26 de mai. de 2007

Comeu a carne, Governador?

Por Adriana Vandoni

O governador de Mato Grosso resolveu instituir no estado a figura do primeiro-ministro. Sua idéia é transferir ao vice-governador as incumbências que cabem a ele, como governador. Não se pode dizer que seja uma espécie de Parlamentarismo Caseiro, uma vez que o Legislativo, ou seja, o Parlamento, pouca ou nenhuma autonomia possui, nem almeja isso. Na verdade nosso legislativo está sempre buscando uma forma de ser governista.

Segundo as declarações do governador, o vice passa a responder pela administração do governo. Será dele a responsabilidade pelos atos do secretariado na condução dos serviços prestados pelo Estado. Mas nem tudo é bônus, também será dele a responsabilidade pela baixa qualidade da educação no estado, pelo pouco caso com os profissionais públicos das mais diversas áreas, pelas deficiências nos atendimentos de saúde e pelo caos na segurança, demonstrado cabalmente nesse episódio ocorrido ontem em Rondonópolis, quando usaram balas de verdade ao invés de balas de festim, causando tragédia por incompetência e despreparo, isso, claro, pelo descaso de um governo que se preocupa mais com soja - e agora com milho também - do que com vidas. Absurdo!

Parece um fardo e tanto, não? E é. A situação no estado está muito pior que supõem o governador, que elencou como três áreas prioritárias a segurança, a saúde e a educação. Se tivesse parado um pouco mais aqui saberia que não adianta “concluir a reforma geral em todas as escolas da rede pública de ensino até 2010”. São tocadores de obras, apenas! Pensam que administrar o público é apenas asfaltar, construir casas, enquanto os funcionários públicos são tratados como mera parte de um processo produtivo de uma empresa. Reforma nos prédios é o de menos governador! No triste episódio ocorrido ontem em Rondonópolis o culpado não é o responsável que se enganou e trocou as balas, mas os responsáveis pela sua formação profissional. Quanto à saúde, seria bom o governador saber que em Mato Grosso se tem morrido por falta de atenção básica, e que a qualidade da saúde pública piorou muito em seu governo. Bem, mas tudo isto é um problema administrativo que agora compete ao político super-vice. Blairo está saindo de cena destas “coisas pequenas” do estado.

Qual será então a ocupação do governador? O lobby. Blairo Maggi pretende agir como lobista do estado dele. Em uma matéria de jornal li que ele pretende assumir “às vezes de articulador político do governo, posto até então ocupado por Luiz Antônio Pagot, ex-secretário de Educação e considerado “homem forte” no Executivo”. Engraçado, tinha comigo que a articulação política não era incumbência da secretaria de educação, mas por uma questão de função precípua, do Chefe da Casa Civil. Engano meu.

Na mesma matéria Blairo Maggi disse que pretende se ausentar mais do estado, passando uns dois dias por semana em Brasília: “Preciso acelerar os processos e estar mais em Brasília”. Esta função tem dono, é do representante do Estado de Mato Grosso em Brasília. Ah, esse é apenas mais um cargo decorativo, de certo!

Este governo não está com cara de que quer ser governo e o governador está sentindo o peso de tudo que desejou e de tudo que fez. De um governo de quebra de paradigmas, como se dizia, vimos apenas no início os métodos diferentes de trabalhar. Como os objetivos eram os mesmos e antigos do passado, incorporou também seus métodos de apadrinhamento de correligionários e amigos, tudo para ter como retorno o próprio benefício, não do estado. O ápice desse modo de governar é essa “estratégia” de criar a figura desse “super-vice”, onde se entrega o cargo de governador a outro, quando o estado já não lhe tem mais interesse. Seu interesse é outro, mora fora das fronteiras do estado, e para conseguir isso dane-se os votos e os eleitores que o escolheram. Ficamos com a impressão que governar não dá mais, vamos dizer, tesão. Uma pena, por que ficamos com as alternativas de sermos governados por um que não foi escolhido pelo povo ou, caso recue, por alguém que não tem mais interesse pelos assuntos estaduais.

Teria aqui uma lista enorme de provérbios e ditados para dizer ao governador, coisas do tipo: cuidado com o que deseja, pois você pode conseguir, mas, diante da relutância dele em exercer sua função, relutância que o faz esquecer que os votos que ele recebeu foram de pessoas que nele confiaram e que essas pessoas escolheram Silval Barbosa como vice e não como governador... mas parece que retirar a palavra empenhada não lhe causa constrangimento. "Eu vou fazer a interlocução política", disse Blairo em uma entrevista. Pobre homem, mas essa não é função do governador do estado! Não tem saída. Venceu as eleições democraticamente, agora, honre seus votos. Respeite seus eleitores.

Comeu a carne, governador? Agora roa o osso!

Um comentário:

PapoLivre disse...

Brm colocado o argumento, colaborando digo que exixte agora a secundarização do cargo público. Antigamente vice corria em faixa próprisa, depois a fazer parte oficial da faixa segundo dois presspostos básicos: trazer votos ou dinheiro. Hoje ninguém escolhe o vice, vice é vice, você já viu rodovia ou avenida com o nome de vice.