10 de mar. de 2008

Porque existe a violência urbana?

O professor Valentino Corrêa (foto) nos traz um interessante ponto de vista sobre a violência, sua origem e suas causas. Claro que é um tema pra lá de complexo e repleto de variáveis. Ele aborda a desigualdade social como é um dos fatores preponderantes para a violência, mas coloco em debate outro fator que tem me chamado atenção: a ausência do poder público. Leia o texto abaixo (em leia mais) e dê sua opinião sobre a violência urbana no Brasil:

Porque existe a violência urbana? E porque no Rio ela é mais violenta?
Por Valentino Corrêa (*)

A violência urbana existe em toda comunidade humana desde os tempos remotos. A Bíblia registra atrocidades contra pessoas, contra classes sociais e até contra uma cidade inteira. Toda aglomeração urbana tem as suas mazelas, mas porque nas grandes metrópoles a violência é mais bárbara?
A pobreza não pode ser apontada como a causadora da violência, porque muitas comunidades pobres registram baixos índices de violência. Na Índia, um dos paises mais pobres do mundo a violência é muito menor que nos EUA, um dos mais ricos. O inverso também é verdadeiro, alguns paises pequenos que são muito ricos e quase não possuem pobres apresentam baixos índices de violência. Estudos mostram que comunidades mais violentas são justamente as que possuem maior distância entre pobres e ricos. No Brasil, a violência urbana em Salvador é menor que no Rio de Janeiro e a população é mais pobre. Na capital carioca existe o maior distanciamento entre estes dois mundos. São Paulo não é muito diferente.
O contato diário com outro ser humano fazendo uso de benefícios inimagináveis contrastando com a vida de inanição produz a indignação; a mesma indignação que temos com os leões se fartando em primeiro lugar com a carne caçada pelas leoas. Esta indignação é mais forte, quanto mais distante for o contraste entre ricos e pobres.
A cidade do Rio de Janeiro começou a inserir indignação na sua cultura quando a família real chegou ao Brasil. Casas dos que aqui labutavam para garantir a remessa de riquezas para a coroa portuguesa foram confiscadas para acomodar os nobres. Seguiu a tendência discriminante entre ricos e pobres quando o governo, copiando o prefeito de Paris, decidiu por reconstruir a cidade removendo os moradores pobres do centro urbano para locais afastados, dando inicio a periferia: a mais evidente das discriminações que contrastava com a nova cidade cheia de pompa com teatro e outras facilidades.
Na construção da zona sul, Copacabana e Ipanema, o poder público permitiu que fossem construídos barracos no sopé dos morros para abrigar precariamente os trabalhadores da construção civil, paus-de-arara que vieram do nordeste. Estes alojamentos temporários são as favelas de hoje. Nelas moram os descentes dos que construíram o que os ricos desfrutam hoje. Os moradores das favelas continuam sendo explorados para prestar serviços aos ricos. São submetidos diariamente ao contato com o que não têm.
Brizola, um governante bem intencionado, criou condições para que os pobres desfrutassem das praias “nobres” estabelecendo linhas de ônibus para viabilizar o fluxo de pobres para tais locais. Acredito que esta foi uma das bondades que não devemos praticar, porque resulta diariamente em mais indignação.
A televisão brasileira identificou esta linha de sentimento dos pobres e a explora para conseguir seus indicies de audiência para que anunciantes de produtos de massa acessem seu público alvo. No começo a TV produzia novelas mostrando o luxo e a riqueza aguçando o desejo dos telespectadores com a intenção capitalista de vender os produtos dos anunciantes. Agora explora diretamente o contraste constituindo-se em uma forte fonte de ampliação da indignação.
Quanto maior o grau de indignação, mais revoltado. Quanto mais revoltado, menos valor dá aos padrões existentes. Quanto mais a lei ajuda a manter o padrão: pobres no seu canto e ricos nos melhores lugares, mais aceita-se o risco de transgredir porque intui que não é através da obediência as leis que o pobre conseguirá os benefícios que vê os ricos desfrutarem.
O PAC é mais uma das ações bem intencionadas. Vai esfriar os ânimos com as obras nas favelas, mas não resolverá o problema da indignação. Ricos que andam com carrões, usam roupas de griffe, jóias valiosas, tem acesso a cirurgias plásticas, tem cachorros chiques e freqüentam locais seletos darão continuidade à cultura da indignação instalado nos pobres do Rio de Janeiro e de qualquer outra cidade que não cuida para que o contraste entre ricos e pobres seja minimizado.
Brasília segue a mesma rota. São Paulo com as alfavilas, Salvador com Vilas do Atlântico, Sauipe segue a mesma receita de construir redutos de conforto inimagináveis para os pobres pescadores que moram extra-muros do complexo. Não sei como resolver a situação, mas tomei uma decisão, depois que assiste o urso Balu no desenho animado do Mogli. “Eu só quero o necessário, somente o necessário, o extraordinário é demais, é por isto que nesta vida eu vivo em paz.”

(*) Professor do Curso de Administração Municipal, autor do livro: Serviços 5 Estrelas Ed Qualitymark, sub-coordenador da CIG - Coordenaçao de Inovação da Gestão da Prefeitura Municipal do Salvador, membro do Comite Gestor do Gespública-Bahia - Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização. Site: www.gespublica.gov.br

4 comentários:

Getulio Jucá disse...

Só vejo um caminho para encurtar tamanho distanciamento: investimentos comprometidos, sérios e contínuos na Educação pelas autoridades, a começar pelo ensino básico.

Aqui em minha cidade (no centro de Recife), a Prefeitura preocupada em manter uma campanha de "Cidade Limpa',tem uma placa que diz assim: "Cidade limpa. Povo educado." Não está errada!

Mas, eu particularmente creio que seria mais correto afirmar: "Povo educado. Cidade limpa."

Pela Educação, medimos a cultura de um povo.
Povo educado é povo que cumpre as leis, sabe manter as regras do bom convívio e respeito ao próximo.
O governo por seu lado, é cobrado por este mesmo povo educado. E assim a coisa funciona.

Claro é que, exigir atingir a perfeição é utopia.
Tomemos por exemplos, povos como os alemães, os dinamarquêses, os italianos, os austríacos, os australianos entre outros. Lá as coisas funcionam e bem. Porém não são tbem a perfeição (100%), mas nota-se claramente a predominância da existência dos direitos individuais e obrigações de uma sociedade, bem como o comprometimento do poder público com o cidadão que paga seus impostos.
A Educação molda e dá sustentação à cultura de um povo.

Anônimo disse...

Concordo com o Abreu em gênero, número e grau, como se diz por aí. Só faria um adendo: com um Haddad manipulador que amamenta Ongs e instituiu prêmmios até para quem conseguiu só metade da escala na PROVA BRSIL não dá.
Do modo como está estruturada a Educação, só serve para fazer política barata. Os bens culturais não são valorizados e a verba vai ficando pelo meio do caminho com gente enriquecendo.
Essa riqueza de gente incompetente acho que é um dos pontos que mais "pegam" para os alunos. Todos se encantam por aparelhos tecnológicos, mas poucos percebem que, se um dia houver uma forte onda contra a corrupção, tudo o que se trabalhou ocultamente na aquisição de seu aperfeiçoamento pessoal e social não terá sido em vão.
Mas as crianças e os jovens são imediatistas, o que lhes é natural. Aos professores compete "adocicar" a aprendizagem. Mas é muito difícil ensinar ética num país ou numa cidade onde não se tem ética, se as novelas ensinam a passar rsteira nos outros, se a riqueza vem fácil para os corruptos, na maioria ignorantes, mas bem vestidos e teleguiados por esquemas goveernamentais, aliás, supragovernamentais (mafiosos). Tais ignorantes, no entanto, têm uma linguagem pronta na ponta da língua e enganam os incautos, porque, nos conchavos, já lhes foi ensinado sob qual perspectiva se deve discutir um assunto e enganar e/ou encantar os trouxas. Assim acontece com Lula que, todos sabem, é um ignorante e preguiçoso. No entanto, dizem que é o Luís Dulci que prepara sua linguagem, de tal modo que, quando ele vai num palanque como um palhaço dizer suas abobrinhas tão ao gosto popular, ele engana como se soubesse de todos os aspectos do Governo e como se, mesmo com a linguagem simples, fosse capaz de fazer e acontecer. Só que o cérebro é o Zé, a eminência parda.
Junte-se a isso uma propaganda massiva de um Duda ou de um Franklin Martins e termos um líder todinho fabricado, sem educação, incapaz de governar e de prover a educação do povo. Se a esse quadro acrescentarmos a corrupção, as drogas, a lavagem de dinheiro. o apoio à guerrilha e ao terrorismo etc., não poderemos nos assustar com a violência que campeia por nosso país.

Anônimo disse...

A Rô tem toda a razão. Foi ao ponto G, como diria o presimente apedeuta.

"Não sei como resolver a situação, mas tomei uma decisão, depois que assiste o urso Balu no desenho animado do Mogli. “Eu só quero o necessário, somente o necessário, o extraordinário é demais, é por isto que nesta vida eu vivo em paz.”

Esse professor Valentino Corrêa é o típico professor brasileiro omisso. Falou, falou e não disse nada.
Ora, a causa de tudo o que ele denuncia está no que a Rô colocou de maneira clara, cristalina.
Ele optou por ficar com a consciência tranqüila, como se o mundo devesse se restringir a consumir o arroz, o feijão e a roupinha básica do dia a dia.
Desigualdade social não justifica a violência. Se assim fosse, um pobre honesto valeria tanto quanto um pobre violento, ladrão, assassino, traficante?
O mesmo podemos afirmar quanto um cidadão rico que dedica parte de seu dinheiro e de seu tempo a prestar serviços e apoio financeiro a entidades de assistência aos mais necessidades. Exemplo: Antônio Ermírio de Moraes.
Gente honesta, digna, as há entre pobres e ricos.
O problema está nos políticos, na corrupção, no desvio de verbas públicas, nos canalhas que habitam os poderes da repúblicas.
Me revolta essas senhores ficarem procurando explicações complicadas para causas simples. São os políticos, os malditos políticos a causa de tudo.
Será que o senhor Valentino saberia, como me canso de dizer, que uma família como minha trabalha 12 meses do ano e deixa quase 6 meses de seu trabalho para o Imposto de Renda? Para onde vai o dinheiro? E não estou computando ICMS, IPI, IPTU, IPVA e o diabo a quatro que esses políticos safados nos roubam todos os meses. Sem contar um dia de trabalho meu, da minha esposa, da minha filha que o Paulinho da Força Sindical e seus assecals nos roubam todos os anos.
Não utilizo INSS para a minha saúde, de minha esposa, de minha filha e de meu neto. Não utilizo INSS, SUS ou que valha. Pago UNIMED para que minha família seja razoavelmente assistida. Pago seguro do carro, da casa. Minha casa foi invadida duas vezes e se não fosse o seguro, teria ficado no prejuízo.
Quer dizer, pago por tudo para que minha família tenha uma vida digna.
Não reclamaria se tudo o que pagamos retornasse em benefícios para o povo e tivéssemos uma assistência digna, igual para todos, como é na Inglaterra, por exemplo, que segundo me disseram, tanto o rico como o pobre podem ser assistidos dignamente pelos hospitais públicos. O mesmo tratamento para todos.
Sou roubado pelo Lula, como fui pelo FHC e tenho certeza que serei pelo próximo. Não tenho esperança que meu país possa melhorar um dia, não com os políticos que temos e que teremos.
Eu poderiam, pelos meus argumentos, ter mais consciência tranquüila do que o professor Valentino Corrêa, e nem assim sinto que isso é argumento para minha consciÊncia fique tranqüila.
Estou é indignado, revoltado, irado e desesperançado.
Culpar a jóias valiosas, roupas de griffe, novelas de TV, pela desigualdade social é ridículo.
A violência não se justifica, o argumento desse professor não pode servir de parâmetro.
Para a violência só há um remédio, independentemente de sua origem: A LEI.
O professor se esquece que o luxo também gera empregos, muitos empregos.
Seu eu fosse pelo argumento do professor então, eu que sou família classe média, em que todos trabalham, não poderia ter seque um cãozinho "poodle", ainda que meu netinho o desejasse, e olhe que estou cansado de ver pobres com cãozinhos "poodles" e levando-os ao "petshop". Será que estão priorizando suas necessidades?
Não poderíamos ter um carro então. E olha que hoje, compra-se um carro a perder de vista, e como sonho de consumo de todas as pessoas, tem pobre comprando carro a perder de vista. Esses pobres teriam que abrir mão desse desejo?
Professor, o senhor está viajando na maionese, reflita um pouquinho que o buraco é mais embaixo.
Aquele abraço

Mauro Moreira
São José dos Campos - SP

PS: Enquanto escrevo, a rádio Jovem Pan noticia que inúmeras placas de esgoto e quilômetros de cabos de energia são furtadas diariamente em São Paulo. Inúmeras placas de contrôle de sinais foram furtadas ainda ontem. Isso ocorre também em quase todas as grandes cidades do Brasil. Furtos dessa magnitude são causados pela desigualdade social?

valentino disse...

Estimado Mauro Moreira,

Sinto muito possuir uma opinião divergente da sua. Compreendo que esteja indignado com a aplicação dos recursos que disponibiliza ao poder público, eu também estou, mas não acha cômodo pagar o dízimo e aguardar que outros façam caridade?