3 de mai. de 2008

Ser ou não ser político?

Por Onofre Ribeiro é articulista do jornal Diário de Cuiabá e das revistas RDM e Centro-Oeste

Tenho sido consultado constantemente por pessoas que se interessam em participar da política. A pergunta, invariavelmente, é: “o que você acha da minha pretensão de entrar para a política?”. Quase sempre são candidatos a vereador, a prefeito ou a deputado. De minha parte, invariavelmente, desaconselho. Política tornou-se coisa de profissionais. Entenda-se por profissionais a forma menos construtiva.
É muito caro conseguir um mandato, porque os partidos políticos têm “donos”. Depois, se conseguir vencer a barreira do partido, tem os custos da eleição. Depois, se eleito, tem os custos de se manter. São altíssimos. E, por fim, conviver com o mandato é uma barra! Na estrutura partidária atual, cada um é dono de si e tem que se manter sozinho, à própria custa. Daí o custo do mandato. O partido é só uma exigência burocrática legal, na qual os líderes têm o melhor espaço e negociam todos os interesses em nome da bancada. Raramente, um parlamentar eleito consegue ter visibilidade isolada frente ao dirigente do poder executivo. Anda sempre a reboque dos líderes que, por sua vez, “governam” bancadas sem expressão.
O eleitor, na realidade, não elege um representante quando vota. Elege um cidadão ou cidadã que vai passar quatro anos brigando para tentar se posicionar dentro de um sistema pacientemente construído e desconstruído ao longo do tempo por meio de casuísmos que concentram o poder nas mãos de quem é profissional. Fora disso, em todos os níveis parlamentares, só têm amadores. De quem é a culpa, perguntaria o eleitor? A culpa é do sistema partidário montado no país a partir de 1967 quando os partidos pós-1945 e o Estado Novo de Getúlio Vargas foram extintos. Depois, em 1979 houve outra reforma partidária bem encomendada no regime militar. Ainda dentro do mesmo regime, houve mudanças chamadas de “casuísmos” que nunca pararam. A cada eleição, acha-se um jeitinho de combinar interesses que acabam por anular a eficiência prática do voto do cidadão.
Na realidade, o Brasil vive um regime democrático de faz-de-conta, já que o voto não tem o sentido de representação do cidadão. O que o voto faz é indicar um intermediário que termina por se escravizar aos custos e às sutilezas do sistema partidário e não tem espaço para produzir mudanças que a sociedade dele espera. Isso, sem contar que o Executivo joga o tempo todo com o Legislativo para poder governar. A Constituição de 1988, a partir da qual as constituições estaduais e os regimentos das câmaras de vereadores derivam, tirou poderes do Executivo e deu-os ao Legislativo. Era uma proposta filosófica de não permitir mais golpes de estado. Mas o desvirtuamento transformou isso em mecanismo de negócios, na medida em que o Executivo “compra” favores do Legislativo, que “vende” favores ao Executivo.
Mas esse espaço comercial não pertence a todos os parlamentares eleitos em todos os níveis. Pertence, como já disse, aos líderes partidários e os de bancadas. A pergunta inicial, sempre respondo com outra pergunta: “o que você vai fazer lá onde todos os que não lideram são meros instrumentos de negociação de interesses confessáveis ou não?”. Mas se o leitor insistir em querer saber como tudo isso pode terminar, a resposta é uma só: através de uma reforma política, que não interessa a ninguém com mandato.

Um comentário:

ma gu disse...

Alô, Adriana.

Partindo-se destas bem traçadas linhas e seu 'cqd' (conforme queríamos demonstrar), não fica claro que instituir o financiamento público das campanhas seria mais uma despesa absolutamente desnecessária a sangrar o tesouro da viúva, que está cada vez mais viúva, de tanto sustentar aspones executivos e legislativos?