24 de out. de 2007

A Corna Feliz e o monóxido

Por Adriana Vandoni

Lá se vão quinze anos... Fui certa vez a uma festa, daquelas de Lulus e Dudus, e me sentei em uma roda de mulheres, naquele esquemazinho onde os homens ficam de um lado e as mulheres de outro. Pois bem, se meu destino era esse, lá estava eu resignada, mais escutando todo o bate-papo entre as queridas. Os temas iam de ginástica, regime, moda e festas, à política, este tema en passant, é verdade. O papo estava bem interessante até que o assunto descambou para a atividade física da época: caminhadas matinais na Avenida Perimetral, era um must!, daí uma da roda disse:
- Ah, eu não faço mais minhas caminhadas pela manhã. Deus me livre!!!
- Porque Dulce Mariah Lozano de Albuquerque Ferreira, querida? Tenho mesmo sentido sua falta por lá, querida.
E eu lá, assuntando aquele papo das queridas.
- É que o Ernesto Roberto de Albuquerque Ferreira, meu marido, me contou que faz um mal danado.
Nessa hora eu vi que ia ter que interferir na conversa, não tinha outro jeito. O marido dessa querida era um famoso galinha sem vergooonha sabe?, daqueles que aprontava na maior cara dura. Eu tinha que saber o motivo, tintim por tintim e perguntei:
- É mesmo, querida? Ele disse que faz mal? Que interessante. Porque, hein?
- Ele me explicou que essa caminhada logo cedo, no horário em que as pessoas estão indo pro trabalho é ruim, porque a gente fica inalando muito monóxido de carbono que sai dos carros. Daí eu parei de caminhar. Ele caminha, mas sabe né?... o Ernesto Roberto quer me proteger de tudo...ele é super-protetor, e me ama taaaanto...
- Sei, entendi, querida!
Gente, isso foi o máximo que consegui responder. Ta, vá lá, ela vivia feliz daquele jeito. Fazia compras que era uma barbaridade! Olha, se aquela mulher gastava mesmo tudo que tava contando... Bem, não seria eu a cortar o seu destino, não é mesmo?
Pois bem, os anos se passaram e eu encontro novamente o que julguei já não existir na face da terra, outra Dulce Mariah Lozano de Albuquerque Ferreira.
A Assembléia Legislativa de Mato Grosso é a mais nova Corna Feliz do pedaço.
Imagine que ela, a Assembléia, estava esperando a volta do governador Blairo Maggi ao estado, para pedir sua autorização, repare, pedir autorização!, para instaurar uma CPI que pretendia investigar os incentivos fiscais concedidos pelo governo dele, Blairo Maggi. Ou seja, o investigador pedindo autorização para investigar o investigável! Só rindo!!!
Acontece que alguns deputados descobriram que além dos incentivos fiscais para a soja, o governador concedeu incentivos para a população comprar jatinhos. Ha, ha, ha, essa é muito boa. Nossa!, fiquei até tentada. Tô até pensando aqui... vou entrar nesse programa aí, comprar um jatinho e tchan, tchan, tchan, tchan... alugar para a TAM! Preciso contar uma coisa....ah, deixa pra lá...
O autor da idéia da CPI dos incentivos, deputado Percival Muniz (PPS), nomeou o absurdo da “sangria” aos cofres públicos de “farra dos incentivos fiscais”. Já o deputado que preside a Câmara Setorial que acompanha a concessão de incentivos concedidos pelo estado, José Carlos do Pátio (PMDB), disse que 20% do orçamento estadual, isto é, cerca de R$ 1,2 bilhão, está comprometido com incentivos fiscais. Pôôtaquepariu!!!! Um bilhão e duzentos milhões!
Pois bem, feito o pedido de autorização, Blairo Maggi respondeu:
- Se quiserem investigar, podem, mas é uma pena, pois com isso Mato Grosso perderá em torno de R$ 5 bilhões em investimentos.
Não entendi o que tem a ver o fiofó com as calças, só sei que já estou até vendo os deputados dando entrevistas:
- Ah, bom!, se Mato Grosso vai perder, então é melhor nós não investigarmos.
Conclusão? A Corna Feliz da Assembléia não quer inalar monóxido de carbono.
Vô te contar, hein!!! Ô raça!!!

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