Uma questão de respeito
João Mellão Neto em O Estado de São Paulo
Há poucas semanas, eu dava conta, aqui, da lassidão moral, do sentimento generalizado de indulgência que, de uns três anos para cá, vêm tomando conta da opinião pública brasileira.
Que não venham alegar que a moralidade está fora de moda em todo o mundo, ou que as pessoas, na verdade, nunca se incomodaram para valer com a existência ou não de um mínimo de ética no trato da coisa pública. Há menos de 16 anos, quando fui ministro do então presidente Fernando Collor, vivenciei de perto um desses surtos de demanda ética que, de quando em quando, acometem toda a Nação, forçando a ocorrência de mudanças profundas. Por mais que se argumentasse, com pragmatismo, que os males do governo já haviam sido todos corrigidos, ou que se procurasse demonstrar que um trauma político de tais proporções jamais seria benéfico para a sociedade, nada disso adiantava. Ninguém estava disposto a perdoar Collor. Com o tempo, fui-me conformando com a queda iminente do presidente, o que eu considerava lastimável, uma vez que todas as medidas já haviam sido tomadas para que aquele governo, dali em diante, fosse um dos melhores de toda a História republicana.
Napoleão, num de seus momentos de reflexão, reconhecera, com toda a crueza, que havia vertido muito sangue, e talvez ainda vertesse mais, "não com ódio ou revanchismo, mas, tão-somente, porque a sangria faz parte da medicina política".
João Mellão Neto em O Estado de São Paulo
Há poucas semanas, eu dava conta, aqui, da lassidão moral, do sentimento generalizado de indulgência que, de uns três anos para cá, vêm tomando conta da opinião pública brasileira.
Que não venham alegar que a moralidade está fora de moda em todo o mundo, ou que as pessoas, na verdade, nunca se incomodaram para valer com a existência ou não de um mínimo de ética no trato da coisa pública. Há menos de 16 anos, quando fui ministro do então presidente Fernando Collor, vivenciei de perto um desses surtos de demanda ética que, de quando em quando, acometem toda a Nação, forçando a ocorrência de mudanças profundas. Por mais que se argumentasse, com pragmatismo, que os males do governo já haviam sido todos corrigidos, ou que se procurasse demonstrar que um trauma político de tais proporções jamais seria benéfico para a sociedade, nada disso adiantava. Ninguém estava disposto a perdoar Collor. Com o tempo, fui-me conformando com a queda iminente do presidente, o que eu considerava lastimável, uma vez que todas as medidas já haviam sido tomadas para que aquele governo, dali em diante, fosse um dos melhores de toda a História republicana.Napoleão, num de seus momentos de reflexão, reconhecera, com toda a crueza, que havia vertido muito sangue, e talvez ainda vertesse mais, "não com ódio ou revanchismo, mas, tão-somente, porque a sangria faz parte da medicina política".
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