18 de fev. de 2008

As lixeiras da luxúria

Não vem de hoje nem de ontem o hábito de os governos tentarem justificar seus abusos com base no falso argumento de que seriam atos necessários para o "bem comum". Bartolomeu de Albornoz, em sua Arte de los contratos, ao recomendar ao rei que respeitasse a propriedade privada, já abordava o tema: "É regra geral que o bem público deve antepor-se ao particular, mas há dificuldade de saber o que é bem público... muitas vezes se transforma Satanás em um Anjo de luz, na tentativa de nos impingir como bom o que não é razoável" (Valência, 1573, pág. 69).
Mesmo conhecendo o velho costume de muitos dos que detêm o poder de procurar clarear ardilosamente a escuridão de suas rapinas sob um manto de falsa luz, é de causar asco essa farra dos cartões corporativos de que a imprensa nos vem dando conta nas últimas semanas.
Entre tantos exemplos de abusos, de tapiocas a mesas de sinuca e de esteiras aeróbicas a gastos em free shops, destaca-se o das três lixeiras - não uma trinca qualquer de lixeiras, mas uma tríade de lixeiras de 900 reais cada - para receber as sujidades do apartamento do magnífico reitor da UnB. As três lixeiras da luxúria expressam muito bem, ao lado de outros inúmeros usos errados do nosso dinheiro, a corrupção desenfreada de que os cidadãos comuns têm sido vítimas, tanto os que têm que arcar com as próprias despesas com seus cartões bancários como os que nem contas em bancos possuem. São todos inegáveis exemplos de escárnio, irrefutáveis demonstrações de arrogância, incontestáveis manifestações de falta de lisura e indiscutíveis revelações de desapego a valores morais mínimos. Que tipo de detritos podem merecer recipientes de lixo com preço tão acintoso?

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