15 de jan. de 2008

Ao pé da Lei

Por Eduardo Mahon – advogado em Mato Grosso e Brasília

Parabéns!
Vamos dar a mão à palmatória para o presidente do TCE-MT, JC Novelli. Depois de tantos anos e mandatos, o Tribunal enfim abriu concurso para procurador do Ministério Público. Um rápido lobby foi rabiscado, mas a lei prevaleceu e, no futuro próximo, teremos auditores substitutos e procuradores, com todas as garantias necessárias para o desempenho da função técnica e jurídica, com menor participação de fatores políticos nos julgamentos de contas públicas. É isso aí – concurso: quem é bom, passa; quem não se preparou muito, vai tentando e boa sorte! Portanto, vão aqui efusivos parabéns.

Arcanjo
A imprensa tem criticado enfaticamente o retorno de João Arcanjo Ribeiro a Mato Grosso, sem que tenha sido ouvida uma única testemunha. É que o juiz do caso entendeu por bem resguardar uma das garantias de defesa – intimações com tempo mínimo – para desmembrar o processo, gerando mais celeridade. Talvez a providência não tenha sido a melhor, não no que concerne às garantias (que devem mesmo ser preservadas), mas ao deslocamento precipitado do acusado, gerando enorme desgaste e custos inerentes à operação montada que, venhamos e convenhamos, é um circo.

Indústria
Que há uma indústria da indenização moral, isso todos já sabiam. Mas a gula sobre a boquinha é de espantar. Foi o caso do promotor Thales Ferri Schoedl que levou um puxão-de-orelha do desembargador Francisco Loureiro: “fiquei perplexo com a voracidade do promotor de justiça que num primeiro momento se rebelou contra a violação de direitos fundamentais à honra, privacidade e imagem, para logo em seguida, tentar de modo primário abocanhar multa indevida”. É brincadeira, não? O Judiciário precisa desenvolver uma sintonia fina a captar “armações” para cavar uma mesada.

Disque MP
Existem determinados trocadilhos infames. É o caso do “disque MP para matar”, aludindo além da afamada película, o fenômeno dos quatro últimos homicídios perpetrados por promotores. Não custa repetir: ninguém deve ser melhor, nem pior, nem mais honesto, nem mais corrupto. Promotores são cidadãos comuns e não merecem essa agulhada a mais. Eis a lógica do sistema constitucional e é bom aprender para não dar tiro no pé: sem sentença condenatória definitiva não há se falar em culpa formada. Mas...na prática: estaria solto um cidadão que tivesse dado tiros num promotor?

Ponderação
Não concordo com os que acreditam haver “licença para matar” para determinados servidores públicos que têm acesso às armas de fogo, assim como também não acredito haver qualquer desequilíbrio no que concerne ao uso indiscriminado, face aos crimes pontuais que marcam a instituição. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. O que abusa das prerrogativas deve ser punido, não nas fogueiras da mídia, mas como qualquer outro cidadão e com as garantias que lhes assiste. Penso não haver qualquer relação entre a imagem e credibilidade institucional do MP por fatos isolados. Não pensamos com a lógica do marketing, quando o caso é de natureza jurídica.

Novas Perspectivas
Com mais ênfase a cada dia, a norma jurídica integra as decisões de caráter político e este fato não deixa de ser relevante. Antes de 1988, os políticos pouco de importavam com o caráter jurídico das próprias gestões governamentais, fixação de impostos e alíquotas, procedimentos eleitorais, ambientais, fusões e aquisições, enfim, uma vida desregulamentada, moldada com arbítrio excessivo. Com a promulgação da Carta de 1988, não só os parlamentares, mas também o executivo sofreu enorme modificação nos mecanismos de decisão e gestão da coisa pública. O governo Fernando Henrique Cardoso legou ao Brasil a lei de responsabilidade fiscal, um dos maiores avanços democráticos após o próprio texto constitucional, implementando medidas de prevenção, contenção e punição. E o Judiciário, percebendo o jogo político favorável às omissões, começou lentamente a integrar lacunas com os mandados de injunção e decisões de caráter objetivo, ou seja, alargando para a sociedade os julgados em casos particulares.
O próprio Poder Judiciário está obrigado a tornar-se mais transparente e acessível ao cidadão, formatando novos juízes, também responsáveis e gestores do próprio aparelho burocrático, capaz de agilizar ou emperrar, credenciar ou desmoralizar a imagem desta fatia de poder republicano. O mesmo se diga quanto ao Legislativo, infelizmente atrasado nos quesitos comunicação, transparência, agilidade e honestidade.
Hoje em dia, partidos políticos ingressam com mandados de segurança para assegurar à minoria o seu direito de oposição e fiscalização do poder público, instalando comissões parlamentares de inquérito, direito de minorias até então pouco valorizado. Nesse passo, cabível também a ilustração das ações intentadas para conter o aumento nas alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras – IOF. Mesmo nos Estados, já começam os primeiros sinais de questionamento da gestão pública por meio de mecanismos jurídicos. É o mundo que muda e o Direito tornando-se indispensável para essa transformação.
As normas ligadas ao sistema de licitações públicas cada vez mais oferecem dificuldades para fraudes, muito embora haja lacunas de aproveitamento recorrente dos corruptos e empresas corruptoras. Como remédio, aprimorou-se o controle administrativo interno, as fiscalizações externas e auditorias independentes. Nesses tempos que mudam e diante da melhoria substancial na decisão política, por meio do cotejo do aparato jurídico, chamo particular atenção aos movimentos sociais que representam, a primeira vista, um sintoma positivo da organização da sociedade civil, e que estão se configurando como formas alternativas de promover captação ilícita do dinheiro público.
Muito embora o senso-comum já tenha se divorciado do pensamento idílico quanto ao MST, organização quase paramilitar de caráter partidário e revolucionário, ainda restam outras organizações menos conhecidas que se alimentam do romantismo ou da má-fé. Não há mais espaços para concessões gratuitas de dinheiro público sem a respectiva contrapartida comprovada e fiscalização rigorosa, ainda que os objetivos formais sejam os melhores possíveis. De boas intenções, o inferno está cheio.

2 comentários:

Anônimo disse...

Na atual quadra republicana, ajoelhado(a) (de joelhos, genuflexo) apenas e exclusivamente na parte inferior da Cruz que salva (a verdadeira, nunca a da Catedral de SP que recusa homens por doutrina de Estado, do Frei comunista - em Cristo tudo que viola os Mandamentos merece repudiado). O momento transcende o culto da legalidade (nada de lei acima de tudo, mas lei garantindo a vida social). Fazer como disse o cancionista: "se ajoelhou e em nome de Jesus voce jurou, jurou...). Distinta jornalista, Evite reverenciar a Lei. A luta tem que ser para o seu fiel cumprimento pela Toga. Iniciada, vai irradiada, na pedagogia do exemplo. A lei deve ser um espelho da vontade nacional, do povo que elege os representantes, mas no nascedouro (seja nas MPs ou no Congresso) tem violado os direitos individuais, a generalidade e a moralidade. A norma brasileira "amarelou"; tem oscilado nos Tribunais (vacilantes instantes de uns poucos, segundo noticia a imprensa ao longo dos anos, subservientes, amigos, premiados). O sistema legislativo nacional teima em viver o eterno ciclo da borracha... estica (como chicle). Retire a homenagem (imerecida; descabe premiar, salvo o ato de bravura - soldados, bombeiros, etc, o mero ato de dever), mantenha o atuar vigilante. Por que? Ora, desde 1988 que foi introduzida como regra obrigada o concurso para ingresso no quadro do Estado. Demoraram VINTE anos para aprovarem a conta da moralidade. Observe o resto da nacionalidade... haja cargo comissionado, terceirizado trabalho - inclusive com perda salarial, tudo para beneficiar A ou B (desde que tendo dinheiro, QI ou seja portador do "bichinho" corporativo). Confira o seu informe. O Procurador deve ser para quadro exclusivo do TCE, pois o MP de MT tem seu quadro independente, concursado e pode ser chamado para compor, mediante lista dos seus membros, os Tribunais. Registro feito com a mais profunda estima e para guardar de certeza a sua nota. A minha alma confessa pouco seus pecados e um local tem como abrigo o seu Blog, do Giulio and all. Todo brasileiro devia ler: "pálio sagrado sobre o qual palpita, a alma bendita do País da Cruz" (acento usado em respeito ao autor; versinhos nascidos em MT, de Dom Aquino, no primeiro quartel da corrida centurial de 1900 - 1901 a 2000). Veja que coisa mais linda... Vicejava em MT uma luta de civismo... Continua!

Anônimo disse...

Falou, falou e falou...e disse a mesma coisa.