9 de mar. de 2008

Gabeira é um bom candidato

Por Dora Kramer

O que acontece no Rio, inspira o Brasil. A frase, perdida lá no meio da entrevista do governador Aécio Neves sobre a aliança do PSDB com Fernando Gabeira (foto) para a eleição da Prefeitura do Rio de Janeiro, é mais que uma frase inspirada.
A começar pelo fato de não ser propriamente uma aliança, mas um ato de adoção: o PSDB incorpora Gabeira não como parceiro, mas como um dos seus, num lance em que a ficha de filiação é detalhe. O importante é o simbolismo.
Quando abre mão da candidatura própria, do ponto de vista formal, porque não tem um nome forte para disputar na segunda cidade mais importante do País, o PSDB mostra que resolveu não assistir impávido à movimentação do governo federal e começa a se mexer para a eleição municipal, esquentando os tamborins para a sucessão presidencial de 2010.
O controle das três principais capitais brasileiras, Rio, São Paulo e Belo Horizonte, já é, para o tucanato, um excelente início de conversa para 2010. À exceção de Minas, onde o peso do governador assegura a vantagem independentemente da vitória na capital, nos outros dois Estados a briga é dura. Em São Paulo com o PT e no Rio contra a própria fragilidade dos tucanos.
O PSDB emite sinal evidente, já detectado pelo prefeito Cesar Maia, de que não pretende dar prioridade, muito menos exclusividade, à tradicional parceria com o ex-PFL, hoje Democratas. A análise de Maia põe a candidatura de Gabeira num cenário de preparação da candidatura presidencial tucana à Presidência da República (ele aposta que com José Serra na cabeça da chapa) e de aproximação com a esquerda.
Claro que o PSDB faz esse movimento.
Vai disputar um eleitorado que ainda identifica o PT com esse campo ideológico e precisa pescar nessas águas. Mas se o tucanato não pretende ficar preso só ao Democratas, tampouco tem intenção de abrir mão dessa companhia. A ação não é excludente.
Obviamente quer todos os parceiros que puder conseguir, entre eles o PMDB, que estará com Lula enquanto ele for presidente da República, continuará com ele se exibir capacidade de transferir votos e eleger o sucessor, mas mudará de idéia ao menor sinal de alteração do quadro em matéria de perspectiva de poder.
O jogo do PSDB começa - o Rio é o exemplo - diferente do que foi em 2006, quando o partido fez a opção preferencial por jogar tudo para garantir o governo de São Paulo e, no mais, parecia concorrer para cumprir a tabela eleitoral, aí incluída a eleição para presidente.
Os tucanos deram-se ao desfrute de apresentar um candidato (Eduardo Paes) com zero chance, só para constar. Agora, porém, o gesto é na direção oposta: o PSDB deixa de lado afirmações partidárias irrealistas e adota um ícone do bom combate como candidato na cidade que produz as modas, cria as ondas, como diz Aécio, inspira o País, e pode forjar um discurso novo para substituir a cansativa, anacrônica e artificial cantilena de liberalismos versus esquerdismos que dominou o debate na última eleição presidencial.
A exigência de Gabeira, de que sua candidatura não sirva de instrumento à briga entre governo e oposição no plano federal, não é um obstáculo. Ao contrário: combina exatamente com o plano do PSDB de não se confrontar com Lula, mas de tentar suplantá-lo sem desqualificar seu papel de mito. Mas de uma época que se encerra.

Um comentário:

ma gu disse...

Alô, Giulio.

Concordo com Dora. Gabeira parece ser a prova viva de que é possível, em ser aquela exceção à regra, de um goiaba jovem se transformar em uma pessoa correta, ao contrário de um Zé.