14 de abr. de 2008

O imprevisível protesto dos estudantes

Por Josias de Souza

Perversão e rotina convivem no Brasil sob atmosfera de cordial normalidade. A cordialidade é tamanha que o brasileiro mal consegue distinguir, na administração pública, as imoralidades perversas das providências rotineiras.
Na UnB, a rotina da perversão tornou-se uma emergência no instante em que se descobriu que os gestores da universidade haviam jogado no fundo de lixeiras de R$ 1.000 o vocábulo recato. O magnífico reitor e sua turma esqueceram de maneirar.
Nada dizia mais sobre a UnB do que o estado a que chegara o seu corpo docente. Em fevereiro, quando o escândalo se insinuava no noticiário, os professores foram instados a se manifestar. Afundados num pântano de rotineira normalidade, aprovaram, entre risos, a permanência do reitor.
Súbito, os alunos se deram conta da falta que lhes fazia o anormal. Decidiram virar a rotina de pernas pro ar. Ocuparam a reitoria. Deram de ombros para uma ordem judicial de desocupação. Amargaram o corte de água e luz. Resistiram.
Depois de uma semana, o anormal começou a prevalecer sobre o normal. A estudantada insurreta obteve o escalpo do reitor Timothy Mulholland, agora já desprovido do apoio dos professores.
Neste sábado (13), depois de lavar a reitoria e as rampas de acesso com água e sabão (foto), os estudantes obtiveram o segundo troféu: a cabeça do vice-reitor Edgar Miamya. Em tese, reitor e vice afastaram-se por 60 dias. Na prática, não reúnem condições de voltar aos cargos. Cabe agora ao Ministério da Educação indicar um gestor temporário para a UnB.
O que fica de todo o episódio e dos desdobramentos que estão por vir é uma inestimável aula dos estudantes ao resto do país: o que envenena o Brasil é a normalidade que impregna o ar. Às vezes, algo de profundamente anormal precisa acontecer para que a perversão não seja confundida com a rotina.

3 comentários:

Anônimo disse...

Não é só lá não!

Que o exemplo seja seguido nas demais.

Ammqard

Anônimo disse...

Este exemplo dos estudantes de Unb deveria ser expandido para que a população tome conhecimento da podridão deste governo que aí está; mas, eu duvido disso se houver um movimento para tirar o lulla do poder. Certamente os estudantes hão de ser a favor do presiMente.

Anônimo disse...

Mas claro, Antonio. A UNE recebe inúmeras verbas do governo federal, acha que iriam protestar e ficarem sem a boquinha. Mas nem mortos!
Os protestos só valem para a cabeça do reitor, que já vai tarde.