12 de mai. de 2008

Geraldo é o José de ontem

Por Adriana Vandoni

Ao finalizar a eleição à presidência em 2002, ouviu-se muito que a causa principal da derrota de Serra foi a disputa interna que ele causou no PSDB. Somado a isso, tivemos o seu distanciamento do DEM, na época ainda PFL, causado pelo episódio que acabou com as pretensões de Roseana Sarney, quando o PFL acusou Serra de estar envolvido. Na época Serra preteriu os pefelistas e se contentou com o apoio dos PMDBistas.
Ora, o PMDB é claramente uma confederação partidária, e o DEM, diferente deste, atua em bloco, e tem posturas regionais que seguem a orientação nacional. Se o PFL não o apoiou, pelo PMDB diversos candidatos ao governo também não se apaixonaram pela candidatura do candidato tucano. Mesmo dentro do PSDB, Tasso Jereissati e até Paulo Renato, então ministro da Educação, viram suas pretensões serem patroladas por Serra na disputa dentro do partido, e, pelo menos destes dois, Tasso claramente fez corpo mole na campanha. Aécio também não se expôs pela candidatura do PSDB à presidência. Serra aprendeu, e como!, e só se dispôs a enfrentar Lula em 2006 caso o partido entrasse unido na disputa. Como isso não ocorreu, vendo pra onde se encaminhava a disputa, soube vender caro a candidatura para Geraldo Alckmin.
Ocorre que o PSDB, ou melhor, Alckmin, não aprendeu com o erro do companheiro de partido, e entrará na disputa à prefeitura de São Paulo da mesma forma que Serra em 2002. Talvez pior, com mais portas fechadas, e fechando outras que poderiam ser abertas para as eleições de 2010. Não terá o apoio de siglas de peso, e terá um partido dividido nesta próxima disputa. Sua relutância em manter a coligação expõe não só a sua candidatura à prefeitura, e, caso perca, deixará ao grupo do PSDB que apóia Kassab o direito de lhe fechar as portas do partido para a sua candidatura ao governo. Suas recentes declarações sobre Quércia, a quem procurou, mas não atraiu, dificultam até o uso de um palanque comum na eleição de 2010, em um acordo já fechado por Serra e Kassab. Pode ser um argumento usado pelos "Kassabistas do PSDB".
Em outra recente declaração desastrada, sobre a convenção nacional para a escolha do candidato à presidência, disse o que pode até agradar os tucanos de Minas, mas são os de São Paulo que decidirão a candidatura ao governo do seu estado. Caso haja dúvida se fará corpo mole, é provável que não lhe reste outro caminho a não ser o de sair do partido para concorrer ao governo em outra legenda, ou se contentar com uma candidatura ao senado, isso se alguém na época não exigir a vaga.
Sua eleição à prefeitura paulistana, da forma como está se desenrolando, é um risco político e tanto, mas ... cada cabeça uma sentença.

4 comentários:

Anônimo disse...

Eu não gosto do PSDB mais do que gosto do PT. Se eu pudesse,e para criar uma imagem forte, morreria desidratado de tanto cuspir na cara dos dois.
Eles,os políticos,no meu entender são menos que os animais das savanas africanas. Assistindo um documentário sobre os bandos de leões do Serengueti, verifica-se que a hierarquia no bando prevalece em benefício comum.
O povo fica assistindo essas manobras repletas de picaretagens, cretinices,partindo dos caciques que comandam poucos índios se degladiarem e sem sentirem um mínimo de vergonha na cara.O povo, compondo uma maioria silenciosa joga todos na vala comum e na mesma nau dos vagabundos que só pensam em mamar nas tetas da viúva distraida.

Abreu disse...

Mais do que ciência, a política é uma arte tão difícil de ser executada como também de ser compreendida.

Não apenas fazer, mas compreender política é algo fundamental na vida dos seres vivos.
Tal como os animais ditos irracionais, nós humanos a exercemos desde quando somos concebidos.
Neste sentido, alguns são mais bem dotados que outros e dão-se melhor na vida — mesmo sem fazerem conceções de caráter ético.

Aliás, manter a dignidade, a compostura e não se perder — inclusive na lealdade e observância de bons princípios praticados ao logo de uma vida é coisa que parece pouco observada pela mairia dos homens dados à política partidária.

E a nós, eleitores?
Que papel é reservado?
Depende!
Só depende de nós mesmos.
Podemos agir sangüineamente e sair generalizando, reclamando que todos sejam iguais, que sejam farinhas do mesmo saco, etc et all.
O problema é que essa atitude nos aproxima dos "maus amados" — aquele(a)s que, rejeitado(a)s pela(o)s parceira(o)s, passam a falar mau e a também rejeitar o sexo oposto.
Bobagem!
Precisamos mesmo é ser mais vigilantes e lutadores, pouco importando se para isto precisemos digladiar mais ou menos, já que ir à luta será sempre o que nos restará.

Pelo que consta, Geraldo Alckmin é um homen honesto, honrado, decente e teve seu governo aprovado linearmente por cerca de 70% dos paulistanos durante todo o tempo em que exerceu seu mandato.
Isto não é pouco.
Mas "quem é" Geraldo Alckmin?
A que grupo político se alia?
Quem são seus aliados?

Alckmin sempre foi ligado a Mário Covas — que era "meio independentão" — e isso (ao meu ver) parece incomodar aos seus companheiros de partido.

Bem jovem, Alckmin (ouvi isto, dias atrás, em entrevista de Gerson Camata a uma dessas TVs fechadas — que sem me lembrar qual, sei que não era nenhuma dessas oficiais, tais como Câmara, Senado, etc.), foi secretário da Casa Civil de Franco Montoro, quando este montou um governo que exibiu as qualidades de gente como Mário Covas (então nomeado prefeito de S.Paulo), José Serra, seu secretário de planejamento e Fernando Henrique Cardoso, que assumiu sua cadeira no Senado.

Eu gosto do Alckmin.
Não o conheço, mas acompanhei seu governo.
Teve falhas, mas "perfeito" mesmo, só o apedeuta!

Mas o que importa analisar (ao meu ver) é o o fato de que Alckmin quer manter sua sobrevivência política enquanto seus adversários internos querem dizimá-lo para que não o tenham como forte concorrente.

Não é seguro que em 2010, Serra concorra à presidência da República.
Quem pode garantir?
Não concorrendo à presidência, restar-lhe-á concorrer à reeleição.
Neste caso, que garantia se dá a Alckmim que que terá a leganda à sua disposição?
Por outro lado, não é de hoje que ouço que Serra ajustou-se com Guilherme Afif Domingos, do DEM, que em 2010, este será o seu candidato a Senador.
Em tal situação, nem esta cadeira seria garantida ao Alckmin.
E então?
Com o potencial eleitoral que possui, será que é justo que ele se ofereça à imolação?

Dizem "por aí" que Aécio NEVES insufla Alckmin contra Serra, para esfranquecê-lo como candidato à presidência.

Não creio que Alckmin confie em Aécio — que em 2006, como medo de magoar o apedeuta, o deixou na chuva, fazendo corpo mole e sem apoiá-lo em Minas.

Em resumo, a história me parece ser esta: Alckmin não confia em Serra que não confia em Alckmin.

E em quem, nós, eleitores devemos confiar?
Em nossos sentidos, sem nos desviarmos como torcedores de times de futebeol ou como seguidores de pregadores religiosos.

O que dificulta essa tomada de decisão é que para adotá-la. precisamos ser cidadãos mais atuantes, exigentes e críticos — e essa não é uma realidade para a maioria dos eleitores no mundo inteiro!

Unknown disse...

Abreu, voce foi quase perfeito. Eu também acho que Serra quer sufocar Alckmin, pois percebeu a grande liderança que Alckmin é. Acho também que Alckmin não tem garantia alguma de que será candidato a qualquer coisa em 2010.
Só acho que vc errou ao dizer que "Alckmin não confia em Serra, que não confia em Alckmin." Eu diria assim: Alckmin não confia em Serra, que teme Alckmin.
Serra percebeu o quão forte Alckmin é, e teme perder o posto de "reizinho" do partido.
Contudo, infelizmente, acho que nesse momento Alckmin deveria recuar. Se for candidato, não terá apoios de peso, nem mesmo do PSDB, que toda a ala Serrista estará no palanque de Kassab (onde fica a fidelidade partidária?). Assim, uma derrota de Alckmin poderá ocasionar prejuizos enormes a ele, tanto eleitoralmente, como dentro do partido, pq passará uma imagem de intransigente. É claro que se ele peitar e for candidato a contragosto de Serra, e, venha a ser vitorioso, ele ganhará uma força capaz de abafar até José Serra. Mas é muito arriscado, pois uma vitória seria um verdadeiro desastre.

Abreu disse...

Flávio,
Escrevi tantas porcarias aqui, que só não apago porque ficaria pior...
Falei demais e poderia ter dito menos, porque só o resumo bastaria.
Um forte abraço,