Por Giulio Sanmartini
Morei em Salvador (BA), no ano (1967) em que o médico , jornalista e político Antônio Carlos Magalhães estava começando sua carreira na área executiva, havia sido nomeado prefeito da capital.
Nessa época Salvador era uma cidade provinciana, deslocada no tempo. Passaram-se 16 anos e fui morar em Feira de Santana, todavia com muita freqüência ia à capital e o que me chamava a atenção era a mudança em termos de modernização, que a cidade mostrava.
Antonio Carlos Magalhães, o Toninho Malvadeza ou ACM, jamais me foi simpático (Leia o artigo, “Os detritos dos alagados”, Observatório da Imprensa 26/2/2003) não aprovava de forma alguma seu jeito bandido e truculento de fazer político, o ranço que trazia em seu rastro do coronelismo,
que tantos prejuízos trouxe ao hinterlândia brasileira.
Porém tenho que reconhecer que ACM, jamais foi pequeno, seja nas qualidades como nos defeitos e mais ele era esculpido e encarnado, a própria Bahia. A vida pode não ter sido o que ele tenha desejado, teve grandes dores, mas também não lhe foi de todo madrasta, morreu numa provecta idade sem ter-se degenerado mentalmente o que é um dom.
Com ele se vai um pedaço da história da Bahia e da própria política brasileira.
Detritos dos Alagados
O senhor Antônio Carlos Magalhães está na política há mais de 40 anos, e nesse período foi conquistando seu poder em progressão geométrica e metódica. Bajulador com os superiores, prepotente com os inferiores e com uma implacabilidade staliniana contra os opositores, não podendo eliminá-los fisicamente arruína-lhes a cidadania e os transforma em párias. Na vida manifestou somente um vício, seu ópio: o poder. Seguiu fielmente um ditado siciliano secular: "Mandar é melhor que fazer amor". Foi aumentando seu espaço, da área municipal (Salvador) para a estadual (Bahia) e chegou finalmente a Brasília.
É lícito pensar que seu objetivo fosse o Palácio do Planalto e que essa ambição perdeu-se em grave doença cardíaca que o abrigou a delicada intervenção cirúrgica. Já que havia perdido o bonde para a presidência, preparou o caminho para seu filho e herdeiro político Luís Eduardo, esse também truncado por uma morte prematura.
Em Brasília, nos cargos de ministro e senador, sempre mostrou seu autoritarismo. Um fato emblemático foi o da falência do Banco Econômico: contrariado com o ocorrido, armou com seus asseclas senadores uma marcha sobre o Planalto, tal qual um Mussolini provinciano, numa tentativa de pressionar o presidente a República. Por sorte este não se intimidou e tudo ficou como estava. Mas o vice-rei da Bahia ainda estava para aprontar das suas. Foi traído por ele mesmo, pelo boquirrotismo típico dos canalhas. Jactou-se de ter mandado violar o painel eletrônico do Senado, para saber que posições haviam sido tomadas em votação secreta. Não ficaram dúvidas de que havia rompido o decoro (será que ele sabe o que é isso?) parlamentar e seu mandato seria fatalmente cassado. Valendo-se de esperteza, renunciou, assim poderia alguns meses depois candidatar-se a senador pelo seu estado.
Deu apoio político ao candidato da oposição à presidência da República, foi recebido de braços abertos pelo Partido dos Trabalhadores e elegeu-se senador. Logo mostrou que a derrota no caso do painel eletrônico não o havia desintoxicado de seu vício do poder. Imediatamente embargou a nomeação de um seu desafeto a cargo federal, foi imediatamente atendido pelo governo do PT. Voltou a falar grosso, exigiu a candidatura à presidência da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, mais uma vez foi prontamente atendido. A eleição eram favas contadas. Mas surgiu outro escândalo, escutas aos telefones de seus opositores na Bahia, feita por uma legalidade enfiada a marreta e levada avante por seus vassalos.
As dúvidas de que ele seja o mandante são quase nulas, mas o que é de pasmar são os eufemismos usados pelos grandes jornais brasileiros (Estado de S.Paulo, O Globo e Jornal do Brasil – faça-se exceção à Folha de S.Paulo, no artigo se "Se ACM fosse mulher", de Gilberto Dimenstein). São algumas centenas de violados pelos grampos, um deles a advogada Adriana Barreto. Primeiro a imprensa a tratou de "amiga" do senador, depois de "ex-amiga" e agora de "ex-namorada". Claro que ACM sempre foi seu amante, era de domínio público na Bahia. Em Brasília, usou o dinheiro do estado dando-lhe emprego e mordomias.
O senador é um homem casado, o que se diz de sua mulher? O que ela pensa do caso? Tudo passa mais ou menos em branco. ACM pensou que, como o pássaro mitológico Fênix, renasceria das cinzas, mas ele renasceu como um urubu que vive e se alimenta dos detritos e carniças nos Alagados.
Em Brasília, nos cargos de ministro e senador, sempre mostrou seu autoritarismo. Um fato emblemático foi o da falência do Banco Econômico: contrariado com o ocorrido, armou com seus asseclas senadores uma marcha sobre o Planalto, tal qual um Mussolini provinciano, numa tentativa de pressionar o presidente a República. Por sorte este não se intimidou e tudo ficou como estava. Mas o vice-rei da Bahia ainda estava para aprontar das suas. Foi traído por ele mesmo, pelo boquirrotismo típico dos canalhas. Jactou-se de ter mandado violar o painel eletrônico do Senado, para saber que posições haviam sido tomadas em votação secreta. Não ficaram dúvidas de que havia rompido o decoro (será que ele sabe o que é isso?) parlamentar e seu mandato seria fatalmente cassado. Valendo-se de esperteza, renunciou, assim poderia alguns meses depois candidatar-se a senador pelo seu estado.
Deu apoio político ao candidato da oposição à presidência da República, foi recebido de braços abertos pelo Partido dos Trabalhadores e elegeu-se senador. Logo mostrou que a derrota no caso do painel eletrônico não o havia desintoxicado de seu vício do poder. Imediatamente embargou a nomeação de um seu desafeto a cargo federal, foi imediatamente atendido pelo governo do PT. Voltou a falar grosso, exigiu a candidatura à presidência da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, mais uma vez foi prontamente atendido. A eleição eram favas contadas. Mas surgiu outro escândalo, escutas aos telefones de seus opositores na Bahia, feita por uma legalidade enfiada a marreta e levada avante por seus vassalos.
As dúvidas de que ele seja o mandante são quase nulas, mas o que é de pasmar são os eufemismos usados pelos grandes jornais brasileiros (Estado de S.Paulo, O Globo e Jornal do Brasil – faça-se exceção à Folha de S.Paulo, no artigo se "Se ACM fosse mulher", de Gilberto Dimenstein). São algumas centenas de violados pelos grampos, um deles a advogada Adriana Barreto. Primeiro a imprensa a tratou de "amiga" do senador, depois de "ex-amiga" e agora de "ex-namorada". Claro que ACM sempre foi seu amante, era de domínio público na Bahia. Em Brasília, usou o dinheiro do estado dando-lhe emprego e mordomias.
O senador é um homem casado, o que se diz de sua mulher? O que ela pensa do caso? Tudo passa mais ou menos em branco. ACM pensou que, como o pássaro mitológico Fênix, renasceria das cinzas, mas ele renasceu como um urubu que vive e se alimenta dos detritos e carniças nos Alagados.
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