24 de out. de 2007

Procura-se um presidente para o Bordel

“O Senado tem de deixar de ser catedral na frente e bordel nos fundos”
(Bernardo Cabral)

Por Pedro Oliveira - Jornalista e presidente do Instituto Cidadão

A frase acima foi proferida pelo então senador e ex-ministro do governo Collor, Bernardo Cabral e está no meu livro “Arquivo Aberto-Crônica de um Brasil Corrupto”. Só que hoje, para a opinião pública brasileira ela está totalmente ultrapassada. Para que o senado seja identificado como tal, “bastam a placa e a luz vermelha”, segundo ironizava um integrante da oposição com o qual conversava esta semana em Brasília.
Lula leva à risca a frase de Cabral e o seu próprio conceito do Legislativo Brasileiro. Em função disso já está tratando de “escolher” nomes para substituir Renan Calheiros na presidência do Senado, numa intervenção grosseira, muito bem ao seu estilo, em um poder que deveria ser independente se moral e vergonha tivesse.
A base aliada do governo e o próprio presidente já têm a saída de Renan como consumada. Em um encontro mais ou menos intimo com alguns lideres governistas, lula chegou a usar expressões nada elogiosas ao recente aliado e profetizou: Renan acabou!
Após essa conversa Lula teria dado sinal verde e até “indicado” nomes para ocupar a presidência do Senado que continuaria como “apêndice” do Poder Executivo.
Como conversa com mais de três não consegue manter-se em segredo as reações em alguns setores do Congresso foram violentas e até ameaçadoras. Uma das maiores lideranças do PSDB foi enfático: “Bordel e casa de mulher dama pode ser lá o Palácio e o governo dele, podre, corrupto e marginal. Aqui ainda tem homens de bem e vamos mostrar isto ao Brasil, que nos cobra uma assepsia ética que não pode deixar de acontecer”.
O senador Garibaldi Alves Filho (PMBD/RN) comentava na tribuna a sua decepção com a avaliação dos jovens sobre os políticos brasileiros. Segundo dados da pesquisa feita pelo jornal Tribuna do Norte 68% dos universitários ouvidos são descrentes da classe política e mitos destes não se sentem nem estimulados a tirar o titulo de eleitor. É uma apatia perigosa por conta dos casos de corrupção no Senado e os indícios de impunidade para os políticos.
Outros senadores também demonstraram um elevado grau de preocupação com os rumos do Senado e a escolha do presidente que vai substituir o “cadáver insepulto” de Renan Calheiros. Alguns chegaram a apelar ao PMDB (dono da vaga pela posição majoritária da sua bancada) advertindo dos cuidados que se devem ter com a mudança, para não levar a Casa a uma grave crise, com conseqüências imprevisíveis.
O senador Cristovam Buarque foi enfático contra a anunciada interferência do governo na escolha do nome para a presidência. Disse que a decisão do PMDB precisa ser tomada antes que a escolha seja feita pelo Palácio do Planalto. “Faço um apelo ao PMDB para que assuma a sua responsabilidade histórica e escolha alguém que não representa o continuísmo do que está ai. O novo presidente não deve nem pode ser um apêndice do Palácio do Planalto, nem submisso ao Poder Judiciário”.
Disse ainda Cristóvão que “o Senado é uma instituição doente e que estão querendo matá-lo. O PMDB, porém não pode indicar qualquer nome que representa o mesmo de hoje, sob pena do direito dos partidos reagir e escolher outro que traga mudança”.
Alguns nomes começam a ser indicados como símbolos da honradez e das mudanças que o senado precisa na busca de reconquistar sua credibilidade perdida. O senador Mão Santa lembrou o nome de Pedro Simon, que foi recebido com muita receptividade e algum da base podre aliada ao governo ousou citar o nome do senador licenciado e atual ministro das Comunicações (que seria um dos preferidos de Lula) Hélio Costa, que foi rechaçado de imediato.
O PMDB tem uma grande responsabilidade com a história e com o seu futuro e também o do Senado. Não pode jogar na lama de vez o que ainda pode restar da instituição. Tem nomes capazes de cumprir esse papel e sepultar o presente destroçado pela corrupção e negócios sujos protagonizados por figuras que precisam ser banidas da política nacional.
Está na hora de prevalecer o PMDB histórico de Ulisses Guimarães, Teotônio Vilela, Tancredo Neves, Ramez Tebet,Pedro Simon e tantos outros. Está na hora de escolher um presidente digno para o Congresso Nacional. E a escolha não pode parecer que é para a presidência de um bordel!

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