12 de mai. de 2008

Muita terra, mas pouco alimento

Por Giulio Sanmartini

Aqueles que tem minha idade (64), aprendiam na escola que o Brasil era um país agrícola. Nada mais certo. Desde o advento do ciclo econômico da cana de açúcar, introduzida no reinado de João III na primeira metade do século XVI, essa foi a constante no sistema econômico brasileiro, à cana juntou-se o café. Produtos destinados na sua maior parte à exportação. Agora existe a soja, que o Brasil é o segundo produtor mundial e primeiro exportador.
Enquanto o mundo acompanha assustado a disparada nos preços dos alimentos - que ameaça o combate à fome e provocou convulsões sociais em diferentes países -, as atenções se voltam cada vez mais para o Brasil. Segundo maior produtor de alimentos do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, o Brasil é também a última grande fronteira agrícola disponível no planeta.
Especialistas calculam que há entre 70 milhões e 100 milhões de hectares de terras agricultáveis hoje subaproveitadas no país. São, em sua maioria, pastagens degradadas ou destinadas à criação de gado de forma muito extensiva. E que não incluem a Amazônia, áreas de preservação do Cerrado ou a Mata Atlântica. É uma quantidade de terra maior que o território de França e Alemanha somados. E que supera em mais de 20 vezes o tamanho do Estado do Rio.
De toda forma, está, no Brasil, a única solução para ampliar, em larga escala, a oferta de alimentos no mundo e evitar altas adicionais de preços nas próximas décadas. Mas este é um espaço que só pode ser ocupado com a agricultura após criação de infra-estrutura e aporte de investimentos disponíveis a longo prazo. O que me parece que não esteja interessando ao atual governo, que na agricultura e pecuária adotou o sistema “deixar como está, para ver como é que fica”.
Espera-se que não acorde muito tarde para essa nova realidade.

(*) Foto: sua majestade a soja

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