Tudo combinado no podre Senado

Por Pedro Oliveira - Jornalista e presidente do Instituto Cidadão

Um país estarrecido, mas não surpreso, viu mais uma vez do que são capazes os nossos senadores quando a questão é a preservação de seus mandatos, suas imorais prerrogativas e a ação corporativa para proteger os iguais. Com as vísceras podres escancaradas, uma reputação digna de endereço de bordel e sem nenhum constrangimento, afrontam a todos acreditando que diante de uma sociedade indignada, mas apática, nada acontecerá e tudo seguirá em frente da mesma maneira, no mesmo lamaçal.
O presidente do Conselho de Ética (sic), Leomar Quintanilha, o mesmo que está sendo processado por improbidade administrativa e ações imorais na Administração Pública, reenviou o processo contra o presidente do Senado, Renan Calheiros, para a mesa diretora com o evidente propósito de postergar o julgamento, numa atitude considerada deplorável. Justificou que a decisão se baseou em parecer jurídico de técnicos da Casa. A mesma Casa onde Renan dá as ordens e é o chefe maior dos que elaboraram o parecer. Pensam, por acaso, que somos todos idiotas?
“Passei o fim de semana estudando os pareceres e decidi, dentro de minhas atribuições, encaminhar o processo para o necessário saneamento”. Afirmou um Quintanilha maroto no qual ninguém acredita. Seria mais adequado dizer que passou o fim de semana em combinações espúrias, sob as ordens de Renan e sua tropa de choque, buscando meios (mesmo que imorais) para livrá-lo de um julgamento recheado de provas de seu envolvimento com a falta de decoro parlamentar, o que culminaria com uma possível cassação de seu mandato.
Quintanilha junto com o patético Romero Jucá e outros da base podre do Senado trabalharam muito para engendrar no fim de semana mais uma farsa que cobre de lama o Senado Federal, se é que isto ainda seja possível.

A oposição reagiu acanhada diante da ação dos golpistas. O senador José Agripino (RN) declarou que “o plenário vai fazer valer a sua opinião, e está é soberana. Tudo isto tem cheiro de armação”. Já o relator “desconvidado” Renato Casagrande foi mais além: “Está claro que hoje o Conselho de Ética não responde aos anseios da sociedade, que cobra investigações sérias quando um parlamentar se envolve com acusações sérias, como ocorre com o senador Renan Calheiros”.
A imprensa não tem poupado críticas às armações articuladas a partir do gabinete do presidente do Senado em busca de sua salvação. Jucá cumpre o papel de principal articulador e praticamente “mora” no gabinete de Renan. Do grupo de conspiração ainda fazem parte os senadores Valdir Raupp (RO), Wellington Salgado (MG), Gilvam Borges (AP) e Almeida Lima (SE). Trabalham fazendo todos os esforços para sepultar o processo, mesmo à custa da desmoralização total do Congresso.
Vários juristas têm se pronunciado pela legalidade das ações do Conselho de Ética e encaram seu retorno à mesa apenas como uma ação protelatória para amparar Renan Calheiros. O líder do PSDB, senador Arthur Virgilio, em nome de sua bancada condenou veementemente a indecente protelação: “O PSDB exige que o senador Renan Calheiros se submeta a julgamento no Conselho de Ética. É a grande oportunidade que tem de se defender. Caso contrário, poderá sofrer condenação pela opinião pública. A crise poderá aprofundar-se, carregando com ela toda a instituição parlamentar, que nos empenhamos em defender”.
Com o objetivo de pressionar o Senado começam a surgir no Brasil, várias instituições e entidades da sociedade civil, em busca de organizar um grande movimento nacional de mobilização contra a postergação de um julgamento que está envergonhando a Nação.