17 de abr. de 2007

Procura-se um menestrel

Por Adriana Vandoni
“Se eu pudesse renascer hoje, havia de dedicar todo o meu tempo novo a uma campanha de restauração da dignidade da vida do país”. Teotônio Vilela.
Era uma palestra de boas vindas aos calouros com seus pais, do curso de Engenharia de Produção de uma faculdade em São Paulo. Uma explanação completa desde o objetivo do curso, o mercado de trabalho e a apresentação de um programa de trainee elaborado pela faculdade. O palestrante disse que muitos começam como trainee e são contratados. Ao escutar isso comentei com meu filho, o calouro: que legal, já pensou você sair empregado?
- Esqueça isso, mãe. Formando eu quero é sair deste país. Aqui só cresce quem rouba.
Fiquei chocada com o descrédito dele em relação ao Brasil. Já tinha percebido o mesmo sentimento com alunos em sala de aula, mas meu filho?!? A partir desse momento resolvi começar uma campanha em busca de menestrel:
Procura-se um menestrel que se abnegue das benesses oficiais, que sinta a agonia dos jovens e faça renascer ideais. Os caminhos da vida sempre são tortuosos, esta é a graça da vida e a essência da razão de ser. A busca contínua por ideais é o bálsamo que nos encanta e nos faz vivos. Sem essa fé e sem essa busca a vida seria sem graça.
Por acreditar que ter um ideal é importante, que hoje me pergunto: aonde foi que o Brasil se perdeu? Quando foi que o Brasil perdeu seus idealistas, seus sonhadores, seus lutadores? Conquistamos a democracia graças àqueles jovens da década e 70 e 80 que nos ensinaram o valor da liberdade. E hoje, onde é que eles estão? Vejo hoje em meu país que a população está carente de atuação política. Vejo pessoas de bem entregando os pontos e se questionando se vale à pena adotar os princípios éticos em suas vidas ou, na melhor das hipóteses, questionando quais princípios éticos e democráticos devem orientar suas condutas.
Passado mais de vinte anos de conquistarmos a democracia, com pesar vejo jovens, como meu filho, cheios de vida sonhando em deixar o Brasil porque alguns daqueles antigos idealistas que lutaram por um Brasil livre, perderam a alma e emporcalharam o país. Reduziram o idealismo de outrora a conchavos para manutenção do poder a qualquer preço. Poder, cargos, poder... Muitos estão no governo tentando implantar uma tal coalizão que nada mais é que a tentativa de fundir ideais para violar os princípios democráticos, quando não, estão servindo aos interesses dessa tal coalizão. De que valeu o esforço, então? A sim!, para uns poucos que hoje mensuram seus antigos ideais e os converte em polpudas pensões vitalícias, valeu.
Não! Não podemos nos orgulhar disso. Que democracia é essa a brasileira, que no lugar de assegurar a cidadania, expulsa a juventude? Essa geração desencantada não possui motivos para amar ou sentir orgulho desta terra.
É!, precisamos de um menestrel, de um líder que confronte a torpeza deste governo medíocre que absolve e se alia a um Jader Barbalho. Precisamos de um “Menestrel” que desperte nos jovens a paixão por um ideal e que nos faça acreditar que um Brasil ainda é possível.
Procura-se um “menestrel”, como aquele velho menestrel que existiu nas Alagoas. Aquele que acreditou que o Brasil era possível e espalhou esperança por onde andou. Quem dera ele fosse mesmo, como fora chamado algumas vezes, um El Cid Campeador, cavaleiro espanhol que ganhou batalhas mesmo depois de morto. Quem dera! Se fosse, sua coragem e determinação estariam vivos e o Brasil não padeceria de esperança.
Será quantos jovens deixarão o Brasil até que surja um novo menestrel como aquele das Alagoas?

3 comentários:

Anônimo disse...

Adri !!!

Estou emocionada e com o rosto molhado de lágrimas.Que coisa mais
linda e verdadeira.Obrigada!!!!!!!

Abreu disse...

Adriana,

Seus filhos, meus filhos e os de muitos dos seus leitores [que não desnaturam as orígens e os pais] parecem pensar e agir de forma muito parecida. Eles estão muito certos, admitamos.

Esta é a terceira vez que me ponho a esccrever estas 'mal traçadas linhas'. Das duas anteriores, desisti, quando reparei que já passava de 2 mil e tantos toques... discordando do que Você escreveu quanto "à busca de um novo menestrel".

É raro discordar de Você — e estou certo de que nem isto está acontecendo — e provavelmente verbalizando nossa sensibilidade de modos distintos.

Discordando, eu conconcordo/ei em "quase tudo" com Montoro, Covas, FHC, Serra, Alckmin... [íííxmaria, tô mintregânu, quiçô paulishta, né?]. Vejo e acolho esses expoentes públicos como "faróis", mas não como "ídolos".

Os que já se foram, tais como Covas, Montoro, Richa, Tancredo, Theotônio, Ulisses [Brizola, por que não?], e outros, fazem falta, mas não os tive nem quero tê-los sequer parecidos como 'Messias', que precisem ser enaltecidos como tais.

Não espero ninguém mais como nenhum deles — nem procuro. Gostaria que novos valores fossem únicos e melhores. Gosto de lembrar-me deles, pelos feitos e bons exemplos que nos legaram.

"Sei lá, entende"?

Um forte abraço,

Anônimo disse...

Dona Adriana
Nossos filhos perderam a esperança bem antes de nós. Nós a perdemos na meia idade, êles quando mal sairam de adolescência. Perguntei ao meu filho que esta quase formado em Engenharia de Computação numa universidade públida deste Rio Grande o que vai fazer após formado. A resposta,- Vou embora desta latrina moral, ética e política em que transformaram o Brasil. Perguntei qual o real motivo de tanta desesperança êle citou-me como exemplo.
Durante os tais dos anos de chumbo fostes ferido em serviço por um dos tais "revolucionários". Pelo ferimento recebido fostes aposentado com menos de 5 salários mínimos, enquanto êle, como perseguido político, recebe quase 20. Tu estavas trabalhando dentro da lei e êle fora da lei. Pode chamar isto de justiça? Vou embora para qualquer lugar onde tenha um salário justo e que respeitem minha condição de trabalhador e ser humano.
Embora seja nosso único filho,minha esposa e eu estamos economizando o possível para realizar o sonho dêle.
Abraços e felicitações pela sabedoria de suas colunas.
Vida longa e próspera.