24 de out. de 2007

A firma

Por Ralph J. Hofmann

(não tem nada a ver com “A firma” de John Grisham)
O jovem de 27 anos, portador de um MBA ainda cheirando a tinta entra no gabinete da presidência daquela imensa firma (135.000 funcionários espalhados por 40 países.).
O CEO não apenas o recebe como levanta de sua cadeira e dá a volta àquela mesa maior do que uma piscina olímpica, cumprimenta-o e leva-o (caminhando sobre um tapete tão suntuoso que os pés parecem afundar dez centímetros a cada passo) a um conjunto de poltronas.
“Bem meu rapaz! Vamos tratar de seu futuro. Seu estágio foi fenomenal, você passa a ser um dos nossos. Vamos agora designa-lo para sua primeira posição na empresa.”
O jovem gagueja: “Estou feliz e honrado Sr. CEO”.
“Você fez por merecer meu jovem, você fez por merecer! Mas agora vamos aos fatos, você vai ao Brasil como Vice-Presidente da nossa filial lá. Vai descobrir por quer aquilo é um tiro n’água de depois colocar ordem naquele galinheiro. Não estamos conseguindo progredir lá. Se vencer este desafio vai ter um grande futuro.”
Passam-se seis meses. O Jovem vem para a sede fazer seu relatório verbal. Na chegada informa ao CEO que não poderá fazer seu relatório na sede da firma. Sugere um encontro à meia noite no mirante do Grand Canyon, de onde é possível enxergar muitos quilômetros em cada direção. Sugere ainda que isto ocorra durante uma ventania para evitar equipamentos direcionais de escuta.
O CEO chega de limusine Lincoln Continental, e num primeiro momento não vê o jovem. Mas de repente este aparece vindo do deserto, montado num jipe antigo. Imediatamente diz ao chefe: “Preferia que não tivesse vindo nesse veículo, chama muito a atenção. O Departamento do Comércio ou o FBI podem tê-lo seguido.”
“Quanta paranóia meu jovem, por que todo este segredo, o que você andou fazendo?”
“Boss, o negócio é o seguinte. Ainda não fiz nada. Mas o que temos de fazer no Brasil para ter sucesso ...”
“Sim, o que você encontrou? Quem é nosso concorrente que evita que deslanchemos. A Consolidated Applepies, a Jetons de Suisse, a Svenska Imperial Industries, todos eles juntos?”
“Não senhor, é o José de Arimatéia do Cerrado da Silva.”
“Quem é esse? Algum conglomerado novo da Espanha ou de Portugal.”
“Nada disso senhor. É um sujeitinho que mantém um galpão encostado na favela. Quando precisa produzir pega um produto nosso, copia e manda dizer na favela que precisa de operários. O pessoal desce, ele paga o pessoal para trabalhar, não recolhe impostos, não paga direitos, compra os insumos sem nota ou com meia nota e tem um jeito de esquentar os produtos que entrega. Quando não tem trabalho o pessoal volta para a favela e espera até ser chamado de novo. Quando há concorrências públicas ele espalha algumas benesses e ganha.”
“Mas os estudos de mercado que consultamos antes de construir no Brasil indicavam ....”
“Senhor, no Brasil as vezes eles fingem que fazem o estudo e os que consultam o estudo fingem que acreditam.”
“E há o que fazer?”
“Bem, por isto esta reunião secreta. Se eu espalhar dois milhões de dólares no sistema consigo que prendam esse seu José de Arimatéia, tomem suas máquinas, etc. Podemos também comprar algumas concorrências.”
A reunião termina. O Jovem executivo volta ao Brasil e uma semana depois recebe um telefonema sugerindo que deve estar no Cristo Corcovado às três da tarde. Lá recebe uma mala com dois milhões de dólares e a palavra código DDAY que dispara a operação.
A empresa deslancha e em dois anos torna-se a mais rentável do grupo.
Cinco anos depois o CEO e o Jovem Executivo, hoje não tão jovem, se encontram no camburão que os levará para serem julgados.
“O que deu errado meu jovem?”
“A Svenska Imperial decidiu entrar no Brasil e pagou melhor pelas nossas autoridades.”

2 comentários:

ma gu disse...

Alô, Ralph.

Estás te excedendo na criatividade. Seria maravilhosa caso fosse uma fábula. Neste caso, é uma tragédia...

Ralph J. Hofmann disse...

Magu

Conheço o José de Arimatéia.
Ficou riquíssimo.