16 de out. de 2007

É só uma questão de ótica.

Por Adriana Vandoni

- Alô, Adriana? E aí, tudo bem?
- Oi, Bete, tudo bem e você? O que anda fazendo, menina?
- Tô bem, aqui naquela correria danada de redação, menina!, meu trabalho dobrou depois que assumi a coluna gourmet, meu trabalho e meu peso, né amiga!?! Ai que saudade da editoria de esportes!!! Mas olha, não podia deixar de te ligar. O que tá acontecendo com você? Estou preocupada.
- Comigo? Uai, sei lá o que tá acontecendo comigo. Está tudo bem, por quê? Nossa, mas pra que tanta preocupação?
- Tô estranhando que você não escreve mais sobre Lula, daí eu pensei: alguma coisa aconteceu com ela. Você tá doente, foi ameaçada, ta sendo processada? O que aconteceu, minha filha?
- Hahahaha, claro que não. Mas você tem razão, há tempos não escrevo sobre Lula. Sabe o que é? Cansei! Lula esgotou toda a minha reserva de paciência. Ele me insulta tanto com sua boçalidade!!!, a última agora é dizer que está aprendendo a construir uma democracia com exemplo do Congo! Do Congo, Bete! O presidente de lá está no poder desde 79 através de dois golpes!, e este “homi” me enaltece a DE-MO-CRA-CIA DO CON-GO! Daí eu tomei uma decisão: este “homi” não vai mais interferir na minha produção. Você se lembra quando estávamos lá na FGV que todo dia encontrávamos aquele garoto levando água ou algum equipamento pra sala de aula? E quando encontrávamos com ele logo cedo, no elevador? Você se lembra que sorríamos e ele não movia um só músculo do rosto? Lembra?
- Claro que me lembro daquele insuportável! Aquele garoto era um cavalo. Mas você era a única que todo dia quando ele passava dizia - Bom dia, fulaninho! Tudo bem? Como foi seu fim de semana? E isso e aquilo. Não sei quem me irritava mais, o garoto cavalo ou você com súbito ataque de simpatia.
- É verdade, vocês ficavam furiosas comigo! você lembra que um dia a Carlinha perdeu a paciência e brigou comigo? Ela perguntava: por que você faz questão de falar com esse garoto? É pra me irritar? Ele é um grosso, antipático. Meu sangue chega a ferver só de olhar pra cara dele.
- Ai, eu me lembro disso! A Carlinha tava P da vida com você. Mas porque você insistia em falar com aquele desagradável? O que tem aquele garoto com Lula? É filho de Lula?
- Claro que não Bete, ah, também se for, sei lá. E eu estou lá preocupada com quem é filho de Lula ou deixa de ser? Já me basta Renan que além de nos fazer bancar sua filha, ainda nos deixou de herança sua amante que afirma nem saber que era uma amante. Ela acreditava que ele estava separado! Céus, a bichinha tem quarenta anos de praia, jornalista rodada e escolada, mas não sabia que ele era casado!!! Bem, mas o negócio é o seguinte, todo dia que encontrávamos com o garoto logo cedo, vocês ficavam neurastênicas, irritadas e chatas.
- Mas também, encontrar com aquilo logo cedo!
- Eis o motivo, Betinha. Naquela época eu decidi não permitir que aquele garoto cavalo definisse como seria o meu dia inteiro. Entre ele me contagiar com seu mau humor, preferi eu irritá-lo com minha insistência. No começo ele nem olhava pra mim. Depois de um tempo ele passou a levantar levemente um das sobrancelhas, depois passou a contrair um canto da boca. No final do curso ele já tava tão meu amigo que me levava água geladinha na sala, lembra?, então, ele até me desabafou sobre seu amor pelo ascensorista!
Entendeu agora Bete?, o motivo de ter parado de escrever sobre Lula? Lula possui uma idiotia que contagia, igual o garoto com sua cavalice. Meus textos foram aos poucos empobrecendo quando Lula era o assunto. Como não estou tão próxima a ponto de tentar educá-lo, resolvi desprezá-lo. Mas não posso permitir que Lula me faça idiótica. Afinal, só mais três anos e estamos livres dele.
- Isso se ele não partir pra um terceiro mandato. Já pensou nisso?
- Sim, pensei. Mas quer saber? Confio na improdutividade deste congresso nacional.

Um comentário:

ma gu disse...

Alô, Adriana.

Já deves ter muito material para seu livro, que até me atrevo a sugerir um título: "Causos".