24 de out. de 2007

Que é isso, secretário?

Por Fabiana Sanmartini

Quando ainda no episódio do Complexo do Alemão foi anunciada a invasão da Rocinha pela polícia eu falei que seria mais branda do que a vivida nas comunidades do Complexo. Alguns discordaram, colocando que eu estava sendo preconceituosa e que os moradores dos bairros mais “privilegiados” apoiariam a polícia e que seria tudo igual. Alguns meses depois... 'Um tiro em Copacabana é uma coisa. Na Favela da Coréia é outra', esta é a declaração que estampa os principais jornais do país, dada pelo secretário de segurança do Rio, José Mariano Beltrame (foto).
Não pelas críticas, estas sempre são bem vindas quando fundamentadas, coerentes e construtivas. Você já imaginou a polícia entrando pela porta da frente do Sacre Coure de Marie em Copacabana, do Santa Marcelina no Alto da Boa Vista, São Bento no Centro da Cidade, São Paulo no Leblon, Anglo Americano na Barra de fuzil em punho, atirando antes e perguntando depois, sem ligar para os carrões parados nas portas, ignorando as crianças que estão em hora de recreio, entrada ou saída! Vale deixar claro ao secretário que ninguém mora em zona de risco por opção, normalmente é pela falta dela.
E que, caso não tenha percebido, o Rio tornou-se por inteiro área de risco. E fica claro que os “peixões” estão fora das comunidades. Nas comunidades ou mesmo em volta delas moram cidadãos que pagam impostos, trabalham, estudam... O respeito à vida nada tem a ver com o endereço de residência. Se as ações da polícia são planejadas pela inteligência conforme a declaração do próprio secretário, qual a diferença entre a Rocinha (São Conrado), o Santa Marta (Botafogo)... E o Complexo do Alemão, a Coréia? O tráfico precisa ser combatido com firmeza, mas acima de tudo com inteligência, poupando a vida do cidadão de bem. Quando é usada a estratégia os noticiários mostram que as apreensões, tanto de armamentos quanto de drogas, são muito maiores. Poupa-se a vida não só do morador mas também do policial que trabalha em área de risco. Respeito à vida é em qualquer bairro. Vida é vida, independente da conta bancária, da profissão, do credo, da cor da pele...

Leia a matéria em O Globo online

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