23 de mai. de 2008

Uma Desagradável Constatação

Por Giulio Sanmartini

Foi em maio de 1996, que voltei para Belluno, minha cidade natal, de onde tinha saído há 50 anos, período que morei no Brasil.
Entre os pouco mais de 30 mil habitantes, encontrei 4 brasileiras, uma operária, outra ajudante hospitalar, mais um uma cozinheira e finalmente uma garçonete.
De 2002 para cá, entraram pela cidade mais de mil brasileiros, eram descendentes de italianos que haviam emigrado para o Brasil entre o final do século XIX e Início do XX. Esses tinham direito à cidadania italiana, que depois de obtida os deslocava para outros países da União Européia e lhes permitia a entrada nos Estados Unidos sem o visto. Todavia, umas 3 centenas ficaram por aqui mesmo, a grande maioria trabalha nas industrias de óculos (uma das maiores do mundo), mulheres empregam-se como faxineiras e garçonetes. Suas vidas tiveram uma mudança radical em qualidade. Tem direito a serviço médico de excelente qualidade e escolas para os filhos livres de pagamento. Nas cidades onde nasceram não tinham nem condições de férias, como que ganham aqui estas são passadas no Brasil. Isso para citar alguns poucos exemplos.

(*) Foto: emigrantes italianos chegados ao Brasil no fim do Século XIX
O que aconteceu é que a Itália miserável que obrigava parte da população a procurar um futuro em outros países, entre estes o Brasil, ficou rica, é a sexta economia mundial, enquanto o Brasil empobreceu.
Números do Instituo de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) explica esse novo fenômeno. Quase metade (46,6%) da população brasileira entre 15 e 24 anos, hoje estimada em cerca de 40 milhões de indivíduos, está sem emprego. Deste contingente, 9,7 milhões vivem em famílias com renda per capita de até meio salário mínimo (R$ 207,50), 12,5 milhões não tinham concluído o ensino fundamental e 1,4 milhão é constituído por analfabetos. No que se refere à educação de nível superior, e tomando como universo de comparação os países da América Latina e do Caribe, o Brasil está em último lugar. O número de brasileiros com idade entre 20 e 24 anos que freqüenta a universidade é de apenas 213 por grupo de 10 mil habitantes. Menos que a Colômbia (232), México (225), Argentina (531), Bolívia (347) e Venezuela (389). A nação está numa situação perigosa, pois vive do otimismo exagerado ou inexistente, de um governo insano. Até Quando?

3 comentários:

ma gu disse...

Alô, meu caro Giulio.

A pergunta, no fim de seu ótimo post, infelizmente tem uma resposta definitivamente pessimista. A quadrilha que se instalou no poder tem poucas chances de ser apeada de lá. Os eventos que temos assistido ao longo destes 5 anos, nos autoriza a pensar que o picadeiro vai funcionar por muitos anos. Sem chance de mudar. Já vi esse filme antes, em outros lugares. Começou em 1917, no império russo.
Todos os indícios estão presentes aqui. A manutenção da maior parte da população na ignorância; uma grande quantidade de votos garantidos em troca de bolsas; o inchamento da nomenklatura, com salários de marajás; um Congresso cooptado por dinheiro e facilidades (infelizmente ontem a pequena reserva moral existente lá foi sangrada pela perda de Jefferson Perez, ficando este elogio à guisa de epitáfio), e muitos outros aspectos que ficaria longo e enfadonho registrar neste pequeno espaço.
Não tenho esperanças. Esse circo vai durar muitos anos. É provável que não dure para sempre, porque aquele que foi instaurado pela força das armas, na Russia, durou 70 anos. Acabou caindo. Mas substituido por outro monstrengo que quase dá o mesmo resultado que o sistema anterior.

Ralph J. Hofmann disse...

Magu

Tens de olhar o tempo do Tzares para entender a Rússia. O Russo sem um regime autoritario é que nem aquelka criança que quebroiu o braço e depois de tirarem o gesso quando está curadsa chora por se sentir exposta.

Li dois livros bem piegas da Condessa de Ségur quando era menino. Um era "A Pousada do Anjo da Guarda" e a sequela era ""O General Dourakine". Mostram franceses indo viver na Rússia após a Guerra da Criméia e o ambiente opressivo da Okrahna (equivalente ao tempo dos Tzares da NKVD).

O ambiente é o mesmo de romances modernos sobre a vida na Rússia nestes 80 anos.

ma gu disse...

Alô, Ralph.

Obrigado pela recomendação dos dois livros. Vou ver se acho. Piegas ou não, sempre é interessante comparar épocas...