10 de jul. de 2007

Vamos exportar pau-brasil

Por Adriana Vandoni

Há algum tempo alguns economistas respeitados têm cobrado uma maior atenção para a “doença holandesa” ou a “maldição dos recursos naturais” e a sua implicação no desenvolvimento industrial brasileiro.
Doença holandesa é o nome dado à decadência da indústria de um país justamente por este ter um abundância de recursos naturais, ou mais claramente, quando a equipe econômica de um país permite que estes mesmos recursos causem a apreciação cambial. Por mais paradoxal que isso possa parecer, de fato, logo após a descoberta de suas jazidas de gás, a Holanda perdeu competitividade em relação aos seus vizinhos, justamente pelo aumento extraordinário da entrada de dólares no país.
Mas como isso ocorreu? Embora a entrada de dólares – e valorização da moeda holandesa - tenha causado em um primeiro momento uma ilusão de riquesa no país, com maior poder de compra para população pelo aumento de moeda circulante - como o dólar não é a moeda do país, ao entrar é trocado por moeda nacional, ocasionando o aumento de volume em circulação da moeda local -, ocasionou também uma perda progressiva de competitividade dos seus produtos manufaturados, aumentando o desemprego e um consequente empobrecimento da população em relação às nações vizinhas.
Em um primeiro momento essa teoria pode parecer sem fudamento. Como desprezar a entrada de moeda estrangeira com a venda de seus produtos? Na verdade isso ocorre quando alicerçado no comércio de produtos do setor primário, de minérios brutos e produtos agrícolas não manufaturados. Uma política econômica desatenta ou que despreze essa valorização da moeda impede a competitividade de setores secundários e terciários (indústrias e de serviços).
Nos últimos anos já deixamos de ser exportadores de automóveis e diversos outros produtos industrializados, e alguns empresários brasileiros até já mudaram ou abriram filiais em países mais competitivos, como a China. "Estamos perdendo em tudo o que exige valor agregado, tecnologia e conhecimento. Vivemos uma especialização regressiva da indústria", disse recentemente o economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP.
Mesmo argumentações de que nossa balança comercial esteja positiva, inclusive em relação à China, caem por terra quando se vê que exportamos commodities e eles produtos manufaturados, produtos em que foram utilizados mão-de-obra mais especializadas, onde criaram-se tecnologias e formaram-se novos especialistas. Sabemos que quando cessar o atual ciclo de bonança da economia mundial os países que conquistaram “know-how” terão mais facilidades para se manterem no patamar que conquistaram. Não é o caso hoje do Brasil onde em 2006, por exemplo, diminuíram em 18% os investimentos nos setores destinados à fabricação de material eletrônico e aparelhos de comunicação.
Dane-se a indústria, poderão dizer os mais afoitos, o Brasil é um país agrícola!!! Não é bem assim. Na verdade a sobrevivência do campo só é possível devido a sua enorme competência, pois mesmo os enormes e sucessivos aumentos de competitividade da nossa agricultura não significaram lucros maiores para nossos produtores, apenas os mantiveram vivos. Alguns nem assim aguentaram. Os sucessivos aumentos de produtividades por hectare significaram aumento do lucro? Claro que não.
Meses atrás o presidente da Abracex (Associação Brasileira de Comércio Exterior), Primo Roberto Segatto, disse que quando o valor do dólar ficasse abaixo dos R$ 2 a indústria emergente do nosso país estaria inviabilizada. Segundo ele, não havia como “produtos manufaturados competirem no exterior, só commodities”. “Vamos voltar a exportar pau-brasil", disse. Pois é, pergunte aos nossos agricultores se o lucro sobre suas commodities é estimulante.
O alerta do presidente da Abracex foi claro, a apreciação da nossa moeda está ocasionando a perda de competitividade da nossa indústria, ou uma regressão no nosso ainda tênue processo de amadurecimento como competidor mundial.
Quanto à nossa agricultura, infelizmente só será novamente lucrativa quando a perda de competitividade das nossas indústrias estiver clara e indiscutível, quando o desemprego ficar tão evidente que será necessário fazer algo. Só aí teremos medidas que estimulem uma desvalorização que restabeleça sua competitividade, e só assim a agricultura será beneficiada.
Hoje a competitividade do nosso agronegócio atrapalha outros setores da nossa economia e a ela própria, inclusive.

Um comentário:

Giulio Sanmartini disse...

Excelente e compreensível para os simples mortais que desconhecem o "economês".
Parabéns Tia Margot