5 de mar. de 2008

Colômbia x Equador, uma crise anunciada

Por Chico Bruno

Quem conhece a zona conflagrada, nas fronteiras da Colômbia com a Venezuela, Equador, Peru e Brasil, sabe que os integrantes das Farc, há muito tempo, não respeitam os limites das fronteiras colombianas e circulam pelos países vizinhos, em alguns mantendo bases de apoio.
Pelotões das Farc deslocam-se, armados até os dentes, pelas fronteiras dos países vizinhos com a permissividade das autoridades destes países.
Portanto, eles violam os territórios do Brasil, Venezuela, Equador e Peru. Para combatê-los o Exército da Colômbia faz o mesmo há muito tempo, só que agora foi morto o número dois das Farc, justo o negociador da liberação de alguns reféns.
Aliás, um dos reféns liberados pelas Farc, o ex- parlamentar colombiano Luis Eladio Pérez revelou que, durante os mais de seis anos que permaneceu em cativeiro, os rebeldes se movimentaram pelas divisas da Colômbia.
Em entrevista por telefone à rádio Caracol, de Bogotá, Pérez disse que, em poder das Farc, esteve nas fronteiras do Brasil, Peru, Venezuela e Equador - nesta última, dormiu quando a guerrilha o transferiu das montanhas do Sul até as florestas do interior colombiano, para levá-lo para junto de outro grupo de seqüestrados.
Os presidentes Lula, Chávez, Corrêa e Garcia sabem disso, pois recebem informações permanentes sobre a movimentação das Farc, mas nunca tomaram uma posição.
O general Augusto Heleno Pereira, responsável pelo Comando Militar da Amazônia reconhece que a cidade mais próxima da fronteira, São Gabriel da Cachoeira, com cerca de 50 mil habitantes, é "sabidamente" fonte de abastecimento para as Farc.
- Os guerrilheiros não atravessam a fronteira como guerrilheiros, e os postos na fronteira são temporários, como se fossem uma blitz - ressalta, dizendo desconfiar de que alguns colombianos à procura de atendimento médico na região sejam rebeldes.
- Uma vez na cidade, contudo, se misturam à população local, formada também por indígenas, colombianos, peruanos, conclui o general brasleiro.
Aliás, o presidente Correa disse, ao chegar a Brasília, com todas as letras que é uma “infantilidade” achar-se que não existem “bases das Farc no Equador, como há no Peru, como há provavelmente no Brasil, como há na Venezuela”.
A declaração de Correa comprova que os quatro presidentes fazem vista grossa a circulação dos integrantes das Farc pelos seus países, pois, todos têm conhecimento dos deslocamentos dos rebeldes das Farc pelos quatro países vizinhos.
A crise aberta com a morte de Raúl Reyes estava anunciada há muito tempo e ele poderia ter sido abatido pelo Exército Colombiano em qualquer um destes países, pois, a Colômbia dispõe de equipamentos de rastreamento modernos que informam todos os passos dos rebeles colombianos.
Enquanto os presidentes decidem o que fazer para solucionar a crise anunciada, por aqui alguns políticos aproveitam para demonizar Hugo Chávez.
Um deles é o senador José Sarney (PMDB-AP), que aproveita a crise para denunciar que Chavéz arma a Venezuela para deflagrar uma guerra na região.
Sarney sabe muito bem, que quem está armado até os dentes na América do Sul é justamente a Colômbia, com o apoio dos EUA, e não a Venezuela.
Sarney sabe, também, que Chávez não é o doido, que ele quer fazer crer aos brasileiros com seus pronunciamentos no Senado.
Chávez adota a máxima de quem não se comunica, se trumbica e aproveita todas as chances para aparecer ao mundo como o principal líder da América do Sul, defensor dos países fracos e oprimidos. É o que está fazendo agora. Aproveita o imbróglio entre Correa e Uribe para colocar mais lenha na fogueira e pirotecnicamente fecha a fronteira da Venezuela com a Colômbia. Chávez nestas horas faz retórica. Só isso.
Mas, Sarney aproveita a retórica chavista para fazer proselitismo terrorista. Com isso ocupa espaço na mídia vendendo a imagem de estadista, quando não passa de um lobo travestido em pele de cordeiro.
Enquanto isso, o presidente Lula patina na retórica. Condena a atitude da Colômbia, que violou o território equatoriano em perseguição a 17 rebeldes colombianos, e pede uma retratação daquele país ao Equador, mas se esquece que o governo equatoriano permitiu que as Farc montassem acampamento em seu país.
Nesta crise não existem inocentes, pois, todos os envolvidos sabem os riscos que seus atos podem acarretar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bandido é bandido na fronteira ou dentro da favela, ou seja variação sobre o mesmo tema, mudando apenas o modus operandi.