6 de abr. de 2008

Um professor escreve sobre a dengue

Dengue, a urucubaca do ano
Deonísio da Silva no Jornal do Brasil

Várias autoridades declararam publicamente que erraram no combate à dengue que ora aflige o Rio. Embora louvável tal reconhecimento, precisamos acrescentar que não erraram apenas, perseveraram no erro. Do contrário não estaríamos na situação a que chegamos.
Errare humanum est, sed perseverare in erro diabolicum est. Estas frases latinas podem ser traduzidas por todos os lusófonos, cuja ampla maioria é brasileira, tamanha é a parecença das palavras.
Quem primeiro pronunciou a advertência foi Santo Agostinho. Outras personalidades repetiram o bispo de Hipona, mas sempre variando o tom.
Permaneceu na língua portuguesa, porém, o substrato cristão, já que as frases, escritas originalmente em grego, nos vieram do latim eclesiástico. Os gregos, porém, usaram "diabólico" com o sentido de insensato, como fizeram Hesíodo em Teogonia e Sófocles em Antígona.
O diabo grego diábolos, escrito em letras minúsculas, não tinha o peso que passou a ter o latim eclesiástico diabolus. Em grego, diábolos é aquele que desune, o antônimo de sýmbolon, pois o símbolo une. Sýmbolon designava qualquer objeto repartido – madeira, couro, pano etc – cujas metades eram guardadas pelas partes para que os herdeiros soubessem que os ancestrais eram amigos.
A Igreja entretanto literalmente satanizou o diabo, personificando-o como o príncipe das trevas, dando-lhe assim, não apenas a inicial maiúscula por ser nome de pessoa, mas também o título de realeza.

Um comentário:

Anônimo disse...

Epa, esse Prof. Deonisio é fera, foi na fonte como Diógenes.
Parabéns pelo artigo e post.