transferir para propriedade estrangeira grande parte de uma empresa nacional que o governo julga estratégica para o desenvolvimento. A Vale foi privatizada em 1997.
O Palácio do Planalto poderia tentar inviabilizar a compra da Xstrata por meio do BNDESPar, subsidiária do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) que tem participações em empresas, e pela Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil). BNDESPar e Previ têm participação na Vale e representantes no Conselho de Administração.
Integrantes do governo brasileiro afirmam que a operação Vale-Xstrata é diferente da fusão entre Brasil Telecom e a Oi (antiga Telemar) -este negócio conta com simpatia do governo e depende de aval político e econômico do Planalto.
Motivo: o governo sustenta que a operação BrT-Oi seria benéfica ao consumidor, porque criaria uma empresa mais apta a competir com a Embratel e a Telefônica no mercado nacional. O controle da empresa também ficaria em mãos nacionais.
O governo avalia ainda que as duas empresas são complementares, pois atuam em regiões diferentes do país. Acredita que, juntas, terão capacidade de competir com a mexicana Embratel e a espanhola Telefônica na área de transmissão de dados, por exemplo.
Para dar aval ao negócio, Lula insistiu em criar um mecanismo que permita aos fundos de pensão de empresas públicas e ao BNDES ter poder de decisão no processo de governança da nova empresa. O Planalto disse ter convencido o presidente da Previ, Sérgio Rosa, a apoiar a negociação. A Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, tem participação relevante na Oi e na BrT.


11/01/2008
Nova tele é aposta de Lula
por Kennedy Alencar (Folha on-line em 11/01/2008 )
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Sem o aval político e econômico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Oi (ex-Telemar) não poderia comprar a BrT (Brasil Telecom). Lula mudará a legislação do setor para permitir que uma tele compre a outra. No governo, trata-se o negócio como uma fusão e não uma venda.
Resultado de venda ou fusão, a nova tele será uma das maiores empresas do Brasil. Seus executivos disseram a Lula que, no prazo de 24 meses, a nova companhia deverá faturar R$ 12 bilhões por ano --poder de fogo de sobra para competir nacionalmente com a Embratel e a Telefônica. A empresa poderia até disputar mercado com essas duas empresas na América do Sul.
No governo, Lula se encantou com grandes empresários, como Jorge Gerdau. Acredita que estimular o nascimento de grandes empresas nacionais que possam competir globalmente é uma das tarefas dos presidentes das democracias modernas.
Para convencer os fundos de pensão de estatais a participar do negócio, Lula condicionou a alteração da legislação a uma fórmula jurídica que dê aos fundos de pensão e ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) poder de veto sobre eventual venda da nova tele. O objetivo, diz um integrante da cúpula do governo e um dos envolvidos na negociação, é evitar que a operação seja apenas uma jogada comercial de curto prazo e não um investimento para consolidar uma terceira grande tele no país. O negócio entre a Oi e a BrT deverá ser fechado oficialmente em 15 dias no valor de R$ 4,8 bilhões.
Auxiliares do presidente falam que haverá "travas" para que Lula aceite editar um decreto alterando o Plano Geral de Outorgas, que hoje proíbe uma empresa fixa de adquirir outra do mesmo setor. O negócio deverá ter uma cláusula para que os principais acionistas concordem com eventual venda da futura empresa.
Considerado por Lula um dos principais formuladores dos chamados "desenvolvimentistas", o economista Luciano Coutinho, presidente do BNDES, foi incumbido de acompanhar os detalhes da negociação entre a Oi e a Brasil Telecom. O BNDES terá participação na nova companhia e lhe emprestará recursos.
Lula, portanto, faz uma aposta de alto risco. Se der certo, o que significaria maior competição nos mercados de telefonia fixa, móvel e transmissão de dados, a nova tele trará benefícios ao consumidor e ao mercado de trabalho. Se o empreendimento se traduzir num fracasso, o presidente será cobrado por ter mudado a lei a fim de favorecer grupos privados.

O preço do poder
Entre quatro paredes, Lula pode espernear à vontade, como fez na manhã desta sexta (11/01). Como pai, pode achar injusta a suspeita de que a sociedade da Oi com a empresa de um de seus filhos tenha facilitado a decisão política de viabilizar uma nova tele. Como pai e presidente, pode alegar que há razões empresariais que justificam a negociação entre a Oi e a Brasil Telecom.
Como presidente, porém, deve dar explicações sobre críticas e suspeitas. Nos anúncios de emprego para presidente da República, publicados em outubro de 2002 e de 2006, havia três requisitos escritos lá: aceitar críticas justas e injustas, dar satisfações ao público e se comportar como a mulher de César. Lula se apresentou e obteve o emprego.

Um comentário:

Anônimo disse...

Adriana.
Se a Vale comprar algum produto ou serviço que o filho do Lula faz ela vai poder fazer esse negócio sem nenhuma preocupação. A Telemar comprou uns joguinhos do Lulinha e tá na boa......
Pobre povo.....