6 de jul. de 2007

Só o zunzum das rezas

Por Onofre Ribeiro articulista do jornal Diário de Cuiabá da revista RDM

O debate é da natureza da política. São indispensáveis porque eles fazem o contraponto das idéias. Os regimes de governo autoritário pecam gravemente justamente na falta do debate. Toda unanimidade é burra, na leitura do dramaturgo e escritor Nelson Rodrigues. Desse modo, onde existem questionamentos a sociedade se mantém viva, porque pode julgar idéias.
Em Mato Grosso, os dois últimos governos, o de Dante de Oliveira e o atual, de Blairo Maggi, não se debateram, apesar de quase cinco anos de distância entre ambos. Dante não se elegeu senador cinco meses depois de deixar o governo, e Maggi elegeu-se com menos de 90 dias de campanha. Não houve debate durante a campanha eleitoral, porque tudo indicava a eleição do senador Antero Paes de Barros ao governo, e de Dante de Oliveira ao Senado. Nem uma coisa, nem outra. Mas Blairo Maggi, saído do quase completo desconhecimento aproveitou a brecha e elegeu-se.
Um dos primeiros atos de seu governo foi o de levantar a famosa “Caixa Preta”, que acabou por abaixar a cabeça do adversário derrotado meses antes. “Dante ficou no ar por um ano absorvendo a derrota”, disse-me ontem o historiador Alfredo da Motta Menezes. Depois desse um ano começou a freqüentar a sociedade, os bares que gostava e a discutir política novamente. A “Caixa Preta” foi desvendada na Assembléia Legislativa numa comissão presidida pelo adversário, o deputado Zé do Pátio, que não encontrou o escândalo anunciado.
Mas a denúncia fez um bom estrago. O eleitor que não votara em Dante achava agora uma justificativa tardia para o seu voto contrário. Morriam ali os debates políticos em Mato Grosso desde então. O governo Blairo Maggi conduziu-se burocraticamente nos primeiros quatro anos por desnecessidade de executar quaisquer atos políticos. Já em 2007 ele próprio admite que não será mais o gerente administrativo, e se dedicará à política. Tem uma burocrática oposição na Assembléia Legislativa, um pardo desinteresse da bancada parlamentar federal pelas coisas do governo estadual, um apetite voraz por dinheiro público pelos poderes Legislativo, Judiciário, Ministério Público e Tribunal de Contas. Nada que uma boa negociação financeira não resolva.
Com a sociedade, o debate é rigorosamente inexistente. As ilhas de descontentamento conversam entre si e não saem a público por falta de interlocução. Não existe no poder público quem possa discutir ou negociar com os setores insatisfeitos no estado. A rigor, os descontentamentos aparecem nas pesquisas de opinião e são ignorados posteriormente. Sem interlocução, não há debate. Prevalece o mutismo.
O esboço de debate iniciado na troca de orientação do governo em 2003, não foi adiante, porque, de um lado Dante de Oliveira “estava no ar”, digerindo os resultados das urnas, e unilateral, acabou não prosperando porque seu sucessor não tinha oposição e nem contraponto. Discutir o que, então?
O que se pode dizer neste momento é muito grave: Mato Grosso caminha em silêncio, como no velório onde só se ouve o zunzum das rezas convencionais. Não se falam o governo e nem a sociedade. Tipo assim, está tudo bem, então, pra que conversar?

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