2 de mai. de 2008

Querem desviar o foco do desmonte da Ufba

Por Chico Bruno

O coordenador do curso de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba), professor Antônio Natalino Manta Dantas, justificou o baixo rendimento dos alunos no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) como conseqüência do "baixo QI - Quociente de Inteligência – dos alunos".
A justificativa e os comentários sobre a cultura baiana foram interpretados, com furor pelos defensores do politicamente correto.
Até agora fiquei na dúvida. Meto ou não a mão nesta cumbuca baiana. Como escolhi em 1975 a Bahia para viver, casei com uma baiana e meus filhos são baianos decidi não ignorar essa discussão que gerou reações imbecis, ignorantes e racistas.
Li artigos de Tasso Franco e Janio Lopo (leia aqui), e ouvi Mário Kertész sobre o assunto em tela.
Concordo com os três. As reações imediatas nos remeteram a um excessivo patrulhamento ideológico, como se o professor Manta não pudesse expressar sua opinião sobre o que quer que seja. Essa é uma atitude preconceituosa numa democracia.
As reações do reitor e do governador foram açodadas, principalmente em função da responsabilidade dos cargos que exercem, principalmente, por que além do que disse o professor, deve haver muito mais coisa errada no curso de medicina da Ufba, do que a nossa vã filosofia imagina.
Tachar o professor de racista é a saída dos que não querem enfrentar o problema principal que é a condição precária da universidade federal baiana e não apenas do curso de medicina.
Quem conhece as instalações da Ufba sabe que elas estão em estado falimentar.
Reduzir a discussão ao exemplo citado pelo professor do berimbau é querer mascarar o fato que detonou todo o imbróglio.
Principalmente, por que o berimbau e o baticum da percussão não é unanimidade na Bahia, no Brasil e no Mundo, afinal, toda “unanimidade é burra”, como definiu Nelson Rodrigues.
O fato principal a ser focado é que o curso de medicina da Ufba foi considerado ruim (nota dois) no teste do Enade.
Vale abrir um parêntesis, para que os leitores entendam que a nota um representa péssimo, dois é igual a ruim, três é regular, quatro é bom e cinco é ótimo.
Quem deve explicações pelos desempenhos sofríveis das universidades federais de Alagoas, Bahia, Amazonas e Pará, é em primeiro lugar, o ministro da Educação, Fernando Haddad, e em segundo lugar os reitores destas unidades educacionais.
Ao governador da Bahia não cabe classificar o professor Manta de “imbecil”, mas sim cobrar do MEC e do presidente Lula que a universidade federal da Bahia tenha um tratamento adequado ao ensino superior, que, aliás, vem sendo desmontada desde os tempos da ditadura.
O resto é conversa fiada de quem quer se promover à custa do professor para ter um minuto de fama na mídia.

3 comentários:

ma gu disse...

Alô, Adriana.

Grande o artigo de Chico Bruno. Colocou bem o dedo na ferida. E parabéns a você por perceber o lado real da ocorrência. Eu já tinha defendido aqui o professor, um pouco na base da gozação. Agora a sério. Quanto ao que o governador falou, não conta nada, porque é um petista e está habituado a falar merda. Se fosse inteligente, teria percebido melhor a coisa e saido em defesa da universidade. Mas nunca que vai falar contra o ministro de seu patrão.
Repetindo você, ô raça...

ma gu disse...

Alô, Adriana.
Permita gastar mais um pouco de espaço aqui, porque não dá para não falar, de outro fato que se soma a este. Carlos José Marques, diretor editorial de Isto É, nº 2008, assina o relato: Fórum de Comandatuba. Manoel Amorim, presidente do Ponto Frio, discursa.
- "Com autoridade moral de quem tem de trabalhar até o fim do mês que vem apenas para pagar os tributos do ano, lamento que ainda tenhamos que fazer doações para a educação de qualidade de nossas crianças. No setor privado, usar o próprio produto é sinônimo de respeito ao consumidor e de confiança na qualidade do que se faz. Sugiro que, como meta para se alcançar uma educação de qualidade, todo político mantenha seus filhos e netos em escolas públicas."

Aplausos efusivos...

Jaques Wagner, dedo em riste e veias saltadas na garganta, atacou:
- "Não admito, eu não admito, e sei que falo aqui em nome dos vários partidos presentes, que o senhor venha imputar unicamente à classe política toda a responsabilidade pelas mazelas do país... Todos somos culpados pelo modelo que existe há 508 anos..."

Se a classe política não é a única culpada por essa situação caótica e ridícula, quem é que seria? Ele quer que os empresários dividam a culpa com eles... Descarados...
Esse político deveria se olhar no espelho e dizer à imagem que estaria vendo - V. Exa. é um imbecil!

Anônimo disse...

Prezada Adriana,
O ensino de uma forma geral deixa a desejar em muitos aspectos.
Antigamente as escolas públicas eram modelo de ensino. Tanto é que escolas particulares também ficavam em pé de igualdade.
Como exemplo, tanto fazia estudar na Puc do RJ quanto na Universidade do Brasil - década de 1960/70. A diferença era somente em função de uma ser paga e outra ser do governo. Aprendia-se muito porque o ensino era de 1ª linha e os professores muito exigentes.
Para entrar na universidade tinha que fazer concurso e era difícil.

Agora o mundo mudou, os professores mudaram e também os alunos e é o que nós vemos em diversas faculdades ou universidades.

O governo deveria ser mais atencioso para com o ensino base. Como o Brasil precisa de técnicos em todas as áreas deveria ser direcionado o ensino para áreas específicas, não estimulando consumo de cursos superiores que não levam a nada com o tal do Prouni.
Não adianta nada uma pessoa ter curso superior se não há estimulo para o crescimento da indústria, do comércio.

Agora, quanto aos políticos do famigerado pt com seus seguidores, era de se esperar as mazelas vistas no Brasil.