25 de mar. de 2007

Infinito enquanto dura

Por Adriana Vandoni

Segundos mandatos são cruéis e geralmente representam desgaste para o governante. O instituto da reeleição, de tão nocivo, deveria ser banido do sistema político brasileiro. Mas, este é o Brasil e uma reforma política habita as gavetas do congresso há anos, resta-nos adaptar às distorções brasileiras.
O grande potencial eleitoral no final do primeiro mandato, geralmente cobra seu preço a partir da segunda metade dos segundos mandatos executivos, quando a gestão já segue trôpega, e como o ocupante não poderá candidatar-se novamente, escândalos e denúncias começam a surgir, e “seu grupo” político, já com os olhos voltados para o sucessor, cobra os desejos não satisfeitos nos anos de mandato. Surgem daí os traidores e alpinistas políticos com a “coragem” que em anos anteriores lhes faltaram. Junte-se a isso a enorme carência da população, sempre com tantas necessidades não resolvidas, e teremos um final de mandato pronto para virar a página política de uma região.
Apesar disso geralmente acontecer na segunda metade do segundo mandato, em 2006 já tivemos exemplos precoces de desgaste de alguns governantes. Lula claramente não possui um projeto administrativo (o PAC é uma piada), muito menos tem possíveis sucessores de sua inteira confiança, já dá indícios de que a segunda metade de sua gestão se arrastará imediatamente após as eleições municipais do ano que vem, ou mesmo antes, no período de convenções. Ciro Gomes já percebeu isso e, tendo participado do primeiro mandato como ministro, tenta agora desvincular seu nome deste governo.
Em Mato Grosso acontece o mesmo, mas por motivos diferentes. Mesmo tendo sido reeleito no 1º turno, a negociação para a formação do palanque de Blairo Maggi deixou feridas profundas, algumas com aparente cicatrização, mas outras permanecem purgando. Não poderá se reeleger, óbvio, e durante seu primeiro mandato desfez de alguns companheiros, aliou-se a outros nem tão companheiros assim, mas todos, no frigir dos ovos, estarão com suas feridas reabertas. Seu modo de fazer política no lugar de ser partidária é empresarial. Por esse motivo descarta aliados sem sutilezas, não por ser sincero, mas por só saber se relacionar empresarialmente.
Seu sonho cor-de-rosa de suceder Lula, prematuro e míope como projeção política, vai fazer com que ele se afaste cada vez mais das suas funções no estado, agravando o desgaste natural. Não existe o cargo de governador nacional. A declaração do seu desejo presidencial foi imatura politicamente e instigou em seus adversários e aliados os mais primitivos sentimentos.
A percepção da população, mesmo que ainda esteja germinando na mente, é de que o Blairo de agora é diferente daquele de quatro anos atrás. Hoje já não existe o manto do propósito coletivo, existe apenas a desnudada busca por mais e mais conquistas pessoais e empresariais.
É, a perspectiva do poder é muito mais excitante que o exercício dele, posto que é efêmero, volúvel e traiçoeiro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Adriana - Leio e gosto muito de seus artigos e até já publiquei vários em meu Blog, dando os devidos créditos é lógico. Eu sou de opinião que uma mandato de menos do que oito anos, é muito curto para que resultados de meio prazo possam aparecer e quando se muda o governo existe sempre a casualidade deste novo governo não continuar a obra do outro. Então tive uma ideia que já divulguei várias veses sem nenhum comentário:
Um mandato apenas de oito anos com um referendo bienal para avaliação do presidente. Se reporvado no referendo convoca-se uma nova eleição em tempo conveniente.
O presidente do senado assume durante o tempo da eleição.
Propaganda mentirosa sobre os feitos do governo, levam à reprovação e perda de mandato.
O seu atual artigo que gerou este comentário, colocou o dedo na ferida.
Roberto