23 de ago. de 2007

Repondendo

Resposta à carta que recebi do leitor Roberto de Barros Benévolo sobre meu artigo "Vamos Prender Todos...(22/8)"

"O presidente João Goulart (Jango) foi deposto e nunca abandonou o cargo.
Em 01/04/1964, Jango se encontrava no Rio de Janeiro e determinou ao seu piloto que preparasse o Avro presidencial para voar para Brasília, enquanto tentava obter um jato da Varig, chegando a dizer para um de seus assessores: “Vamos, vou sair daqui. Vou para Brasília. Isto aqui está se transformando numa ratoeira”; a decolagem, do Avro, ocorreu às 12.45 horas.
Jango ficou em Brasília o tempo suficiente para notar que trocara de ratoeira.
Às 22.30 horas, em outro Avro, Jango voou para Porto Alegre, com o objetivo de organizar a resistência e defender o poder legal.
Enquanto Jango voava para o Sul, o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, baseado em fatos e no regimento, declarou vaga a Presidência da República e, já na madrugada de 02/04/1964, deu posse ao presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, como sucessor de Jango.
De Porto Alegre, às 11.45 horas, Jango voou para São Borja, onde permaneceu até 04/04/1964, quando se exilou no Uruguai.
A posse de Mazzilli foi inconstitucional, porque ocorreu enquanto Jango se encontrava em território brasileiro, mas, na ocasião, quem poderia se preocupar com essa fantasia jurídica?"

Prezado Roberto Benévolo
Fatos sem documentação dos quais restam somente testemunhos orais, sempre geraram controvérsias. Me causa surpresa a precisão de suas informações, o senhor dá a hora e os minutos dos acontecimentos. Não sei a fonte das quais provém. O fatos que se passaram no Brasil desde a renúncia de Jânio Quadros até o movimento militar, os estudo através se ilustres brasilianistas, haja vista que a mim só interessam os fatos e não a tendência de quem os está relatando. Cito para o senhor um dos mais abalizados historiadores que se dedicaram aos estudos Latino-Americanos, John W. F. Dulles (Universidade do Texas – Austin).
É óbvio que Goulart, não tinha outra solução se não deixar o país, pois seu cargo já estava perdido. Mas como o senhor conta dá a entender que quem derrubou João Goulart tenha sido Auro de Moura Andrade, pois quando deu posse a Mazilli o presidente legalmente eleito estava no país.
Pois é, a informação que tenho é que de fato estava em São Borja, na fronteira, a espera do “bogotazo” (embate entre a massa popular e a polícia em Bogotá, Colômbia – 1948) que lhe prometera Leonel Brizola, que não chegou nunca, assim o presidente dos Estados Unidos do Brasil (na época) deixou o país indo para uma fazenda de sua propriedade no Uruguai.
No que concerne a deposição de Goulart, posso lhe dar meu testemunho. Eu estava do Palácio Guanabara, desde o dia 30 de março. No dia 1° de abril chegaram 3 carros de combate do Primeiro Exército aderindo ao movimento. Lacerda estava em seu gabinete quando tocou o telefone, o que foi uma surpresa geral pois os telefones não estavam funcionando desde o dia 30, quem atendeu a chamada foi o major Ney Travassos da PM, passou o telefone a Lacerda dizendo-lhe
- É o dr. Ademar de Barros ligando de São Paulo. (era o governador)
Pelos que os dois conversaram deduziu-se que Goulart havia “fugido” deixando o país. Outra coisa que deve ser levada em conta, é a dificuldade de comunicações da época.
Para finalizar, toda a derrubada de um presidente eleito é inconstitucional, assim foi a Washington Luiz, (1930), Carlos Luz e Café Filho “1955” esses dois últimos impedidos pelo poder legislativo, que o fez pressionado “manu militari”.
Portanto sua contestação ao artigo carece de documentos comprobatórios, pois estes não existem e assim, cada um pode dizer o que bem entender.
Finalizando, o preciosismo sobre a saída de Goulart, em nada interfere no assunto que trato no artigo "Vamos Prender Todos"
Agradeço por ler-nos. Atenciosamente
Giulio

2 comentários:

Anônimo disse...

Prezado colunista Giulio Sanmartini:
Agradeço sua atenção ao meu comentário ao artigo “Vamos Prender Todos ...”, de 22/08/2007 02:41:00 AM.
As informações que lhe encaminhei estão no capítulo “O Exército acordou revolucionário”, do excelente livro “A Ditadura Envergonhada”, de Elio Gaspari, editado por Companhia das Letras, em 2002 (ISBN 85-359-0277-5).
O mesmo autor também relata a chegada de cinco carros de combate (tanques) do 1º Regimento de Reconhecimento Mecanizado, sob o comando do tenente Freddie Perdigão Pereira, enviados para o Palácio Laranjeiras, para darem proteção ao presidente João Goulart, que, na ocasião, já havia voado para Brasília; convidado a aderir ao movimento, o tenente dispensou um dos tanques, com sargentos leais ao governo, que retornou ao quartel; com os restantes quatro tanques, o tenente seguiu para o Palácio Guanabara, antecedidos por um automóvel Volkswagen, em cujo estribo estava o major Alcides Etchegoyen; no livro, está literalmente escrito: “Em questão de minutos criou-se a lenda heróica segundo a qual aqueles tanques, sob o comando do major, salvaram o Guanabara, Lacerda e o Brasil.”
Atenciosamente,
Roberto de Barros Benévolo

Anônimo disse...

Caro Giulio, sem entrar no mérito da questão. Gostaria de dar uma pequena contribuição a essa discussão que muito me agradou! É o livro do Professor Maco Antonio Villa da UFCAR "Jango um perfil 1945-1964"