9 de nov. de 2007

Até urubu tem medo de voar

Por Chico Bruno

Nos anos 50, o Brasil tinha aéreas à mão cheia. Pannair, Real Aerovias, Loíde Aéreo, VASP, Cruzeiro do Sul, Varig, NAB, Sadia, entre outras. A Varig desejosa pelo monopólio foi comprando às aéreas menores. Com o golpe militar de 1964 conseguiu que os milicos encerrassem as operações da Pannair do Brasil, a maior aérea da época. Mais adiante adquiriu a sua a maior concorrente à Cruzeiro do Sul.
A partir daí passou a ostentar o monopólio da aviação civil, deixando para a estatal VASP e a Sadia as migalhas.
Durante anos, a música tocou assim. A Varig era quem ditava as regras da aviação civil brasileira.
Como quem, com ferro fere, com ferro será ferido, a Varig, devido à gestão descontrolada quebrou. Antes dela quebraram a Transbrasil (sucessora da Sadia) e a VASP (já privatizada).
Isso tudo aconteceu na aviação civil sem que as sucessivas administrações federais tomassem qualquer providência. O saco de problemas foi enchendo e acabou transbordando no governo Lula, que ousou criar a Anac, coisa que FHC não teve coragem de fazer.
Hoje estamos nas mãos de duas grandes empresas aéreas: TAM e Gol. Existem coadjuvantes como a Web Jet, a OceanAir, a Nova Varig (controlada pela Gol) e várias aéreas regionais, como a Trip, Rico, Pantanal, Passaredo, haja vista que BRA, a terceira empresa do país, parou de voar, demitiu 1.100 funcionários e deixou um passivo de 70 mil passagens aéreas vendidas.
Aliás, só as autoridades federais não sabiam que a BRA estava prestes a encerrar suas operações, pois meio Brasil já sabia.
O mais grave de tudo isso é que os maiores culpados pelos cancelamentos e atrasos de vôo são a Anac Infraero e os Cindactas, pois as aéreas, que nos restam, precisam dos serviços destes órgãos federais, que geralmente os prestam de maneira pouco eficiente. Eis um exemplo:
Galeão 10h30min do dia 7 de novembro. Passageiros do vôo 1600 da Gol para Salvador descobrem que não irão mais embarcar pelo portão cinco e sim pelo portão remoto R5. Aí, a aérea informa que está esperando que a Infraero disponibilize os ônibus que vão transportar os passageiros ao avião. O vôo que partiria as 11h00min começa a atrasar. Finalmente, depois de trinta minutos os ônibus aparecem. Todo mundo acomodado na aeronave, embarque encerrado, o comandante avisa que agora depende dos controladores de vôo para iniciar o procedimento de decolagem. Moral da história. Quarenta minutos presos no avião que decola com uma hora e meia de atraso para Salvador.
Isso deixa claro que o maior problema do caos aéreo é a ineficiência dos serviços prestados pelos órgãos do governo federal. Enquanto isso, o ministro responsável pela área alisa cobra sucuri para deleite dos repórteres fotográficos. Do jeito que vai até urubu está com medo de voar.

Um comentário:

Abreu disse...

.
Adriana,

Já ouví de 'especialistas' que mesmo considerand nossa extensa aéa territorial, quando se trata da existência de companhias aéreas, queremos ser diferentes doresto do mundo.

Po que tal comentáio? Pois é. É que les consideram (ao que parece, corretamente) que devido às condições sócio-econômicas da população não haveria mercado para mai do que uma companhia aérea sem que houvesse uma competição predatória enre elas (devido as altíssimos custos fixos a que elas se submetem).

Como comparação (e não saí para tentar "desmentí-los"), citaram que só USA, Japão, China e ou outro país (além do Brasil) — e todos do 1º mundo, com população de elevado poder eonômico — teriam mais do que uma ou duas companhias aéreas de porte canibalizando-se para atrair o mercado.

Assim sendo, fico 'a pensaire' se "esses caras" não estão mesmo com a razão da história?