26 de jan. de 2008

Belo trabalho, rapaz!

Por Adriana Vandoni

Desde que assumiu seu primeiro mandato Blairo fez questão de se diferenciar do produtor rural comum que estava assumindo um cargo político. Ele era mais que isso. Era o rei da soja, cargo que naquela época ocupava soberanamente. E foi exatamente em função desse reinado e dessa imagem cultivada por ele próprio, que hoje a soja e tudo que se produz em Mato Grosso têm a imagem ligada à devastação.
Claro que não foi Blairo Maggi o autor das derrubadas ou queimadas das árvores do estado, mas foi a inoperância e o desleixo do governador Blairo Maggi que permitiu que a situação chegasse a esse ponto.
Logo que chegou ao poder dava sinais inequívocos de que se importava pouco ou nada com os assuntos ambientais. Mas ainda existia a esperança de que ele representaria o campo e de que o que é bom para o agronegócio, é bom para o estado. Ao contrário disso, Maggi com uma vaidade que parece o entorpecer, marcou seu primeiro mandato pela produção de escândalos ambientais com dimensões internacionais. Em seu governo, e por sua culpa, tornou a imagem do estado ligada à devastação, à ganância que não respeita direito algum. Se antes o estado era visto como promissor, que crescia acima da média nacional, hoje nossa imagem é emporcalhada a cada novo relatório sobre o meio ambiente.
Qualquer boiota, sem precisar de satélites, de sensores ou de fajutas CPIs, sabia que algo estava acontecendo. No ano passado a população sofreu com queimadas atípicas, e o governador se defendia dizendo que não era ele quem estava “tacando fogo”. Concordo, mas essa justificativa chula e simplória não o exime da responsabilidade. Ou imagina que o aumento da violência no estado também não seja de sua responsabilidade, já que não é ele quem aperta o gatilho das armas?
É provável que o governador não tenha sentido o efeito das árvores sendo queimadas, pois passou 2007 excursionando pelo mundo para demonstrar toda a sua preocupação com a preservação ambiental. Tentava corrigir o estrago que já tinha feito, mas fazia isso no mesmo momento em que as chamas e o desmatamento descontrolado continuavam a destruição das florestas e da imagem do estado. Enquanto deixava instalado aqui a incompetência administrativa no setor, torrava o dinheiro público nessas missões oficiais inúteis. Blairo Maggi “cuidou” tanto da imagem do estado no mundo que não me surpreenderei se ocorrer um embargo aos produtos do estado no mercado internacional. Exagero? Basta ler as notícias dos jornais nacionais e internacionais: trabalho escravo, queimadas, desmatamentos, tudo ligado se não diretamente ao estado de Mato Grosso, ao nome Maggi.
Quem vai arcar com o prejuízo? Tenham certeza que será o produtor rural sem trono, o trabalhador do campo, o dono do mercadinho, a cabeleireira. O prejuízo ficará com aquele que produz.
Em sua defesa tivemos esse questionamento feito pela Sema, já manjado e utilizado em escândalos anteriores. “Sema discorda dos números do Ministério de Meio Ambiente (MMA) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)”. Todos de passo errado, só a Sema de passo certo, não é mesmo?
Mato Grosso perdeu o referencial, como me informou um experiente funcionário público ligado ao meio ambiente do estado, isso em outubro do ano passado, e ainda acrescentou que 2007 estava sendo o pior ano, desde 2004.
Todos sabiam que isso ou algo bem próximo a isso iria acontecer, até boiota sabia disso. No entanto, o governo e sua gaiola de papagaios amestrados, passaram o ano de 2007 brincando de fazer uma CPI do meio ambiente que não passou de circo, onde os interesses variavam entre derrubar ou segurar um diretor, um superintendente, um chefe de departamento que tivesse sido indicado por X pra colocar no lugar um indicado por Y. Politicagem rasteira e provinciana que não produziu nada e parou ainda mais a já parada Sema. Essas pessoas parecem não conseguir captar que controlar danos ambientais, mais do que se transformar em um “ecologeiro” a viajar pelo mundo repetindo eu amo as arvorezinhas, é preservar a imagem do estado.
O desmatamento é absurdo, desnecessário e está totalmente descontrolado. Deixar chegar ao ponto que chegou é criminoso. O governo federal está agindo corretamente, embora tardiamente. Continua com ações reativas e não preventivas.
O que revolta é a incapacidade e a postura delinqüente deste governo estadual que, sabedor do que estava acontecendo, posto que não é boiota, nada fez. E o governador Blairo Maggi ainda teve o descaramento de participar, no final de 2007, de uma conferência sobre aquecimento global em Bali, bancado pelos cofres públicos, claro.
Belo trabalho, rapaz! Mas sai logo daí, sai, que existe muito trabalho pela frente para desfazer o que você fez com a imagem deste estado.

Um comentário:

Anônimo disse...

''Queremos saber a serviço de quem o Inpe está mentindo''
Em entrevista exclusiva, governador contesta dados do órgão federal e diz que desmatamento caiu 20% em Mato Grosso
Os últimos dados de desmatamento na Amazônia do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) colocaram Mato Grosso contra a parede. Dos 3.233 km² de derrubada detectados pelo Sistema de Desmatamento em Tempo Real (Deter) entre agosto e dezembro, 1.786 km² seriam no Estado. Apesar de aliado do governo federal, Blairo Maggi (PR), governador de Mato Grosso e um dos maiores produtores de soja do mundo, foi responsabilizado pela ministra Marina Silva, do Meio Ambiente.

Nesta entrevista exclusiva ao Estado, por telefone, Maggi, de 50 anos, no segundo mandato, reage, contestando energicamente os números e lançando uma suspeita sobre o órgão federal: "O Inpe está mentindo a serviço de alguém." Ele ainda chama de "besteira" a suspensão de créditos, uma das medidas adotadas pelo governo federal: "Ninguém pega crédito para desmatar."
O que acha das medidas adotadas pelo governo, de suspensão de créditos e envio de força-tarefa?
Suspensão de crédito não muda nada porque ninguém pega crédito para isso. Nunca teve crédito para desmatar. Isso é besteira. Enviar agente policial para cá pode ajudar. Mas antes da Polícia Federal, podia ser o Exército, para uma presença preventiva. Tira esse povo lá do Rio de Janeiro, da fronteira da Amazônia, onde está todo mundo coçando o saco, e traz para cá."

Que tal uma intervençãozinha militar federal em MT, hein?