12 de jul. de 2007

Um Exemplo de Jornalis a Ser Seguido

O editorial do jornalista Ricardo Noblat pedindo a renuncia de Renan Calheiros é antológico, um exemplo de como se faz bom jornalismo, deveria ser levado às aulas na Faculdades de Comunicação, para que os jornalistas do futuro o tenham como um exemplo a ser seguido. (G.S.)

Fora, Renan!
(Editorial do blog de Ricardo Noblat)
Diante do grave momento político que vive o Congresso, este Blog resolve assumir suas responsabilidades e diz o que vai na alma de expressiva parcela dos brasileiros: ninguém agüenta mais a cara feia e o cinismo do presidente do Senado Renan Calheiros, que dia-a-dia consegue avacalhar ainda mais a imagem do Parlamento perante o país.
Hoje de manhã, chegamos ao fundo do poço: o primeiro mandatário do país e chefe do Poder Executivo, o presidente Lula, pediu que o ocupante do quarto cargo mais importante da República, justamente Renan, evite presidir a sessão desta noite do Congresso destinada a votar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
A oposição promete obstruir a sessão se Renan cumprir a ameaça de exibir sua cara-de-pau no plenário.
Ou seja, aquele papo do velho Montesquieu, de que os poderes são harmônicos, autônomos e independentes entre si, foi para o vinagre. Renan atrapalha o processo democrático, foi o que Lula disse com o seu gesto.
O recado foi transmitido pelo ministro Mares Guia, das Relações Institucionais, ao presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), e ao líder do Governo na Câmara, deputado José Múcio Monteiro (PTB-PE).
E, num sinal eloqüente da erosão de sua autoridade política e moral, Renan é que teve de ir ao gabinete de Temer na Câmara dos Deputados para receber o puxão de orelhas lulista. E mesmo assim Renan ainda insiste em dizer que tudo é uma pseudo-crise. Imaginem se fosse uma crise real!
O nível de esquizofrenia de Renan chegou ao auge logo depois da reunião com Temer e José Múcio, ao fingir naturalidade e dizer que "só vai comandar a votação se houver algum problema na sessão".
Renan sabe que não há nenhum problema. Ele finge ignorar que ele – Renan – é o problema, um fator nunca antes visto neste país de tanto constrangimento moral e político para presidir o Senado diante de grave quebra do decoro e da ética parlamentar.
"Se a sessão não ocorrer normalmente, vou botar ordem na casa", ousou dizer Renan antes de desistir de presidi-la. E o disse com a cara feia de cartaginês que assustaria até um Catão.
Mesmo uma mentalidade bovina entende, hoje, que Renan já não bota ordem – o que ele estabelece é a desordem, o caos, a balbúrdia, o motim, a rebeldia do mais pacato e complacente dos senadores ao insistir, de forma desafiadora e quase doentia, que não há problema no Senado e que dali não arredará o pé.
Renan, hoje, é a própria desordem que fere a ordem estabelecida. Deixou de ser um problema político. Está se transformando numa deprimente questão clínica. Logo, logo, vão precisar de uma camisa-de-força para arredar a crise. Não faltarão mãos limpas para tomar tão profilática medida

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