1 de ago. de 2007

Por quê? – II

Por Peter W. Rosenfeld

Em 20 de fevereiro deste ano escrevi um artigo com o título acima, que depois de tecer comentários sobre a organização e o funcionamento do carnaval carioca, terminava com a pergunta:

Por que o Brasil do Carnaval funciona tão bem, de forma tão disciplinada, e no restante o País funciona tão mal ?

Domingo passado foram encerrados os XV Jogos Panamericanos que, pelo menos aos olhos do telespectador não residente no Rio de Janeiro, funcionaram de maneira primorosa, o mesmo acontecendo com o trânsito da cidade.
Construíram-se estádios, a Vila Olímpica com toda sua infra-estrutura, tendo todos os eventos (à exceção das solenidades de abertura e de encerramento) sido iniciados pontualmente e decorridos na mais perfeita ordem e harmonia.
Comentou-se muito sobre o custo dessas obras, principalmente sobre o custo final comparado com o orçamento inicial; da mesma forma, com o fato de, devido a certos atrasos em algumas obras, elas terem sido executadas sem licitação.
Quanto ao erro do valor orçado, em montante significativo, penso ter sido o único fato sobre o qual podemos nos queixar, apesar de esse tipo de erro ser bastante freqüente no Brasil, logo, deveríamos ter imaginado que isso aconteceria.
Na internet circulou u’a mensagem com dados de alegados favorecimentos a certas pessoas e empresas (de minha parte, não dei curso a essas mensagens, pois envolviam pessoas que, em meu juízo, são absolutamente corretas, incapazes de cometer as venalidades alegadas).
Em primeiro lugar, a ausência de licitação não tornou as obras mais dispendiosas do que teriam sido tivesse havido a concorrência; isso por ser mais do que sabido que o processo licitatório não evita fraudes como tem sido freqüente no Brasil. Não tornou essas obras mais ou menos bem executadas (não li nos jornais ou ouvi nas reportagens na televisão qualquer referência a obras defeituosas, muito antes pelo contrário).
Então, se é possível organizar um evento como o foram os Jogos Panamericanos, por que não é possível organizar o Brasil, para que funcione à satisfação de todos os envolvidos ?
Por que nosso País está à deriva, retrocedendo de maneira brutal em todos os quesitos, exceto no da corrupção e no do aparelhamento do Estado ?
A corrupção se tornou endêmica, até parece que a massa da população já a aceita de forma mais ou menos tranqüila... As denúncias, provadas, são ignoradas pelos envolvidos; aparentemente, nossos corruptos jogam com duas certezas: a da absoluta impunidade e o do esquecimento, que o passar do tempo proporciona. Certamente, todos de nós temos na memória uns tantos casos em que não há a menor dúvida sobre a existência da corrupção; mas a grande maioria dos eleitores, por esquecimento ou por tolerância, aceita que essas pessoas continuem suas vidas como se nada tivesse havido.
O aparelhamento do Estado é mais recente; seu volume aumentou de maneira significativa nos últimos anos. Esse aparelhamento certamente é a causa de muitas das desmazelas que estão ocorrendo no País em quase todos os setores da administração pública federal: educação saúde, transportes(aéreo, terrestre e fluvial e marítimo), estradas, previdência, enfim, nenhuma atividade está infensa a essa degringolada.
Vemos pessoas completamente despreparadas, algumas beirando a ignorância absoluta, nos três ramos do governo: executivo, legislativo e judiciário.
E aí ocorre o problema com o qual os Jogos Panamericanos não tiveram que conviver: a qualidade da gerência.
Qualidade que ocasionou o perfeito funcionamento simultâneo de centenas de atividades nos mais diversos ramos. O Comitê Organizador soube escolher as pessoas que foram encarregadas de cada um dos setores e atividades dos eventos. Foram excelentes administradores que, a sua vez, souberam escolher os que seriam encarregados diretos do bom funcionamento de cada atividade.
Ademais, os bons administradores têm uma outra característica fundamental para o sucesso dos empreendimentos que gerenciam (e que ressaltei em meu artigo de fevereiro): ATITUDE
Querem que a atividade que gerenciam seja exitosa; empenham-se com seriedade para a consecução de seu objetivo (e esse objetivo é lícito, limpo, ao contrário do que presenciamos continuadamente na administração pública, em que o objetivo principal é o do enriquecimento rápido, deixando de lado todo e qualquer escrúpulo).
Para finalizar, posso afirmar que o Brasil tem condições de organizar qualquer evento, por maior que seja como, aliás, foi proclamado pelo Presidente da Organização Desportiva Panamericana no encerramento dos Jogos. Basta que as pessoas envolvidas tenham a atitude para tanto (e, obviamente, a necessária competência ).
O BRASIL PODE FUNCIONAR, SIM. BASTA QUE O POVO ASSIM QUEIRA !

Nenhum comentário: