22 de jan. de 2008

Um vizinho paranóico?

Por Adriana Vandoni

O pedido para que a comunidade internacional retire as Farc da lista de terroristas, feito pelo arremedo de ditador Hugo Chávez, poderia ser entendido como uma ameaça se o autor do pedido tivesse respeitabilidade além das fronteiras de Cuba. Mas não tem. É visto como um histérico por poder, que para obtê-lo faz qualquer coisa, até se transformar em cúmplice de terroristas e narcotraficantes.
As Farc possuíram um apelo político, isso não há como negar. Quando começou, em maio de 64 era de fato um movimento de resistência popular que pretendia combater um regime militar. Em junho do mesmo ano eles realizaram a primeira assembléia quando declararam que: “... obrigados pelas circunstâncias, nos restaram apenas a via armada revolucionária de luta pelo poder”. Naquele período eles precisavam dessa via, pois não existia outra maneira de disputar o poder contra a ditadura colombiana.
Mas décadas se passaram e o movimento perdeu o bonde da história mundial. Perdeu o discurso quando em 84 criaram o partido político UP - União Patriótica que, democraticamente conseguiu eleger, em 1986, 14 congressistas, 18 deputados, 335 conselheiros e vários vereadores. Em 87 o grupo decide abandonar o projeto de poder pelas vias democráticas. Por todo esse período as Farc seqüestraram, fizeram emboscadas e mataram, achacaram os moradores, de alguns eles cobram uma espécie de pedágio para não ser morto, enfim, a guerrilha destroçou famílias inteiras de civis, aterrorizaram tanto que aos poucos foram se distanciando de qualquer conotação ideológica e perdendo o apoio popular, além de ser financiada pelo tráfico de drogas.
As movimentações das Farc pelo território colombiano, suas ações, táticas e organização interna, demonstram que se trata de um grupo terrorista. Eles possuem células, como a Al-Qaeda, só que as chamam de Blocos. Dividiram a Colômbia em sete Blocos, cada um com diversas “Frentes”, cada “frente” possui cerca de 400 combatentes. Dão a impressão de que são grupos relativamente autônomos em relação aos níveis hierárquicos superiores, mas todas as ações são planejadas e engrenadas.
A estratégia usada em cada uma das ações é precisa, como de qualquer grupo terrorista. Escolhido um alvo, uma “frente” é destacada para atacar um local próximo a esse alvo escolhido. O ataque mobiliza toda a defesa. Essa é a ação de “curto prazo”. Logo em seguida, próximo do primeiro ataque, mas não o suficiente para que a defesa consiga se deslocar com rapidez, o verdadeiro alvo é atacado, geralmente seqüestro de algum político ou seus familiares. Um levantamento feito em 2002 constatou que pelo menos 200 prefeitos e milhares de vereadores apresentaram pedidos de renuncia aos cargos depois de receberem ultimato das FARC. Essa é a ação de “longo prazo”.
Como podemos constatar, é um grupo de terroristas que seqüestra, usa a chantagem e o achaque, trafica e mata. São bandidos ordinários que recebem a aura de revolucionários por românticos marxistas equivocados (isso ainda existe no mundo, poucos, mas existem) ou por bandidos como eles.
O plano de Hugo Chávez quando “intermediou” a libertação de dois reféns, era conquistar a opinião pública internacional com uma imagem humanista. A constatação de que ele fornece armamento às Farc e de que permite que o tráfico use o território venezuelano como passagem para distribuição de drogas pro mundo, e essa última seqüência de ataques verbais aos Estados Unidos e ao presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, leva-nos a constatação de que ele está tentando aumentar o grau do conflito, superdimensionando a questão. Chávez confia que a crise econômica norte-americana fará com que dificilmente o país abra uma nova frente de combate, ou mesmo que dê auxílio mais efetivo em um possível confronto entre a Venezuela e Farc contra o governo eleito da Colômbia. Alguém duvida disso? Chávez não é um demente ou paranóico, como já supus um dia. Ele é apenas mais um ditadorzinho barato e safado como tantos outros.
Se o governo colombiano morder a isca e entrar em um confronto real com a Venezuela, estará criado o ambiente propício para que a população venezuelana conceda a Hugo Chávez os poderes irrestritos que tanto ele almeja. Essa tática é velha: cria-se um inimigo comum para fazer a população esquecer o desabastecimento e a falta de liberdade.
E o Brasil com isso? O que sabemos é que nunca antes na história destepaíz existiu uma diplomacia tão incompetente.

Um comentário:

PapoLivre disse...

È triste, o Brasil sempre preparou diplomatas para países irmãos. A Casa de Rio Branco sempre foi muito respeitada e considerada, hoje foi partidirzada e tem no comando um boneco. Até o jornaleiro campineiro, Lupi, caga regra em cima do Itamaraty. Tristes trópicos, triste país nas mão de imbecis.