10 de mar. de 2008

Quando o governo não faz, dá chance à oposição de fazer

Por Carlos Chagas

Nem tudo está perdido. Esta semana, o Senado parou. Parou e tremeu com a denúncia feita pelo senador Arthur Virgílio (foto), a respeito da amazônica brecha aberta pela Lei de Concessão de Florestas Públicas, aprovada no começo do governo Lula.
Para o líder do PSDB, é inadmissível que um milionário sueco-americano se tenha vangloriado de haver adquirido, na Amazônia, área igual à da Grande Londres, da qual, através de parcerias com grandes grupos internacionais privados, anunciou que buscará tirar proveito comercial, explorando e vendendo tudo o que existe em seus limites, da madeira à biodiversidade e ao subsolo.
O indigitado personagem da denúncia chegou a declarar à imprensa dispor de força política para mudar o protocolo de Kioto, assinado pelas principais nações do planeta, em defesa do meio ambiente. Seria uma espécie de "liberou geral" na Amazônia.
Arthur Virgílio cobrou providências do governo federal e do governador do Amazonas, para quem, conforme acentuou, tratou-se da aplicação da lei entre dois entes privados, não cabendo intervenção do poder público.
É preciso descer à raiz do problema. Essa lei celerada foi proposta ao Congresso pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, que até antes de sua aprovação pelo Congresso fez propaganda dela na Europa, convidando empresários e governos a adquirirem parcelas da floresta amazônica. Veio o governo Lula e imaginou-se a retirada do projeto, por bater de frente com a pregação do candidato, retoricamente nacionalista e cultor da soberania nacional. Ledo engano. O Lula seguiu na mesma linha e fez aprovar a lei, que sancionou sob os aplausos da ministra Marina Silva, do Meio Ambiente e do PT.
Pelo texto, qualquer cidadão ou empresa nacional ou estrangeira fica autorizado a comprar a floresta por um período de 40 anos, renováveis por mais 40, para extrair madeira e apropriar-se da biodiversidade, patenteando milhares de recursos vegetais ainda desconhecidos da ciência, assim como explorar o subsolo.
O resultado é que a Amazônia vem sendo vendida. Dilapidada. O próprio sueco-americano, referindo-se aos milhões que pagou pelo seu pedaço, vangloriou-se de que a Amazônia inteira pode ser comprada por 50 bilhões de dólares. Foi o que recomendou aos bancos internacionais.
Na sessão onde a denúncia de Virgílio foi feita, seguiram-se dezenas de apartes, todos na condenação da iminência da perda total da propriedade do nosso território. Trata-se da internacionalização da região, há tantas décadas e até há séculos cobiçada pelas nações ricas, sob o pretexto de que a Amazônia pertence à Humanidade e os brasileiros não têm capacidade para cuidar dela. O crime praticado é de lesa-pátria, pelo qual deveriam responder os presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Eles e o Congresso, que aprovou o projeto.
Nas terras adquiridas de acordo com essa lei, fica o poder público impedido de atuar, abrindo-se outra alternativa, no caso para os que pretendem manter intocada a mais rica reserva natural do mundo. Depois de receberem a concessão, poderão mandar os amazônidas embora de suas glebas, proibindo qualquer projeto nacional de desenvolvimento.
Conforme o senador Gilberto Mestrinho, a internacionalização da Amazônia só não aconteceu até hoje graças ao Exército, às Forças Armadas. Para ele, a visão colonizadora dos países ricos permanece a mesma, só que agora estimulada pelo próprio governo brasileiro.
O grave nessa história é a acomodação da maior parte da mídia, há muito aberta para falsas denúncias de que o Brasil queima a floresta, acabando com o pulmão do mundo. Não é verdade. O oxigênio exarado de dia é substituído pelo gás carbônico, à noite.
Não dá para entender como a ministra Marina Silva se tenha deixado enredar pelas falácias dos neoliberais defensores da lei de concessões, ela que sempre formou na primeira linha de defesa do patrimônio amazônico. Estará iludida pela versão de que os estrangeiros, tão bonzinhos, vão comprando a floresta para mantê-la intocada, respeitando até a biodiversidade.
Pelo jeito, nunca ouviu falar daquele laboratório japonês que contrabandeou espécimes da flora medicinal da região e, lá de Tóquio, patenteou remédios que hoje compramos deles. Trata-se de um sinal dos tempos, até irônico, porque essa mais nova denúncia acaba de ser feita por um tucano. O senador Arthur Virgílio é o líder do PSDB.

4 comentários:

Abreu disse...

Nem tudo está perdido é um pouco demais.

Como já disseram alguns dos "26" colegas deste Blog "nada, nunca, está tão ruim que não possa ser piorado".

Ok, isto é retórica, mas não adiantam nada episódicos movimentos de "revolta" das atuais minorias políticas, enquanto elas não conseguirem alcançar "os corações e mentes" (como diziam os petralhas em campanha) do povaréu.

Enquanto o povo não compreender e não abraçar a causa, esses atos de rebeldia tendem a ser inócuos.

Tomara eu esteja errado.

Anônimo disse...

Prezado Giulio,
O problema da Amazônia, como todos sabem, vem de muitos anos.
A exploração é muito grande e vem de muitos anos.

Lembro-me de que, trabalhando um período em Belém do Pará (ano de 1979) passei um fim de semana no Projeto Jari. Ainda era do bilionário norte-americano Daniel K. Ludwig.
Curioso, perguntei ao irmão de um amigo que nos hospedou e trabalhava lá: - Porquê o nome: Monte Dourado?
Resposta: É que a área tinha muitas pedras preciosas.
Onde foram parar?

Outro fato: Tive um aluno da Universidade Católica de Petrópolis/RJ, que era policial; ele sumia das aulas constantemente. Um dia perguntei a ele a causa de tantas faltas. Resposta: Eu faço parte da repreensão ao contrabando na Amazônia. Este caso foi em 1972.

Faz somente 36 anos que conheço e acompanho a exploração da Amazônia e cada informação que leio, fico estarrecido.

Ora, em vez de defender o que é nosso, as riquesas em geral, vem os governos de fhc e deste apedeuta e colocam a Amazônia à venda.

São uns verdadeiros CRIMINOSOS. Cadeia neles!!!

Qual o dia em que se vai acabar de explorar o Brasil e seus brasileiros sérios?

O que está fazendo o Congresso, e os militares?
O povo, coitado, está sendo enganado com a bolsa miséria - menos de um dólar por dia de subsistência.

Pelo amor de Deus acabem com isso!!!!!!!!!!

Onde vamos parar?

Anônimo disse...

Antonio pelo dito você é um amazônida por vocação,e dado à sua descrença nos homens do poder, é de se acreditar que deveríamos chamar o Raoni dos Tchucaramães, ou os Avá Canoeiros pra cuidar dos interesses daquela região.
O Raoni batia de borduna e quase bateu na cara do ministro, que cantou de galinha e cedeu ao que o beiço de pau queria.
O latifúndio de estrangeiros na Amazônia, é a medida da canalhice dos governantes, e as futuras gerações vão cheirar o peido dos alienígenas que desmataram seus países e chegam como hóspedes do sistema da velhacaria onde dominam os imbecís aculturados no poleiro das aves de rapina.

Anônimo disse...

Marreta,
A minha desilusão começou quando eu deixei a Escola Superior de Estatística no Rio. Na época de estudante era "comunista" como praticamente todos o eram. Fui presidente de Diretório Acadêmico em 68/69.
Deixei este negócio de política por muito tempo. Era só trabalho e trabalho, estudos e aulas.

O que me revolta é que fui da época destes canalhas que estão no poder: zé das bostas dirceu, fhc, wladimir palmeira e outros. Vejo todos sujos e verdadeiros porcos como o são os amigos ditadores: fidel e companhia.
Vejo o Brasil sendo explorado a cada dia, mês e ano, e o povo sempre pacato, ignorante em assuntos relativos ao seu país aceitando tudo que lhe é destinado.

Não temos ninguém para defender nossos rios e florestas.
Não sei onde vamos parar.
Abraços e continue também a lutar por um Brasil melhor.