18 de set. de 2007

Indignação

Por Ralph J. Hofmann

Nos últimos dias, tendo eu publicado um artigo em tom sarcástico sobre a situação ética e moral do senado recebi comunicação de um anônimo dizendo que não gostara do conteúdo, contrário ao atual governo, mas apreciava a maneira que foi escrito e copiaria trocando os alvos do sarcasmo.
Contestei publicamente a comunicação desse anônimo (via Blog P&P) ponderando ser o que eu podia esperar dos adeptos do atual governo, que se apropriam dos resultados de boas idéias alegando serem suas, o que não deixa de ser um latrocínio. Fui acompanhado nisto por alguns leitores e por Giulio Sanmartini que ponderou que independente de autorização há pelo menos um fator de cortesia ao escritor.
Enfim, fomos acusados de fazer uma tempestade por pouca coisa e o próprio gatuno em potencial escreveu anonimamente dizendo que tínhamos perdido a “esportiva”. Estávamos levando tudo muito a sério.
Fiz um exame de consciência sério. Escrevo para ajudar a dirigir este país para o tipo de lugar em que gostaria de ver meus futuros netos e bisnetos prosperar. Não tenho vantagens pecuniárias com isto. Sei que o povo brasileiro no total é um dos melhores do mundo, mas essa história de perder a esportiva me saltou aos olhos. O que há de errado aqui?
Cresci numa fusão de princípios europeus com tradições gaúchas. Meu pai me ensinou que aquele que não abre a boca para protestar tem tanta culpa quanto aquele que infringe os direitos e integridade dos outros. Quem cala consente e quem consente faz parte do problema.
Já meus mestres gaúchos me ensinaram que não se leva desaforo para casa. Que podemos dar um boi para evitar uma briga, mas que tendo entrado na briga se dá uma boiada para não abandoná-la. Ou seja, o gaúcho defende ferrenhamente seus princípios. Vejam, a Revolução Farroupilha. Apenas terminou quando seria suicídio continuar. A Província estava exaurida. Foram dez anos.
O gaúcho dos anos de 1930 para cá tornou-se mais ponderado. É um povo moderno, e não degolaria hoje seus inimigos indiscriminadamente. Não é mais um povo que sentado num cavalo resistente, com uma adaga prateada e um revólver 44 na cintura, um rifle na sela, um naco de charque e um pouco de feijão no embornal pode ficar meses no pampa acossando seus inimigos. Aderiu à indústria, à agricultura e pecuária racionais, industriais.
Isso é o lado bom, e o mau do desenvolvimento de um povo. Onde está o gaúcho que teria degolado um membro do MST que lhe invadisse as terras e decepasse as pernas de sua vaca matriz premiada, por puro terrorismo? Que anos de trabalho de genética animal sejam sucatados para que invasores façam um churrasco? Onde está o piquete de cavaleiros que tendo suas terras invadidas ilegalmente pela quinta ou sexta vez alijaria os invasores na ponta de lança e no fio da adaga? São civilizados demais.
E o que dirá do resto do país. Realmente hoje o Brasil é um país de pessoas respeitadoras da lei. E por ser um país respeitador das leis, é vulnerável a governantes, negociantes de drogas, assaltantes de banco, assassinos, policiais corruptos violentos e estupradores que se aproveitam de uma sociedade, que, apesar de evidências em contrário ainda espera proteção do governo contra os que a acossam.
Defender o certo contra o errado virou “falta de esportividade”.
Não defender o certo contra o errado é, sinceramente “falta de indignação”. Este país está precisando de uma santa indignação. Aquela indignação que faz um soldado esquecer a metralha do inimigo e avançar de peito aberto para defender aquilo no que acredita.
Não me peçam para ter “esportiva”. A hora da esportividade já se foi há muitos anos atrás. Estou curtindo a minha indignação, e sugiro que outros curtam a sua indignação.

Um comentário:

ma gu disse...

Alô, Hofmann

Só aproveitando sua inserção para mandar um recado. A Isto É (ou quanto é, como disse um comentarista) publicou esta semana, acho, uma explicação do porque da ausência da carteira da OAB para sua filha.