“Todo o mundo diz que maio é o mês das flores. Flores nascem aí a cada canto da cidade, em terreiros de estalagens como em parques de palácios, em grandes vasos de faiança nobre, como em sujas telhas de trepadeiras reles. Flores não falam, flores não amam, flores não beijam, flores não enganam como mulheres… E mês das mulheres é que maio é – este mês em que no Rio começa a gente a sentir a delícia infinita de viver e a ânsia infinita de amar.
Ao meio dia, dos arrabaldes longínquos começam os bondes a transportar para a rua do Ouvidor bandos de demônios trêfegos, dando aos beijos do sol “toilletes” em que um vivo arco-iris se desdobra, asas de leques palpitando amorosamente, chapéus tufados de rendas e de plumas, tremendo e ofegando no ar como grandes pássaros cativos. Mês das mulheres… Todos os armarinhos, às três da tarde enchem de um quente aroma feminino, que entontece e alucina; sapatinhos lépidos, dentro de cujos ninhos macios se agitam pequenos pés impacientes, batem, saracoteiam entre as cadeiras desarrumadas; nos balcões, sob olhar tantálico dos caixeiros, as peças de seda rugem, machucadas por mãos que valem todos os teares da China e do Japão; quando em quando duas amigas se reconhecem, então as sedas caem desprezadas, e há pela sala um vago rumor de beijinhos… Meu Deus! Os manicômios devem estar cheios de caixeiros de armarinho, levados à loucura pela embriaguês fulminante desse espetáculo!
Eu, cronista desta folha em que o lápis voluptuoso de Julião Machado vai tratar com tanto carinho as curvas dessas encantadoras inimigas do meu sexo, quero dar-lhes esta primeira crônica.
Também não tenho feito outra coisa, nesses primeiros dias de maio, senão olha-las. Houve na semana passada manhãs frias e nevoentas, tardes enfarruscadas, retalhadas de bátegas de água e a rua do Ouvidor ficou triste…apenas marmanjos patinhando na lama, com os narizes roxos engrossados pela coriza e os pescoços duros, congestionados pela angina, mas não desesperei. Não achando mulheres na rua do Ouvidor, fui à Gonçalves Dias, e deixei-me ficar no saguão da “Photographica Brazileira”, a namorar os retratos. Há por aquelas paredes carinhas gordas e ridentes, de queixos redondos em que se adivinhou covinhas aveludadas, sepulturas de beijos, cheias de pó de arroz; faces finas e fidalgas, de olhos dominadores e lábios frios; rostos espertos, cheios de uma frescura de quatorze anos, em que sob a formosura acabada da mulher percebe-se ainda a inocência e a travessura da criança; e – porque não as mencionar também? – faces cheias e animadas, de quarentonas, frutos sazonados, a que o esplendor fecundo do outono dá beleza repousada e simples. Ah! os retratos também não falam, bem sei! Mas, em dias de chuva, é preciso que os olhos da gente se contentem com o que acham…
E a chuva passou, agora o céu vai talvez sorrir para todo o mês, na glória de esmalte novo. As noites polvilhadas de estrelas, de um frio que chama o sangue às faces, vão forçar as freqüentadoras do Lírico ao uso de suas mantas nobres, de largos capuzes, sob cuja espuma alvíssima de rendas e de peles os olhos brilham como um fogo. E…Mas, não tenho interesse nenhum em dizer que outras coisas suaves e deliciosas trarão consigo as tentadoras noites de maio…
Digo-vos somente ficar fora da política, dos negócios, de tudo. Podem todos os Traipús do Norte e do Sul cair com fracasso e reerguer-se com lustre! Podem as ruas alargar-se ou não, à vontade dos partidários do recuo ou dos partidários do “statu-quo”! Que as notícias arfem carregadas de casos de adultérios, de sangue, de roubo, de guerra!
Que os cabos telegráficos se reforcem e desenferrugem, transmitindo notícias espantosas, greves, terremotos, crises, revoluções, amores escandalosos de Oscar Wilde e lord Alfred, constipações do rei da Espanha, pneumonias do duque de Orleans, torcicolos de Felix Faure, reumatismos de Muley Pachá, carraspanas do Grão Mongol, crises histéricas do imperador Guilherme, indigestões da rainha Vitória, que a Europa se conflagre! Que a Ásia se deixe inundar, Que a África torrada e seca, se desfaça em pó. Que tenho eu com o resto do mundo? O mundo para mim é a rua do Ouvidor, radiante viela por onde passa em ondas que cantam, o rio da beleza humana.
Maio é o mês das mulheres! Ah! quem tivera, senhoras de meu destino, donas do meu passado, do meu presente e do meu futuro!, cem olhos para olhar-vos, cem almas para adorar-vos, cem vidas para servir-vos.
São duas horas. E eu a perder tempo! Julião! Vê aquela que ali vai… uma nuvem de aromas rola em torno dela, acompanhando o hino do seu passo leve… E aquela, Julião! E aquela loura, cuja boca se abre e ofusca como uma rosa sangüinea. E aquela… e aquela… e aquela…
E todas elas! E todas elas! Ai! Vida dos meus pecados! Para que precisa o Rio de Janeiro de tanta mulher bonita?
Fantasio
Eu, cronista desta folha em que o lápis voluptuoso de Julião Machado vai tratar com tanto carinho as curvas dessas encantadoras inimigas do meu sexo, quero dar-lhes esta primeira crônica.
Também não tenho feito outra coisa, nesses primeiros dias de maio, senão olha-las. Houve na semana passada manhãs frias e nevoentas, tardes enfarruscadas, retalhadas de bátegas de água e a rua do Ouvidor ficou triste…apenas marmanjos patinhando na lama, com os narizes roxos engrossados pela coriza e os pescoços duros, congestionados pela angina, mas não desesperei. Não achando mulheres na rua do Ouvidor, fui à Gonçalves Dias, e deixei-me ficar no saguão da “Photographica Brazileira”, a namorar os retratos. Há por aquelas paredes carinhas gordas e ridentes, de queixos redondos em que se adivinhou covinhas aveludadas, sepulturas de beijos, cheias de pó de arroz; faces finas e fidalgas, de olhos dominadores e lábios frios; rostos espertos, cheios de uma frescura de quatorze anos, em que sob a formosura acabada da mulher percebe-se ainda a inocência e a travessura da criança; e – porque não as mencionar também? – faces cheias e animadas, de quarentonas, frutos sazonados, a que o esplendor fecundo do outono dá beleza repousada e simples. Ah! os retratos também não falam, bem sei! Mas, em dias de chuva, é preciso que os olhos da gente se contentem com o que acham…
E a chuva passou, agora o céu vai talvez sorrir para todo o mês, na glória de esmalte novo. As noites polvilhadas de estrelas, de um frio que chama o sangue às faces, vão forçar as freqüentadoras do Lírico ao uso de suas mantas nobres, de largos capuzes, sob cuja espuma alvíssima de rendas e de peles os olhos brilham como um fogo. E…Mas, não tenho interesse nenhum em dizer que outras coisas suaves e deliciosas trarão consigo as tentadoras noites de maio…
Digo-vos somente ficar fora da política, dos negócios, de tudo. Podem todos os Traipús do Norte e do Sul cair com fracasso e reerguer-se com lustre! Podem as ruas alargar-se ou não, à vontade dos partidários do recuo ou dos partidários do “statu-quo”! Que as notícias arfem carregadas de casos de adultérios, de sangue, de roubo, de guerra!
Que os cabos telegráficos se reforcem e desenferrugem, transmitindo notícias espantosas, greves, terremotos, crises, revoluções, amores escandalosos de Oscar Wilde e lord Alfred, constipações do rei da Espanha, pneumonias do duque de Orleans, torcicolos de Felix Faure, reumatismos de Muley Pachá, carraspanas do Grão Mongol, crises histéricas do imperador Guilherme, indigestões da rainha Vitória, que a Europa se conflagre! Que a Ásia se deixe inundar, Que a África torrada e seca, se desfaça em pó. Que tenho eu com o resto do mundo? O mundo para mim é a rua do Ouvidor, radiante viela por onde passa em ondas que cantam, o rio da beleza humana.
Maio é o mês das mulheres! Ah! quem tivera, senhoras de meu destino, donas do meu passado, do meu presente e do meu futuro!, cem olhos para olhar-vos, cem almas para adorar-vos, cem vidas para servir-vos.
São duas horas. E eu a perder tempo! Julião! Vê aquela que ali vai… uma nuvem de aromas rola em torno dela, acompanhando o hino do seu passo leve… E aquela, Julião! E aquela loura, cuja boca se abre e ofusca como uma rosa sangüinea. E aquela… e aquela… e aquela…
E todas elas! E todas elas! Ai! Vida dos meus pecados! Para que precisa o Rio de Janeiro de tanta mulher bonita?
Fantasio
2 comentários:
Essas mimosas me fazem lembrar da Vaca Mimosa, mãe frondosa do PAC, com suas fartas tetas alimentando todos os rapinas da Roubobrás.
O critico comentário da Rô me leva a concluir que na questão da amamentação, a categoria dos políticos ficam reduzidos a dois padrões; A dos bezerros mansos e dos bezerros "brabos".
O bezerro manso mama em todas tetas disponíveis, e é bem aceito pelas vacas que chegam inclusive a "mojar"como premio pelo suave sugar.
O bezerro brabo, pelo contrario, chega com muita sede ao pote e com violência tenta mamar,mas leva logo um coice na cara e sai desarvorado procurando novas tetas, e fatalmente com o mesmo resultado.
Estatisticamente a população de bezerros mansos é superior, se considerarmos as legiões que mamam placidamente.
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